Para quem pensa que a era dos carros populares ou vendidos com incentivo fiscais é coisa de agora, vamos lembrar tempos difíceis vividos pelo Brasil, em que os carros acessíveis da época eram despojados de tudo, tudo mesmo! Quando o país passa por dificuldades financeiras, notadamente nossa indústria automobilística acompanha o sobe e desce da montanha russa da economia. Nessas fases complicadas, para não agravar desemprego e problemas financeiros, normalmente os governos criam soluções para fomentar a venda de carros.  

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Willys Teimoso – Foto: reprodução/Pinterest

Mesmo objetivo

De um modo geral, criam versões despojadas para ter preços atraentes, ou reduzem tributos fiscais para baixar preços. Quando não fazem os dois juntos, como foi o caso dos primeiros carros 1.0, de 1990. De qualquer forma, o objetivo é sempre o mesmo: alavancar as vendas de modelos 0 km, e dar uma aquecida na economia.  

Eu ao volante de um Uno Mille em 1990: foi o primeiro popular 1.0 do Brasil – Foto: Cláudio Larangeira/Quatro Rodas)

Desde os anos 60

Ao longo do tempo, governos criaram incentivos de vendas concebendo carros diferenciados, com capacidade cúbica limitada no motor, ou ainda que tivessem consumo contido de combustível para emplacar os tais populares. Um exemplo marcante desse processo, e que na realidade foi um fracasso, foi o que ocorreu nos anos 60. Na ocasião, o governo militar que havia assumido em 1964, depois de destituir o então presidente João Goulart, enfrentava sérios problemas de falta de dinheiro girando no país.  

Simca Profissional trabalhando como táxi – Foto: reprodução/Maxicar.com

Por isso, instituiu-se uma fórmula de carro popular, a primeira movimentação do tipo que se tem notícia no Brasil. Além dos incentivos fiscais, eles tinham financiamento subsidiado pela Caixa Econômica Federal, que permitia até 48 parcelas para os interessados. Só que os carros seriam básicos ao extremo: não tinham absolutamente nada além da mecânica, lataria e outras partes essenciais, como bancos e volante, e nem é modo de dizer.  

(Muito) simples

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Em alguns casos, até mesmo a mecânica era capenga, como é o caso do DKW Vemaguet “Pracinha”, que tinha nome em alusão aos motoristas de táxi. Nele, o sistema de lubrificação do motor, o Lubrimat, era retirado, e cabia ao motorista fazer a mistura óleo/gasolina para lubrificar o motor de 2 tempos. Um verdadeiro horror!  

Willys Teimoso – Foto: reprodução/Pinterest

Os tais populares não tinham sequer espelhos retrovisores externos, e, em casos extremos como o do Willys Gordini “Teimoso”, lanternas traseiras: uma única luz central iluminava a placa de licença e marcava a posição do carro. Seta? Que nada: o motorista resolvia colocando o braço pra fora, mesmo. Cromados e frisos? Nem pensar, esse era um luxo que os tais populares não dispunham. Tudo era pintado na cor branca ou preta.  

Willys Teimoso – Foto: Willys/divulgação

No Teimoso, não existiam nem molas nos bancos: era uma tira estofada presa a armação metálica, como nas cadeiras reclináveis que a gente leva pra praia. Tampa de porta-luvas ausente, rádio inexistente e forração de portas numa espécie de papelão eram outras temeridades do carrinho, que apelava para o preço mais baixo.  

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As cores não iam além de cinza, azul claro, marrom, preto ou branco. Todas sem nenhuma vida. Esses carros eram verdadeiros atestados de pobreza! Por isso, a lei de incentivos de carros populares foi criada no final de 1964, e perdurou até meados de 1966. Poucas unidades desses modelos difamatórios foram vendidas, afinal ninguém queria ser apontado como pobre na rua.  

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Tudo mudou: ainda bem!

Além do Pracinha e do Teimoso, também havia o VW “Pé-de-Boi” e o Simca Profissional. Hoje, todos viraram peças raríssimas (e muito disputadas) entre os colecionadores de veículos antigos. Hoje o governo dá incentivos fiscais para os tais Carros Sustentáveis, que consomem e poluem menos sem perder a decência, digamos assim. Ainda bem!

VW Fusca Pé de Boi – Foto: VW/divulgação