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Pela segunda vez virei “dono” de um Porsche 911. A primeira foi em Saint Tropez, na França, por ocasião do lançamento da quinta geração, em 1998. Agora, convivi com o 911 Carrera S, que custa R$ 142.000 a mais que o Carrera de entrada. Além do motor boxer 3.0 biturbo com 50 cavalos extras (420 contra 370 cv), que proporciona 3 décimos de segundo na prova de 0-100 km/h com “launch control” e 1 segundo cravado numa arrancada até 160 km/h, o Carrera S tem rodas maiores (aro 20), duas ponteiras de escapamento redondas no meio da traseira (no Carrera são achatadas e ficam nas extremidades) etc.

Mas o que interessa é que o 911 continua tão arrebatador como nunca. Apenas dois dias e uma noite com ele renovaram minha convicção de que esse é o meu carro de sonho, com o perdão de ferraristas, alfistas, lamborguistas, bimeristas e outras tribos. Infelizmente, esses dois dias não eram sábado e domingo. Então eu me vi usando um 911 Carrera S no agitado dia-a-dia da maior cidade da América do Sul, com trânsito pesadíssimo e congestionamentos. Fui almoçar com o carro e os manobristas do restaurante – que sempre disputam para ver quem vai guardar o carrão – respeitosamente apenas indicaram uma vaga no fundo. Nem quiseram tocar no mito. Que se tornou ainda menos discreto nas ruas por causa da linda cor vermelho real e pelos urros do escapamento, pois apertei o botão que muda o barulho.

Também acionei bastante outro botão do console, o que levanta a suspensão dianteira, para não raspar tanto nas saídas de garagem. Mas em São Paulo não tem jeito: o 911 pega mesmo em muitas saliências das ruas. Uma das características do fantástico design do 911 – que derruba queixos desde 1964 – é a traseira bem larga (as outras são o capô baixo e os “ombros” altos acomodando os faróis). Por isso, quando o levei para casa, reservei as duas vagas da garagem só para ele (melhor não correr riscos).

Na manhã seguinte, quando o Porsche 911 foi para a estrada, aí sim pôde mostrar seu carisma. Com uma ergonomia perfeita, ele “veste” o motorista. O painel é fabuloso, com cinco mostradores na sua cara e uma eficiente tela multimídia no centro, que é sensível ao toque (como deve ser), mas que também tem botões (como deve ser). Mas o melhor botão de girar do 911 é o que fica no volante mesmo, pois nele, sem tirar as mãos, você ajusta o carro nos modos Normal, Sport, Sport+ e Individual. E se apertá-lo no meio liga o sistema Sport Response, que dá 20 segundos de gás total e transforma o esportivo alemão num foguete.

Na estrada, quanto mais você acelera, mais quer acelerar – por isso, é preciso ter muito bom senso para guiar esse Porsche. Em alguns momentos parece que você está naqueles videogames em que todos os outros carros estão parados e só o seu veículo está em movimento. São tantas as coisas para fazer num Porsche 911 – pois também têm os ajustes de chassi (PDCC), o câmbio PDK de sete marchas, o aerofólio traseiro, as duas posições do teto solar, as inúmeras opções do quadro de instrumentos, os números de performance da tela multimídia e o incrível Sport Response – que simplesmente não dá tempo de curtir todas elas por muito tempo.

A sensação de guiar um Porsche 911 Carrera S transcende a experiência de um motorista comum, por isso ele é para poucos. À medida que você o acelera e a velocidade vem mesmo, na dose da ousadia, das possibilidades da estrada e dos limites do motorista (pois o limite do carro não se alcança numa rodovia brasileira), é preciso ficar cada vez mais concentrado. Você simplesmente deixa de dirigir e passa a pilotar. No modo S+, as trocas são manuais, pelas borboletas, então dá para ver os saltos que o ponteiro do conta-giros dá a cada mudança de marcha, bem diferente dos ponteiros preguiçosos de certos esportivos que a gente vê por aí.

Se nas retas a emoção é garantida, nas curvas é que o prazer se eleva, pois a direção responde com incrível rapidez a qualquer movimento e as suspensões adaptativas PASM, os pneus bem largos e o aerofólio empinado grudam o carro no chão. Até as rodas traseiras esterçam para melhorar a trajetória! Em todo o mundo, 31.915 pessoas compraram um 911 zero km no ano passado. No Brasil foram apenas 63 felizardos (sendo 43 das versões com o antigo motor 3.8 aspirado e 20 com o 3.8 turbo). Agora, com o novo 3.0 biturbo da sétima geração, pode ser que muita gente queira trocar seu 911 por um novo.

