Antes do SUV elétrico EX5, que chegou ao Brasil em duas versões (Pro de R$ 205.800 e Max de R$ 215.800), com bastante tecnologia embarcada, boa autonomia e visual moderno, a chinesa Geely já esteve por aqui em outra ocasião. Falamos do período entre o final de 2013 e meados de 2016, numa passagem curta através da Gandini importadora, a mesma que traz os Kia da Coréia do Sul.

Nessa fase, eram apenas dois modelos disponíveis, poucas concessionárias operando, vendas em baixa, muitas promessas, até que houve a despedida do mercado nacional, após pouco mais de 1.000 unidades comercializadas nos dois anos e meio de operação. Mas, quais foram os tais Geely vendidos no Brasil? Vejamos…

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Geely EX5 – Foto: Geely/divulgação

Geely EC7 queria peitar Corolla, mas…

Geely EC7 – Foto: Geely/divulgação

O primeiro modelo a chegar por aqui foi o sedã médio EC7, que desembarcou entre o finzinho de 2013 e o comecinho de 2014. Lá na China ele já rodava desde 2009, sob a marca Emgrand. A missão? Encarar de frente pesos-pesados como Toyota Corolla, Honda Civic, Nissan Sentra, VW Jetta, Ford Focus, Peugeot 408 e companhia. Como todo bom chinês da época, a receita era simples: preço camarada e lista de equipamentos generosa. 

Geely EC7 – Foto: Geely/divulgação

No lançamento, o EC7 partia de menos de R$ 50 mil — só pra comparar, o Corolla começava R$ 10 mil acima, e o Civic saía por pelo menos R$ 16 mil a mais. Quem esperou até o início de 2015 ainda aproveitou uma queima de estoque e levou o sedã por R$ 45 mil, em promoção.  

E claro, o sedã vinha bem recheado, especialmente pensando na sua faixa de preço: bancos revestidos em couro, ar-condicionado digital automático, retrovisor interno eletrocrômico, sensores de estacionamento traseiros, faróis de neblina, rodas de liga leve aro 16 e um visual que flertava com o segmento de luxo — com direito a cromados, faróis com máscara negra e grade em preto brilhante. Na época, o EC7 chamava a atenção pelo bom espaço interno e pelo conforto a bordo. A marca ainda fazia questão de destacar presunçosos 670 litros de capacidade do porta-malas. 

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A Geely evitava divulgar isso abertamente, mas o motor 1.8 16v aspirado do EC7 tinha DNA japonês: era derivado de um projeto da Mitsubishi, da família 4G1. O bloco trazia alguns “mimos” técnicos, como o duplo comando variável, mas só bebia gasolina. Entregava por volta de 130 cv e 17 mkgf de torque — números razoáveis, mas que não empolgavam. O desempenho era bem comedido, e as respostas ao acelerador estavam longe de animar motoristas mais apressados. 

Geely EC7 – Foto: Geely/divulgação

Nos testes da imprensa na época, mesmo com o bom isolamento acústico, dava pra notar que o 1.8 tinha uma pegada pacata. A única opção era um câmbio manual de cinco marchas (prometeram também uma opção automática CVT, que nunca foi lançada oficialmente no Brasil). O EC7 hatch, batizado de “RV”, também foi outro que nunca saiu da fase da promessa. Ainda assim, a linha EC7 surpreendia na construção: tinha freios a disco nas quatro rodas, suspensão independente e um refinamento estrutural acima da média entre os chineses da época. 

GC2: bonitinho e completo

Geely GC2 – Foto: Geely/divulgação

Foi em abril de 2014 que a Gandini trouxe ao Brasil o segundo, e último, modelo da Geely por aqui: o GC2. Um hatch subcompacto com visual diferentão, estilo “fofinho” e frente que lembrava um panda, feito pra encarar rivais como JAC J2, Chery QQ, VW up! e companhia. Chegou com preço camarada: R$ 30 mil, que durou até 2016. Só pra comparar, o J2 partia de R$ 32 mil, enquanto o up! mais barato com quatro portas custava R$ 29 mil, mas vinha pelado de equipamentos. 

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Jogando todas as fichas no custo-benefício, o GC2 vinha recheado de equipamentos. A lista impressionava: ar-condicionado, direção hidráulica, vidros e travas elétricas, retrovisores com ajuste elétrico, alarme, sensor de ré, rádio AM/FM com USB, volante com regulagem de altura, rodas de liga aro 14, airbags frontais, freios ABS… e mais. Detalhe: muitos desses itens nem apareciam nos VW Gol e Fiat Palio mais completos da época.  

Geely GC2 – Foto: Geely/divulgação

Só existia uma versão do GC2, chamada GL, mas a Geely ainda falava em lançar uma variante aventureira dele por aqui: nem é preciso dizer que o plano nunca saiu do papel. Ele trazia um pequeno e econômico motor 1.0, três cilindros e 12 válvulas, desenvolvido pela própria Geely. Apesar de beber só gasolina (não deu tempo de lançarem uma opção flex), entregava pouco menos de 70 cv e torque próximo dos 9 mkgf, que dava conta no carrinho. Câmbio? Manual de cinco marchas, sempre. 

Não deu muito certo…

No total, pouco mais de 1.000 unidades do GC2 e EC7 juntos foram vendidas por aqui. Considerando que a meta era alcançar 3.500 só em 2014, o resultado foi, no mínimo, frustrante. Tanto que, em 2016, quando pararam de importar os modelos, a Geely apontou justamente as vendas baixas como uma das principais razões para abandonar o mercado brasileiro. 

Concessionária Geely no Brasil – Foto: Geely/divulgação

A Geely também apontava que o Brasil estava instável, com o dólar em alta. Além disso, a marca não fazia parte do programa Inovar Auto — que liberava a importação de até 4.800 carros por ano sem os 30% extras de IPI. O melhor ano da marca no Brasil foi 2015, quando conseguiu vender 650 unidades no total e chegou a celebrar a operação de 16 concessionárias espalhadas pelo país.