18/02/2016 - 7:30
Dizem por aí que os motores flex não são tão bons em termos de consumo. Que para possibilitar que eles rodem com qualquer um dos dois combustíveis é preciso fazer um acerto que acaba prejudicando o consumo com ambos. Mas parece que a coisa não é bem assim. O ajuste para aceitar o combustível mais limpo não têm prejudicado o consumo dos carros antes somente a gasolina. Pelo contrário.
Todos os carros recentemente adaptados para aceitar o etanol tiveram melhora expressiva nos consumo com gasolina após a transformação. É o que revelam os números abaixo, do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular. Confira o ganho que tiveram na quilometragem por litro (km/l) e a redução no consumo energético (MJ/km).
CARRO | MOTOR | CIDADE (km/l) | ESTRADA (km/l) | MJ/km |
Mercedes GLA200 | Gasolina | 8,9 | 11,5 | 2,23 |
Flex | 10 | 12,7 | 1,98 | |
Diferença | 12,36% | 10,43% | -11,21% | |
Mercedes CLA200 | Gasolina | 8,5 | 11,5 | 2,29 |
Flex | 10 | 12,6 | 1,99 | |
Diferença | 17,65% | 9,57% | -13,10% | |
Hyundai ix35 | Gasolina | 7,7 | 9,3 | 2,67 |
Flex | 8,8 | 10,5 | 2,32 | |
Diferença | 14,29% | 12,90% | -13,11% | |
Peugeot 408 | Gasolina | 9 | 11,1 | 2,23 |
(1.6 THP) | Flex | 9,6 | 12,5 | 2,06 |
Diferença | 6,67% | 12,61% | -7,62% | |
Citroën C4 Lounge | Gasolina | 8,7 | 11,7 | 2,24 |
(1.6 THP) | Flex | 9,3 | 11,9 | 2,11 |
Diferença | 6,90% | 1,71% | -5,80% |
São números expressivos: ao virar flex, esses motores mostraram um rendimento de 6,7% a 17,6% melhor no circuito urbano e de 1,7% a 12,9% superior no uso rodoviário. Ou seja, rodam mais com o mesmo tanto de gasolina no tanque. O consumo energético absoluto em MJ/km (média dos dois combustíveis nos flex) caiu entre 5,8% e 13,1%. Esses motores, portanto, se saíram melhores do que antes, quando usavam só gasolina. A melhora ocorreu tanto nos turbinados quanto nos aspirados.
Esse ganho se deve, em grande parte, ao aumento na taxa de compressão que se faz nos motores flex para “extrair mais” do etanol. O consumo com o combustível não é possível comparar, pois não há dados sobre motores a etanol que viraram flex. Mas ao menos em teoria, o combustível seria melhor aproveitado se fosse usado em um motor desenvolvido especificamente para ele. Poderia-se trabalhar com taxa ainda maior, fazer outros ajustes e ter consumo ainda melhor. Um carro a etanol seria, provavelmente, mais econômico – e ainda mais ecologicamente correto – que os flex atuais queimando etanol.
Mas você estaria disposto a comprar um carro movido só a etanol? Valeria mesmo a pena?
Nas entressafras, quando o preço do etanol fica mais próximo do da gasolina e ele deixa de valer a pena, o que você faria? E quando viajasse para algum dos estados onde o etanol quase nunca é vantajoso economicamente (mesmo que rendesse mais)? Você abriria mão de ter a opção de usar a gasolina?
Enquanto não surgirem novas tecnologias, os motores flex ainda são a melhor escolha. Há redução no consumo com gasolina e ainda se ganha a opção de usar o etanol – mesmo que não em condições ideais – quando vantajoso economicamente*.
Ao optar pelo motor flex, com gasolina você ganha rendimento, com etanol você perde algo que nunca teve: a opção de usá-lo. O motor bicombustível pode não garantir o melhor dos dois mundos, mas está longe de ser uma opção ruim. Melhora o consumo com gasolina e ainda abre as portas para o mundo do etanol. Garante sempre uma coisa que nem o motor só a gasolina dá nem um apenas a etanol daria: a opção de escolha. E, mais importante, uma escolha no posto, a cada abastecimento. Não na hora da compra.
*vale a pena usar etanol quando seu preço é 70% ou menos do cobrado pela gasolina; mas essa relação pode variar conforme o modelo