Ao lado, no kart, em1989 ; acima, sua estreia na F-1600, um ano depois

Suas duas maiores conquistas: na Fórmula Indy Light (à esq.) e na Fórmula 3 Sul-Americana (acima)

Na década de 1980, Suzane Carvalho vivia o auge de sua carreira como atriz. Com atuações em novelas, oito filmes e peças de teatro (entre elas O Analista de Bagé), virou símbolo sexual e posou nua para revistas masculinas. Suzane tinha tudo para fazer inveja à maioria das jovens de sua idade, mas seu maior sonho era mesmo ser piloto. Desde pequena gostava de carros, mesmo sua família sendo toda voltada às artes cênicas.

“Teve até piloto que contratou gente para me tirar da pista”

Suzane Carvalho, sobre o preconceito que teve que enfrentar quando começou a se destacar nas pistas

Aos 25 anos de idade, em 1989, enquanto fazia uma sessão de massagem, Suzane viu no jornal um anúncio de uma escola de pilotagem de kart. “Não pensei duas vezes, liguei e agendei uma aula”, conta. Depois de fazer o curso, logo se inscreveu para o Campeonato Brasileiro de Kart. A partir daí, a atriz largou sua careira (na época, estava envolvida em quatro projetos artísticos) para se dedicar ao automobilismo. “Minha família até hoje pega um pouco no meu pé, mas é nas pistas que eu me sinto bem”, diz Suzane. “Meu pai me liga e diz: ‘Filha larga isso’. E pergunto “Por que, pai’. E ele responde: ‘Não sei por que, mas larga'”, conta se divertindo.

Menos de um ano depois da primeira experiência no kart, Suzane já brilhava nos principais campeonatos do País. Entre suas maiores conquistas estão os campeonatos brasileiro e carioca. “Decidi correr de carro, porque conhecia um piloto que, além de competir de kart, disputava a Fórmula 1600. Eu geralmente andava na frente dele nas corridas, então achei que poderia ser competitiva com os carros também”, conta. Além da Fórmula 1600, ela participou também da Fórmula Ford, Fórmula 2000 canadense e Fórmula 2000 italiana.

Mas apenas em 1992, na Fórmula 3 Sul-Americana, a piloto conseguiu verba para fazer um campeonato completo. E, de cara, conquistou o título de campeã sul-americana de Fórmula 3 na categoria B. Com isso, escreveu seu nome na história do automobilismo internacional, entrando para o Guinnes Book e para a enciclopédia Barsa, como a primeira mulher a ganhar um campeonato de F3. Porém, o auge de sua carreira aconteceu em 1999, quando disputou cinco etapas do campeonato pan-americano de Indy Lights.

Durante toda a sua carreira de piloto, Suzane, por muitas vezes, teve que bancar os gastos do seu próprio bolso. “Investi tudo o que tinha no automobilismo. Tomei muitos calotes de patrocinadores, por isso fui até onde deu para ir”, diz. E como se não bastasse toda dificuldade de patrocínio, ainda enfrentou preconceito de muitos marmanjos, que não aceitavam chegar atrás de uma mulher. “Teve até piloto que contratou gente para me tirar das corridas.”

Apesar de não ter feito nenhum teste na F-1, Suzane considera ter chegado à categoria. “Tive diversas propostas para correr de F1, mas não consegui levantar a verba que, na época, era de R$ 15 milhões”, diz. Hoje, a piloto se dedica aos seus hobbies (dança de salão, fotografia, futebol, computadores), é colunista de jornais, dona de uma escola de pilotagem no Rio de Janeiro que leva seu nome e autora do livro

Curso de pilotagem de kart. Durante a entrevista, ao ser questionada sobre quando alinhou pela primeira vez no grid de largada, Suzane se deu conta de que sua carreira completa 20 anos agora em 2009. Dias depois da entrevista, mandou um e-mail nos avisando, em primeira mão, que, para comemorar a data, correria o Campeonato Brasileiro de Kart deste ano, com uma nova pintura de capacete e que lançará a a segunda edição de seu livro. Ela não para.

Na Indy Light, conseguiu o maior patrocínio de sua carreira, suficiente para cinco corridas

A Copa Clio foi sua última categoria. Agora, ela se dedica às aulas de pilotagem