06/05/2016 - 9:15
Lançado com clara intenção de ser usado prioritariamente na cidade, o Fiat Mobi é um city-car que quer conquistar um consumidor moderno, “para quem menos é mais”, como diz a equipe de marketing da marca. Esse cliente seria muito mais preocupado com o impacto do carro no ambiente urbano, um crítico do consumismo – incluídos aí os adeptos da nova onda de “vida minimalista”.
Apesar de todo o esforço para colar essa imagem ao Mobi, sinto que ele não é o carro certo para esses consumidores, se é que eles já existem em número representativo no Brasil. Digo isso porque, primeiro, grande parte deles não quer um carro próprio. Anda de bicicleta, circula de Uber, se interessa por compartilhamento de carros, sonha com um transporte público com mais cobertura e qualidade. O transporte individual é seu último recurso, por pura necessidade e/ou falta de opção.
Se você está nessa onda e decidiu comprar um carro para a cidade, ou city-car, não recomendo o Mobi. Ele não faz muito sentido.
O primeiro motivo é que um carro para uso urbano é constantemente manobrado, então um “pequeno detalhe” como a ultrapassada direção hidráulica acaba pesando – literalmente – na escolha. Até há sistemas hidráulicos razoavelmente leves, como o do HB20, mas esse da Fiat de fato torna as balizas mais cansativas. A maioria dos rivais já adotou a mais moderna direção elétrica, e não só por esse motivo. Ela também reduz o consumo de combustível – o que me leva ao segundo — e mais importante — motivo para não recomendar o Mobi.
Se sua opção por um city-car vem de motivações ideológicas (consumir menos recursos), econômicas (gastar menos) ou ambientais (poluir menos), aí que o Mobi não é mesmo a melhor escolha. Há diversos modelos de preço e porte similares que são interessantes para a cidade, mas o VW Up é o de porte e proposta mais próximos – porém com uma diferença fundamental: gasta e polui muito menos (além da direção elétrica, tem um motor 3 cilindros 1.0 12V bem mais moderno que o 4 cilindros 1.0 8V do Fiat).
A diferença não é pouca. Fiz as contas considerando os dados de consumo oficiais, conforme aferidos pelo Inmetro para o PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular). Para um motorista que roda 40 km por dia (1.500 km/mês, 18.000 km/ano), sendo 90% na cidade (o carro tem proposta urbana), e considerando R$ 3,50 por litro de gasolina, temos os seguintes resultados:
- O dono de um Mobi vai gastar R$ 399,38 em gasolina por mês, ou R$ 4.792,57 por ano
- O dono de um Up vai gastar R$ 336,55 em gasolina por mês, ou R$ 4.038,61 por ano
Do ponto de vista financeiro, portanto, esse motorista que comprar o Up vai economizar R$ 62,83 por mês ou R$ 753,96 por ano em relação ao que comprar o Mobi. Parece pouco? É o suficiente para pagar as primeiras duas revisões do Up e metade da terceira – ou seja, a economia em apenas um ano corresponde ao custo básico de manutenção do rival por dois anos e meio. Nada mal.
Agora, considerando o consumo urbano de gasolina e a consequente emissão de CO2 – o vilão do aquecimento global – chegamos a números também expressivos.
- O dono de um Mobi vai liberar na atmosfera 1.926 kg de dióxido de carbono por ano
- O dono de um UP vai produzir 1602 kg do gás a cada ano
Do ponto de vista ecológico/ideológico, portanto, cada Up circulando por aí no lugar de um Mobi representa, a cada ano, 324 kg a menos de CO2 emitidos, além de 1.500 litros a menos de gasolina consumidos. Isso sem falar no monóxido de carbono, que o Mobi emite três vezes mais que o Up.
O Up foi usado como exemplo por ser o rival direto do Mobi, apesar de os dois estarem em categorias diferentes do PBEV. A diferença de comprimento entre os dois é de só 4 cm, mas o Up é listado como subcompacto, enquanto o Fiat se encaixa na categoria de micro-compactos, criada coincidentemente à época de seu lançamento. Assim, ambos têm nota A de consumo em suas categorias, embora no ranking geral a diferença seja grande.
Considerando todas as categorias, entretanto, há nada menos que 28 carros mais econômicos que o Mobi na cidade, incluídos modelos bem maiores e com motores mais potentes (e apenas três híbridos). Confira abaixo a lista de carros que gastam menos que o Mobi na cidade (para ser mais justo, considerei apenas os modelos com ar-condicionado e listei diferentes motorizações do mesmo modelo).
CARRO | CONSUMO URBANO (gasolina, km/l) |
Toyota Prius | 18,9 |
Ford Fusion Hybrid | 16,6 |
Lexus CT200h | 15,7 |
Peugeot 208 1.2 | 15,1 |
Up 1.0 | 14,2 |
Up 1.0 TSI | 13,8 |
smart fortwo | 13,2 |
Ford Ka 1.0 | 13,0 |
Ford Ka+ 1.0 | 13,0 |
VW Gol 1.0 3 cil. | 12,9 |
Nissan versa 1.0 | 12,9 |
Nissan March 1.0 | 12,9 |
VW Voyage 1.0 3 cil. | 12,9 |
VW Fox 1.0 3 cil. | 12,8 |
Fiat Uno 1.4 Evolution | 12,6 |
Nissan March 1.6 | 12,6 |
Renault Sandero 1.0 | 12,6 |
Audi A1 Sportback 1.4 125 cv | 12,6 |
Nissan Versa 1.6 | 12,6 |
Toyota Etios Hatch 1.3 | 12,6 |
Hyundai HB20 1.0 | 12,5 |
Toyota Etios Sedã 1.5 | 12,5 |
Toyota Etios Hatch 1.5 | 12,4 |
Honda City 1.5 | 12,4 |
Chery New QQ 1.0 3 cil. | 12,3 |
Peugeot 208 1.6 | 12,3 |
Toyota Etios Sedan AT | 12,2 |
Range Rover Evoque (diesel) | 12,1 (diesel) |
Fiat MOBI | 11,9 |