Texto Flávio Silveira
Reportagem Raffaele Bonmezzadri e Luca Cereda
Projeção Pratyush Rout

Alemanha, Áustria, Itália… Um senhor com ar de empresário entra e sai de um Ford E-Transit customizado, atravessando a Europa em apenas três dias. Não se trata de um turista, mas de Jim Farley, o CEO da Ford. E o seu “mini Grand Tour”, recentemente concluído, teve o propósito de rever as estratégias da marca. Pelo que nossa parceira Quattroruote apurou, isso pode levar não só a um substituto para o Focus, programado para sair de linha no ano que vem, mas também ao retorno de modelos como o EcoSport, restaurando parte das peças eliminadas na última reorganização da gama.

Afinal, como ela está hoje, não satisfaz às necessidades e desejos dos clientes do Velho Continente – nem os do Brasil, onde, desde que a marca encerrou a produção local, há excelentes modelos importados, mas nos falta justamente um SUV compacto, categoria na qual a Ford foi pioneira e reinou por anos.

No atual cenário, não faz sentido um novo Fiesta, mas um hatch médio ou um SUV compacto não estão descartados. Depende da próxima reunião do conselho.

“É preciso apostar em segmentos de maior volume”, admite Farley – revendo a estratégia anterior de ter carros de alta margem e baixo volume. “E ser competitivos, o que não conseguimos antes.”

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Hoje, mais do que nunca, a concorrência se baseia no equilíbrio entre baixos custos de produção e vendas com margens adequadas. Com limites de emissões altos, eletrificação e matérias-primas mais caras, isso não é fácil, ainda mais sozinho. É por isso que fusões, alianças e sinergias estão na ordem do dia: a Ford já fez isso antes, mas não é certo que o repita, ao menos não com BEVs.

Nos EUA, a marca agora opera por conta própria, em uma nova estratégia: “Há dois anos, contratei alguns ex-Tesla, incluindo o engenheiro-chefe do Model Y e do Model 3, que trabalharam em uma plataforma econômica. O primeiro resultado será uma picape elétrica acessível [chega em 2027 por US$ 30 mil]”. Já em relação à gama multienergética, o jogo está aberto: “Tenho que decidir”.

O CEO da Ford deixa a entrevista sem nos revelar o que de fato pretende. Ao final de nosso longo bate-papo, porém, ficamos com algumas sensações: acima de tudo, a marca terá um parceiro para ampliar sua linha, hoje com só cinco modelos a combustão (Mustang, Bronco, Focus) e três elétricos (Capri, Explorer e Mustang Mach-E).

Como a Quattroruote apurou, a Stellantis é forte candidata. Arriscando aqui uma hipótese, o objeto de desejo seria a plataforma Smart Car, que hoje permite ao grupo europeu produzir modelos elétricos, híbridos ou a combustão. Para os segmentos B e C (compactos e médios), ela tem custos industriais baixíssimos e se revelou muito versátil para fazer compactos de quatro metros (Citroën C3) a pequenos SUVs de sete lugares (C3 Aircross), passando pelo recém-lançado Basalt e o futuro nacional Jeep Avenger.

O mais interessante é que, se a parceria der mesmo certo, a Ford pode voltar a ter um modelo feito no Brasil – ainda que seja fabricado pela Stellantis em Porto Real (RJ), onde a base Smart Car já dá origem aos Citroën citados –, trazendo volume às vendas sem precisar voltar a investir em fábricas.

A plataforma pode acomodar tanto unidades a gasolina “puras” com câmbio manual quanto sistemas híbridos de 48V, com câmbio automático e-DCT, e, ainda, BEVs baratos.
● Com ela, a Ford teria todos os ingredientes para criar o novo EcoSport.
● Do mesmo modo, um substituto do Focus (ou nova geração) pode ser feito na mesma plataforma.
● Talvez com posição de guiar elevada (congênita nos carros com a Smart Car) e, portanto, de natureza um pouco diferente daquela do Focus que conhecemos.
● Ao qual, depois de Mondeo e Fiesta, estamos prontos para nos despedir com melancolia. Mas pode ser um “até logo”.

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