28/12/2017 - 8:00
Alguns carros me fazem acordar cedo. Fato é que o meu despertador tocou às 4 horas de uma quinta-feira. Sem reclamar das poucas horas dormidas, me aprontei e fui rapidamente para a garagem. Lá repousava esse brutal Jaguar F-Type SVR. Chave no bolso, pé no pedal de freio e pressiono o botão de partida. Às 4h30, o V8 5.0 Supercharged despertou emitindo um berro alto e ardido, quebrando o silêncio da madrugada. Esperei o giro cair, coloquei a alavanca na posição D (Drive) e, enfim, o libertei…
Já o havia guiado no dia anterior, do trabalho para casa, mas queria passar um tempo a mais com esse felino. A mística está no fato de o F-Type SVR ser o primeiro carro desenvolvido pela Divisão de Veículos Especiais da Jaguar Land Rover (SVO). Um integrante do seleto clã formado pelos modelos Range Rover SV Autobiography (já à venda no Brasil), Range Rover Sentinel e também pelos conceitos Jaguar XE SV Project 8 e Discovery SVX. E quanto mais acumulava horas de voo nesse jato, mais ficava de queixo caído. Aliás, o F-Type SVR veio do Project 7 (leia quadro), cujo grande responsável foi o designer brasileiro César Pieri.
Tenho um caso à parte com esse Jaguar. Afinal, participei do seu lançamento mundial na Espanha, além de já ter guiado a versão R de 550 cv e, mais recentemente, a V6 S com seus 380 cv. Contudo, o SVR me levou a uma outra dimensão. Os 25 cv extras em relação à versão R vieram da nova calibração do V8 5.0 Supercharged. Mas esse SVR tem também uma série de outras mudanças. Em aerodinâmica, por exemplo, conta com assoalho plano, entradas de ar e divisor dianteiro, respiros laterais elétricos, difusor de ar traseiro otimizado e aerofólio fixo sob a tampa do porta-malas em fibra de carbono.
No seu comando, lembrei de outros três foguetes incríveis: Audi R8, Mercedes-AMG GT R e Porsche 911. Afinal, a sensação de carro de corrida no F-Type SVR começa logo após dar a partida. E ao tirar o pé do pedal do acelerador surge uma saraivada de “pipocos” saindo pelas quatro saídas de escape – seu sistema de exaustão é de titânio e Inconel, sendo 16 kg mais leve em relação ao usado no R. Quando afundei o pé no acelerador, os estouros viraram explosões. Uma pena não conseguir transmitir essa sonoridade por aqui. Esse F-Type SVR não é para motoristas inexperientes, pois a cada acelerada eu sentia um soco no meio do peito. E tudo acontece de forma muito rápida. Ao volante, para não abusar, eu ficava repetindo um mantra: “Tenha respeito por ele”.
A transmissão automática QuickShift de oito marchas foi recalibrada e pude trocar sequencialmente as marchas pelas borboletas. As reduções são música para os ouvidos. Ao contrário do F-Type R de tração somente traseira, que me exigiu um pouco a mais de braço para controlá-lo, o SVR é um monstro controlável graças à tração integral (AWD). Esse sistema foi reprogramado e funciona na proporção 50/50 (padrão), mas, dependendo da situação, pode enviar 20% da força para o eixo dianteiro e 80% para o traseiro – ali o diferencial ativo foi melhorado, enquanto os pneus, com os frontais, cresceram 10 mm para cooperar no controle.
As suspensões “duplo triângulo” em alumínio possuem calibração firme, mas não incomodam no uso diário. Só tive que tomar cuidado redobrado ao vencer valetas e lombadas por conta da altura reduzida da carroceria em relação ao solo. Também me impressionou o comportamento da direção elétrica, muito ágil ao esterço. Indo sem extrapolar o limite do bom senso (talvez só o da estrada), em um determinado momento fui forçado a pisar forte no pedal do freio – não passava pela minha cabeça fazer um estrago nesse superesportivo de quase R$ 900.000. E aquela mesma “pancada” no peito que levei durantes as acelerações se repetiu ao solicitar os freios de carbono-cerâmica; tudo que acelera precisa parar, principalmente um carro cuja velocidade máxima é de 322 km/h.
O F-Type SVR é rápido igual ao vento e, na balança, tem relação peso/potência de 2,97 kg/cv. De acordo com os opcionais escolhidos, o peso ainda pode diminuir entre 25 e 50 kg, novamente comparado ao Jaguar F-Type R. Rápido, forte e belo são bons elogios a esse F-Type SVR. Mesmo com tudo isso, ele não se esquece de oferecer muito luxo e esmero, o que é comum nos carros da Jaguar. Por dentro, a cabine é inteiramente forrada em alcantara e outros mimos a mais estão disponíveis, só para citar. Ah, como é bom ter dinheiro!
F-Type Project 7
O maior responsável pelo Jaguar Project 7 foi o designer brasileiro
César Pieri. Segundo ele, o carro foi criado e desenhado durante o tempo livre nas sextas-feira. E o ponto de partida foi uma miniatura de
Jaguar D-Type, que ele deixava sobre a mesa. O lançamento do Jaguar Project 7 ocorreu durante o Festival de Velocidade de Goodwood de 2013, na Inglaterra. O nome é um reconhecimento às sete vitórias do fabricante em Le Mans, entre os anos de 1951 e 1990, enquanto a pintura azul
presta uma homenagem aos Jaguar D-Type de 1956 e 1957.
Ficha técnica:
Jaguar F-Type SVR
Preço básico: R$ 883.112
Carro avaliado: R$ 883.112
Motor: 8 cilindros em V 5.0, 32V, compressor volumétrico
Cilindrada: 5.000 cm3
Combustível: gasolina
Potência: 575 cv a 6.500 rpm
Torque: 71,4 kgfm de 3.500 a 5.000 rpm
Câmbio: automático sequencial, oito marchas
Direção: elétrica
Suspensões: braços sobrepostos (d/t)
Freios: carbono-cerâmica (d/t)
Tração: integral
Dimensões: 4,475 m (c), 1,923 m (l), 1,311 m (a)
Entre-eixos: 2,622 m
Pneus: 265/35 R20 (d) e 305/30 R20 (t)
Porta-malas: 310 litros
Tanque: 70 litros
Peso: 1.705 kg
0-100 km/h: 3s6
Velocidade máxima: 322 km/h
Consumo cidade: 5,7 km/l*
Consumo estrada: 8,6 km/l*
Emissão de CO2: 207 g/km
Nota do Inmetro: E*
Classificação na categoria: D* (esportivo)
*dados da versão V8 R