01/07/2017 - 7:00
A cerâmica é o material artificial mais antigo produzido pelo homem. Pesquisas indicam que ela pode ter surgido há 15 mil anos! Feita a partir da argila, a cerâmica normalmente é associada a vasilhas pré-históricas. Mas ela é também um elemento importantíssimo no desempenho de seu carro, pois sua qualidade está intimamente ligada à eficiência do motor. E a peça é pequena, normalmente do tamanho um dedo humano. Estamos falando da vela de ignição.
Sem a vela, um motor de combustão interna simplesmente não funciona. É a vela que provoca a faísca que vai gerar a queima de combustível dentro dos cilindros. E, ao contrário do que se pensa, não é apenas o eletrodo o responsável pela qualidade de uma vela, mas principalmente a cerâmica utilizada. Afinal, é a cerâmica que suportará temperaturas altíssimas e manterá a vela em bom funcionamento durante milhares de quilômetros.
É por isso que muitas montadoras estão escolhendo as melhores velas para seus novos motores. É o caso da Fiat com o motor 3 cilindros 1.0 Firefly do Mobi e da GM com o motor 1.4 Turbo Ecotec do novo Chevrolet Cruze. Essas montadoras optaram por usar velas de iridium da NGK, empresa japonesa que é líder no mercado de velas de ignição, tanto globalmente quanto no Brasil, onde detém 74% de participação, contra 21% da Bosch. Mundialmente, a briga é muito mais acirrada. Fizemos uma visita à fábrica da NGK para conhecer todo o processo de fabricação e comercialização das velas de ignição, bem como sua melhor utilização nos carros do dia-a-dia. Além da NGK e da Bosch, as velas Denso, Champion (da Federal Mogul) e Beru (da BorgWarner) também são muito requisitadas pela indústria automobilística.
Não à toa, os motores Firefly e Ecotec Turbo têm sido muito elogiados por toda a imprensa especializada, pois apresentam bom desempenho e baixo consumo. O diâmetro do eletrodo de uma vela Iridium tem apenas 0,4 mm de espessura. Mas muitos outros carros a usam originalmente, entre eles o Toyota Corolla, o Hyundai HB20, os Honda Fit e City e o Ford Fusion 2.5. Essa vela pode durar de 60.000 km (caso do Mobi) a 100.000 km (caso do Corolla), pois depende das especificações de uso solicitadas pela montadora.
É possível equipar seu próprio carro com esse tipo de vela. A NGK, por exemplo, oferece a linha IX (iridium) no mercado de reposição. É a vela mais cara atualmente, mas muitos motoristas fazem a conta e descobrem que sai muito mais barato investir numa vela do que consumir o dobro de combustível durante determinado período. Outra opção, também da NGK, é a linha GP. “A vela G-Power utiliza eletrodo central de platina com o diâmetro um pouco maior, de 0,6 mm, e tem o melhor custo-benefício, pois é quase metade do preço da vela de iridium e também melhora sensivelmente o desempenho do carro”, explica Marcos Mosso, da NGK.
Existem também as velas convencionais. Essas costumam durar de 20.000 a 25.000 km. As velas G-Power têm um custo um pouco maior e duram cerca de 30.000 km, mas representam a maneira mais barata de melhorar visivelmente o desempenho do carro. Os preços de velas variam muito no mercado, mas no site Mercado Livre achamos o jogo de quatro velas Standard por R$ 56, o jogo da G-Power por R$ 111 e o jogo da IX por R$ 200. Devido à febre de motores de três cilindros, a NGK e a Bosch passarão a vender às lojas caixas com 10 velas – assim, o consumidor pode levar quantas quiser.
PREVENIR OU REMEDIAR?
Ao contrário do que ocorre em outros países, o brasileiro não tem o hábito de fazer manutenção preventiva do carro. Por isso, quando decide trocar a vela, pode ter os cabos ou a bobina de ignição já danificados. Sem contar a quantidade de gasolina queimada desnecessariamente. Um carro que poderia fazer 10 km/litro na cidade e faz apenas 6,5 km/l, por falta de verificação das velas, representará um gasto extra de 33% com combustível. Ou seja, a cada três tanques de combustível, joga um fora. Segundo Hiromori Mori, da NGK, quem usa muito o carro deve verificar as velas a cada 10.000 km. Quem faz uma utilização normal pode seguir as recomendações do fabricante do veículo.
Se a vela não for boa, pode haver uma queima do lado de fora, danificando o cabo. Em alguns casos, chega a ser necessário trocar também a bobina. Ah, e fita isolante não resolve! Afinal, essas fitas são feitas para isolar 600 V, mas as velas de ignição de um carro suportam cerca de 30.000 V. Em motores a gasolina, a temperatura ideal para as velas é de 450º C a 850º C. Nos motores a etanol (que não carboniza), essa faixa vai até 700º C. Acima de 850º C é considerado superaquecimento do motor.
AS VELAS E A CERÂMICA
A cerâmica é tão importante na construção de uma vela de ignição que a NGK escolheu uma antiga fábrica de cerâmicas de Mogi das Cruzes (SP) para se instalar no Brasil, no já distante ano de 1959. Assim, mesmo com a expansão da fábrica e sua mudança para o bairro Cocuera – que produz 6,5 milhões de velas por mês – a empresa não abandonou a parte da cerâmica. Só que ela tem outra marca, a NTK, que produz 30 toneladas/mês de cerâmicas técnicas, sensores de oxigênio (sonda lambda) e ferramentas de corte. A produção mensal também inclui 1,3 milhão de cabos de ignição. Além desses, a NTK fabrica 75.000 m2 de pastilhas de revestimentos todos os meses (elas podem ser encontradas em sua própria residência, mas sob a marca Super NGK).
A NGK (Nihon Gaishi Kabushikigaisha) fabrica velas, cabos e bobinas de ignição, além de vela aquecedora para motores a diesel. Já a NTK (Nippon Tokushutogyo Kabushikigaisha) produz os sensores, as cerâmicas e os componentes eletrônicos. Aliás, das 18 fábricas da empresa no mundo, só as cinco japonesas e a brasileira produzem todos os componentes. A NGK nasceu em 1936 e a NTK foi criada em 1949. No total, 1.258 pessoas trabalham na NGK do Brasil, sendo 1.207 somente na fábrica, que ocupa um lote de 625 mil m2 e tem 70,7 mil m2 de área construída.
PRESENÇA NA FÓRMULA 1
Outro segmento que preza o máximo aproveitamento de uma vela de ignição na queima do combustível é o de corridas de automóveis. Durante muitos anos a Champion se destacou nas corridas, assim como a Bosch e a própria Magneti Marelli, parceria tradicional da Ferrari. Em 1964, quando a Honda estreou na Fórmula 1, fazendo apenas três corridas com o modelo RA271 pilotado por Ronnie Bucknum, levou junto a NGK e suas velas. A primeira vitória veio em 1965, na 11ª participação, com Richie Ginther pilotando um RA272 no GP do México. No final de 1968, a equipe Honda deu adeus à F1, mas a NGK ficou.
Ficou e se tornou uma das grandes parceiras da Scuderia Ferrari, para quem fornece velas de ignição há duas décadas, desde o glorioso período de Michael Schumacher e Rubens Barrichello. Em 2015, a empresa japonesa passou a ser também patrocinadora oficial da Ferrari, tendo seu logotipo estampado nos carros de Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen. Mas, apesar de aparecer somente na Ferrari, a NGK fornece também para todas as outras equipes de Fórmula 1 na atual temporada.