Em Belo Horizonte, o Fiat Argo é avaliado pelo nosso parceiro da revista Italiana Quattroruote

Desenvolvido no Brasil, o Fiat Argo pode substituir o Punto também na Europa. É o que se discute dentro da sede da Fiat na Itália, segundo fontes de nossa parceira italiana, a revista Quattroruote. E se eventual importação dos carros feitos em Betim (MG) para lá se concretizar, o Fiat terá feito o caminho contrário do arquirrival (por enquanto só no Brasil) VW Polo, lançado lá e depois aqui.

Essa provável ida do Argo à Europa daria bons argumentos para os fãs do novo Fiat se defenderem das críticas dos fãs do novo Volks (ah, essa eterna rivalidade…!), que alegam que enquanto o Polo é um carro moderno e global, igual ao vendido na Europa, o Argo é um modelo inferior, feito para nosso pouco exigente mercado.

Nesse ponto, devo ressaltar que não é bem assim: do mesmo modo que o Polo europeu foi “empobrecido” para o mercado brasileiro (em pontos como acabamento interno, bancos e equipamentos…) e não é idêntico ao Europeu, o Argo teria um discreto upgrade nesses pontos – e em alguns outros – para se adaptar à realidade do mercado do Velho Continente.

O problema da Fiat italiana hoje é que o Punto não terá um substituto desenvolvido por lá, onde está em um nicho muito numeroso para ser ignorado, mas pouco lucrativo para compensar novos investimentos. Assim, há uma briga interna entre os que querem abandonar o segmento e os que acham que o Argo, com ajustes – pode servir bem à missão de encarar, além do Polo, Toyota Yaris Hatch (não o que será feito aqui), Ford New Fiesta (que acaba de ganhar nova geração lá) e Renault Clio.

O italiano andou no Fiat Argo 1.8 manual e no 1.3 com câmbio automatizado

A prova dessa possibilidade de levar o Argo à Europa foi a própria Fiat quem deu ao convidar o redator-chefe da Quattroruote, Roberto Lo Vecchio, para uma viagem ao Brasil que incluiu uma visita à fábrica de Betim (MG) e um test-drive do modelo. “A marca não me convidou para essa viagem intercontinental só para me agradar”, brinca ele, “mas para sondar a opinião da imprensa especializada, e depois do público, sobre o modelo”. E ele pergunta: “Será que o Argo encara bem uma briga com Polo e cia. em um mercado ‘Maduro’”?

O jornalista italiano fica impressionado com a má qualidade do asfalto brasileiro, cheio de buracos e com muitas lombadas não sinalizadas – e foi uma dessas que ele logo encontrou ao volante do Argo. “Quando vi era tarde, e o fotógrafo disse que tirei as quatro rodas do chão”. O incidente rendeu elogios às suspensões: “o Argo se recompôs rapidamente, recuperando o controle mesmo com as duas rodas da direita caindo na pista de  terra à beira da estrada”.  

O nosso parceiro observa ainda que as suspensões do Argo unem muito bem duas características pouco conciliáveis – handling (controle dinâmico) e conforto. “O Argo filtra bem as asperezas, mas esse conforto não prejudica a dinâmica: ele entra em curvas de modo decisivo, a rolagem da carroceria é contida e o comportamento é neutro”. Mérito do equipe liderada pelo Italiano Claudio de Maria, responsável pelo desenvolvimento dos “nossos” Fiat de 2005 a 2008, e, de novo, desde 2011 (também dos Jeep).

Claudio De Maria, o italiano responsável pelo desenvolvimento do Argo

Lo Vecchio havia visto o Argo só por fotos, e se impressiona com o interior: “os materiais são logicamente típicos do mercado brasileiro, os plásticos não têm aquela mistura fina que enriquece os modelos europeus [NR: nem os do Polo nacional], mas o design é limpo e agradável, com linhas horizontais, embelezado por uma tela digital ‘flutuante’ de estilo similar ao dos Mercedes”. E segue impressionado pela montagem: “Está no nível dos melhores alemães, com encaixes perfeitos, sem folgas ou rebarbas e com muita solidez, mesmo em pontos muitas vezes esquecidos, como as partes inferiores da cabine”.

O interior do Argo impressionou o jornalista italiano pela qualidade de montagem e acabamento

Sobre o motor E.torQ, o mais potente da gama, o jornalista tem elogios e críticas. Diz que está bem casado com as duas opções de transmissão, mas que não tem na agilidade sua melhor qualidade, pois as respostas são um tanto lentas. Ele gostou bem mais do 4 cilindros 1.3, com bom torque em baixas rotações, e elogiou também a atuação do câmbio GSR, bem mais rápido que o antigo Dualogic. Elogiou também o 1.0, que achou bastante leve e eficiente – e está preparado para receber o turbo, assim como o 1.3 – que, sobrealimentado, deve aposentar o 1.8 em 2019.

O italiano também aproveitou para conhecer Hyundai HB20 e Chevrolet Onix, os líderes de mercado. E logo concluiu que “nenhum deles é páreo para o Argo”. Mas o que ele conclui sobre o Argo? Seria páreo para Polo e cia. no mercado europeu?

Quem responde primeiro é De Maria: “Do ponto de vista técnico, certamente; se aqui é um hatch B [compacto] Premium, na europa será um bom hatch B – melhor que o Punto em conforto, dinâmica e habitabilidade”, crava o chefe de engenharia de Betim. “Teríamos apenas que adequá-lo às normas europeias: luzes e, principalmente, proteção ao pedestre; seria necessário aumentar para-choques ou reprojetar o capô”. Mas ele não dá uma resposta definitiva, por motivos estratégicos. A única coisa que De Maria revela é que “não seria um produto lucrativo, apesar do interesse que despertou, pelo menos não com os 30% de imposto que pagaria para entrar na Itália importado do Brasil. “Mas mudando as regras do mercado, tudo muda”, completa.

No aeroporto, voltando para a Itália, Lo Vecchio vê um Argo exposto. Ele está ná área de embarque, e não na de desembarque. “Será uma visão profética”, brinca o jornalista.