18/05/2024 - 6:50
As enchentes que começaram a afetar o estado do Rio Grande do Sul no final de abril e resultaram em mais de 150 mortos, mais de 500 mil desalojados, além de uma série de problemas para as empresas gaúchas.
Em entrevista exclusiva, Ricardo Portolan, diretor de operações comerciais, mercado interno e de marketing da Marcopolo, fabricante brasileiro de carrocerias para ônibus, afirma que apesar de fechar apenas dois dias suas duas fabricas em Caxias do Sul, ele teve que reaver rotas logísticas, prestar ajuda e monitorar fornecedores que ainda não retomaram à normalidade. As duas plantas contam com cerca de 10 mil colaboradores.
“No dia 2 de maio, por questão de segurança das famílias (dos colaboradores), decidimos liberar os funcionários e não seguir com os times nas fábricas.”
A empresa decidiu parar na quinta-feira, 2, e retomar na segunda-feira, 6, pouco tempo depois do início dos temporais na região. Depois, o executivo diz que a produção está “próxima da normalidade”.
Na questão logística, as rotas de acesso à cidade ficaram bloqueadas, principalmente nos dias em que ficou debaixo de chuva, até o início do mês. No entanto, Portolan conta que teve que adotar rotas alternativas, que inclusive seguem até hoje, mas já há uma melhora nesse sentido.
Agora, as rotas principais para Porto Alegre começaram a ser liberadas, como a RS-122, via Farroupilha.
“Estávamos com duas gestões de crise, uma focada nas pessoas e outra na estrutura física da empresa, por essa chuva que era incessante. Num segundo momento, fizemos a avaliação do fornecimento de materiais. E essa estamos fazendo 24 por 7. Não vemos a necessidade de uma nova parada de fábrica.”
Em relação à estrutura de instalações, ele relata que houve apenas um incidente em uma área que a calha não aguentou e vazou água. Mas, ao olhar de forma geral, as duas plantas foram pouco afetadas.
Fornecedores e concessionários de POA afetados
O diretor afirma que na região de Porto Alegre, o alagamento afetou fornecedores, rede de vendas, concessionários, parceiros e clientes da Marcopolo. Há empresas completamente embaixo da água e paralisadas.
“Temos mantido contato com eles, para ver de que maneira a gente pode ajudar também. Mas esse impacto dos fornecedores, dentro desses que estão colocados na região, temos alternativas, seja com eles, ou seja momentaneamente com outras fontes, para não ter um impacto maior em relação à nossa produção.”
Ele explica que a Marcopolo adota uma estrutura de estoque que a permite ter um bom fornecimento interno para a montagem.
As fábricas gaúchas fornecem para outras da companhia, como a do Espírito Santo e as do exterior e isso não foi afetado porque Caxias não foi ficou como Porto Alegre.
“Esse fornecimento não foi afetado, foram coisas pontuais e de dias no negócio Marcopolo. Eventualmente, vai ter um ônibus que vai demorar um dia, dois, ou mais para ser entregue, mas não é algo significativo.”
Ele não vê que a indústria de ônibus será afetada como um todo pela questão das enchentes. Esse ano, a previsão, segundo ele, é de retomada e de crescimento do mercado em relação ao ano passado. De fato houve uma alta de 64,8% na produção, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
A Marcopolo registrou um lucro líquido de R$ 316,9 milhões no primeiro trimestre do ano, o que representou um saldo positivo de 34,1% na comparação com o mesmo período de 2023.
Do total do mercado, R$ 1,2 bilhão corresponde ao mercado interno brasileiro, R$ 94 milhões são de exportações a partir do Brasil e R$ 339,2 milhões representam as operações internacionais da companhia. A empresa tem 51,9% de participação na produção brasileira de ônibus.
Fundação Marcopolo
Como auxílio à região, a Fundação Marcopolo destinou R$ 5 milhões em recursos próprios para atendimentos das famílias atingidas pelas enchentes. O valor será destinado “com base nas necessidades apontadas pela Defesa Civil e outras instituições, com o objetivo de viabilizar o recomeço das famílias mediante projetos estruturantes e emergenciais”.