Mesmo vivendo em São Paulo, eu compraria um Porsche 911. Seria um Carrera se fosse o meu primeiro Porsche e um 911 Carrera S se já tivesse experiência com carros esportivos. Claro que não usaria o carro todos os dias, mas não passaria um único fim de semana sem guiá-lo e participaria de todos os track days (eventos que permitem dirigir o carro num autódromo). Num país mais seguro e com ruas melhores, eu não apenas o compraria como também o usaria com grande frequência. Ah, e antes que me perguntem se a chave do lado esquerdo incomoda, eu já digo: não mesmo, adoro! Faz parte de seu show.

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Ficha técnica:

Porsche 911 Carrera S

Preço básico: R$ 509.000
Carro avaliado: R$ 651.000
Motor: 6 cilindros boxer 3.0, 24V, turbo, start-stop
Cilindrada: 2981 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 420 cv a 6.500 rpm
Torque: 51,0 kgfm de 1.700 a 5.000 rpm
Câmbio: automático sequencial, sete marchas (PDK)
Direção: elétrica
Suspensões: McPherson (d) multi-link (t)
Freios: disco ventilado (d/t)
Tração: traseira
Dimensões: 4,499 m (c), 1,808 m (l), 1,295 m (a)
Entre-eixos: 2,450 m
Pneus: 245/35 R20 (d) e 305/30 R20 (t)
Porta-malas: 145 litros (sem o estepe)
Tanque: 64 litros
Peso: 1.535 kg
0-100 km/h: 3s9
Velocidade máxima: 306 km/h
Emissão de CO2: 174 g/km (dados da Alemanha)
Consumo: não divulgado
Nota do Inmetro: não participa

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Contraponto

Por Flavio R. Silveira

Concordo com tudo que diz o Quinta, menos sobre a partida do lado esquerdo, para mim inútil e incômoda. Mas vamos ao que mais interessa. Saio da Porsche e a estrada me chama. Ainda a caminho, me familiarizo com o 911. Vejo que ruído e aerofólio podem ser ajustados independentemente da velocidade. Que o PDCC deixa as suspensões mais duras e que o seletor giratório tem o modo Sport, que o deixa nervoso, o Sport Plus, que o deixa furioso – e, o mais importante, um botãozinho do Sport Response, que o deixa insano. Na Via Anhanguera, o tal botãozinho vira um vício. Leva o motor até o limite de giros. Os 20 segundos acabam, aperto de novo. E de novo. E de novo… mas aí penso que deveria ser como nos videogames, carregar aos poucos… e aperto de novo.

A aderência nas curvas impressiona; ele vira tão rápido que assusta. O 911 engole as curvas enquanto piso fundo, adrenalina a mil e… xi, sujou, a polícia mandou encostar. Será que passei num radar? Não, só queriam ver o carro. “Acelera rápido? Quanto você conseguiu pegar?” Mudo de assunto sem responder, claro. “Na Bandeirantes dá pra acelerar bem”, sugere um deles. Devolvem meus documentos. De fato dá para acelerar bem na Rodovia Bandeirantes (com mais retas). O 911 vai de 80-180 km/h com a mesma facilidade de 0-100. Mas muito mais legal é fazer curvas – e na Anhanguera há muitas. Agora atrasado para buscar meu filho Mathias na escola, aproveito para pisar mais um pouco. Mas a cadeirinha não cabe no Porsche e Mathias vai sentado no banquinho traseiro, que parece feito para crianças mesmo. Pergunta por que não tem janela ou porta ali. O 911 mostra-se confortável no dia-a-dia, mas perde o sentido ao ser dirigido com moderação. Se eu o compraria? Claro, onde assino?

COMPRE SE…
Você é um fã de cupês com motor e tração traseira e procura o topo em esportividade sem abrir mão de rodar com conforto.
Se o prazer de dirigir é o seu item mais precioso num carro e procura um superesportivo com boa relação custo-benefício.

NÃO COMPRE SE…
Você quer um esportivo de grande desempenho, mas não abre mão de bom espaço para a bagagens, pois no 911 não há.
Você quer um carro esportivo para rodar no dia-a-dia da cidade, pois nesse caso o mais indicado seria um sedã ou SUV.

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