30/04/2018 - 9:00
Os aspectos financeiros/industriais da Tesla merecem atenção. Não menos interessante é analisar a última promessa de Elon Musk na área automotiva: o Roadster, carro que, se tudo for verdade, muda as regras do jogo. Mas dá para crer que, em dois anos, um elétrico tenha até 1.000 km de autonomia? E essa não é a única promessa mirabolante: aceleraria até 100 km/h em 1s9 e passaria de 400 km/h. Comecemos pelo último dado, lembrando que só o Bugatti Veyron atinge tal marca. E quase não chegou lá.
A potência necessária para atingir certa velocidade deve superar a soma da resistência ao rolamento (com crescimento linear) e do arrasto aerodinâmico (que aumenta ao cubo da velocidade). Para ir de 50 a 100 km/h, são necessários 25 cv além dos já disponíveis, mas para ir de 350 para 400 km/h é preciso muito mais. O aumento de velocidade é igual, mas no segundo caso precisamos de algo entre 550 e 1.000 cv. Uma enormidade.
O gráfico abaixo é suficiente para Musk dormir mal: são precisos mais de 1.000 cv para chegar a 400 km/h. As curvas mostram a demanda em função da velocidade: a branca com aerodinâmica perfeita, a amarela em um superesportivo “normal”. E o Roadster não parece maduro aerodinamicamente. Há outro ponto ainda mais duvidoso: a suposta aceleração de 0-100 km/h em 1s9. Acontece que a capacidade de acelerar um carro depende de muitos fatores, principalmente da famosa relação peso-potência. No outro gráfico da página ao lado, cada ponto mostra a interseção entre a relação peso-potência e o tempo para atingir os 100 km/h.
O problema, então, não é a potência, mas como “botá-la no chão”. O gargalo são os pneus: mesmo dobrando a potência de de um Lamborghini Aventador, dificilmente ele marcaria menos que 2s85 na prova. Já um poderoso Porsche 918 Spyder de 887 cv faz em 2s56, mas o mérito não é dos 150 cv extras – e sim dos melhores sistemas eletrônico de gerenciamento da tração.
Voltemos ao Roadster. Para ir de 0-100 em menos de 2 segundos, não pode exceder 1.000 kg. E para ter os 200 kWh necessários para a hipótese de 1.000 km de autonomia, precisamos de mais de 1.300 kg de baterias, já que têm densidade média de 150 watts-hora por quilo. Em dois anos, as previsões mais realistas dizem que pode subir a 250 – o que a reduziria a 800 kg. Para o resto do carro (inteiro) restam só 200 kg. Caso encerrado.
As hipóteses nesse ponto, então, são duas: ou Musk blefa descaradamente (e muito) ou então ele tem novidades que nem imaginamos em tecnoogia de baterias. Em estado sólido, com grafeno ou algo desconhecido, emprestado da SpaceX – passando a conjecturas mais esotéricas. Só resta esperar por 2020.