03/05/2016 - 12:26
Foi em um domingo, 1º de maio, como o que ocorreu no ultimo final de semana. Estávamos no ano de 1994 e nosso ídolo campeão Ayrton Senna disputava o GP de San Marino, no autódromo de Ímola. Apesar de ter cravado a pole de numero 65, o final de semana não era dos mais auspiciosos: no treino de sexta-feira, o então novato piloto brasileiro Rubens Barrichello sofrera um grave acidente. No treino classificatório do sábado, o piloto austríaco Roland Ratzenberger bateu forte e morreu dentro do carro, antes mesmo de receber atendimento. Esses dois fatos já haviam feito do GP de San Marino uma corrida tenebrosa.
Mas o mundo não sabia que outra tragédia estava por acontecer. Depois de uma largada confusa, a corrida passou a transcorrer aparentemente dentro da normalidade. Ayrton com sua Williams azul disparava na ponta, seguido por Michael Schumacher e o restante do pelotão. Ao que tudo indicava, seria 42ª vitoria de Senna. Mas o destino não quis assim.
Para quem pensa que na Fórmula 1 não existem remendos, um engano. Algumas provas antes, Senna reclamou com a equipe que o volante do seu carro poderia ficar um pouco mais perto dele, o que facilitaria sua pilotagem. A equipe Williams então, cerrou a barra de direção e adaptou no trecho cortado uma luva metálica de alguns centímetros, o que permitiu que o volante chegasse mais perto do piloto. A fixação da luva na barra foi feita com solda. E essa solda foi sofrendo fadiga e veio a romper justamente quando Senna liderava a corrida de Ímola.
Em uma curva de alta velocidade, a mais de 300 km/h, nosso campeão virou o volante ligeiramente para a esquerda e o carro não obedeceu. O impacto contra o muro foi violento. O carro do campeão foi completamente destruído e, de tão forte a batida, foi arremessado novamente em direção a pista. Um componente da suspensão da Williams furou o capacete de Senna, provocando sua morte quase que instantaneamente. O Brasil perdia um de seus maiores ídolos esportivos. Um exemplo de obstinação, de atleta, de dedicação, de paixão pelo esporte, de honradez e seriedade. Um esportista que, como poucos, foi visto pela população brasileira. Tanto que no seu funeral houve uma comoção nacional e o país parou para render suas ultimas homenagens a esse grande brasileiro.
Ayrton Senna começou na Fórmula 1 em 1984, correndo pela equipe Toleman. Era um carro pouco competitivo, mais que Ayrton sempre colocava entre os oito primeiros. As equipes grandes perceberam o talento do brasileiro e em 1985 ele já pilotava um Lotus, carro com o qual garantia a sua primeira vitória, em um GP de Portugal marcado por uma chuva torrencial. Depois foi pilotar para a McLaren, onde em 1988 garantia o seu primeiro campeonato mundial. Em 1990, ainda pela equipe inglesa, veio o segundo titulo, seguido no ano seguinte pelo tricampeonato.
É importante lembrar que a dupla Senna/McLaren-Honda mostrou-se sempre imbatível: O brasileiro fazendo milagres atrás do volante e a marca japonesa desenvolvendo altas tecnologias em motores classificados como geniais. Tanto que o nome de Ayrton Senna é venerado com respeito até hoje no Japão.
Outros projetos povoavam a mente de Senna. Em 1994, depois de firmar um contrato com a Audi na Alemanha, nosso campeão seria representante da marca no Brasil. Não houve tempo para que esse acordo se concretizasse, pois Ayrton partiu de nosso convívio ainda no inicio do projeto.
Mas o projeto Audi foi levado adiante por sua família. Nessa época, eu trabalhava na revista Quatro Rodas, que fez uma grande matéria com Ayrton mostrando os Audi que chegariam ao nosso mercado. Na época, meu amigo Eduardo Pincigher foi convocado a fazer a reportagem e andar com Ayrton na pista de Interlagos. E então Senna fez uma revelação interessante: “apesar de já ter ganho corrida de Fórmula 1 aqui em Interlagos, nunca andei com carros normais nessa pista. Essa será minha primeira vez”.
Eduardo contou que o campeão se divertiu com o Audi e depois quis matar uma curiosidade: “como será andar na contramão do circuito? Será que muda muito?”. Ayrton virou o carro e fez uma volta pelo circuito completo andando na contramão. Admirado percebeu que Interlagos se transformava em outro circuito quando se andava no sentido inverso.
Coisas de Ayrton Senna. Nosso tricampeão morreu fazendo o que mais gostava na vida: em um circuito veloz, em sexta marcha, pé embaixo e liderando a corrida. Coisas de um supercampeão.