Um dos nomes mais respeitados da

F-1, o dono da Brawn GP coleciona polêmicas e conquistas históricas

Enquanto o piloto Jody Scheckter da equipe Wolf cruzava, em primeiro lugar, a linha de chegada do GP da Argentina de 1977, o jovem mecânico inglês Ross Brawn comemorava, dos boxes, o feito histórico da escuderia para qual trabalhava e que vencia uma prova logo em sua estreia na Fórmula 1.

Na época, Brawn prestava serviços avulsos para a equipe e teve a felicidade de colaborar com a vitória que ficou marcada na história do automobilismo mundial. Por coincidência, a façanha só foi repetida no início da temporada deste ano, quando, de maneira ainda mais brilhante, os dois carros da estreante Brawn GP chegaram em primeiro e segundo no GP da Austrália. O mesmo Brawn, que há 32 anos vibrou com a vitória da Wolf, comemorou ainda mais dos boxes a vitória da escuderia que leva seu sobrenome.

O engenheiro, um dos profissionais mais respeitados da F-1, começou sua carreira em 1976, com 22 anos, trabalhando para a March Engineering (montadora de carros de corrida), como operário. Pouco depois, colocava as mãos na graxa em uma equipe da F-3. Sua estreia na F-1 foi em 1978 na recém-criada Williams, na qual cuidou da aerodinâmica dos carros no túnel de vento até 1984, quando passou para a Arrows, da qual se tornaria diretor técnico em 1986.

Por conta de sua vasta experiência com aerodinâmica, em 1989, Brawn saiu da Fórmula 1 para desenvolver os carros da equipe Jaguar Racing na categoria Super Turismo. Lá ajudou a construir o carro que levou o título da modalidade em 1991, ano em que voltou à F-1 para formar, com Michael Schumacher, uma das duplas mais vitoriosas que a categoria já conheceu. Os frutos dessa parceria na Benneton foram dois mundiais de pilotos e um de construtores. Em 1996, Schumacher foi contratado pela Ferrari e levou Brawn. Na escuderia de Maranello, tiveram ainda mais conquistas. Além do trabalho nos carros, Brawn ficou conhecido pelas estratégias de corrida que, bem executadas, trouxeram cinco título mundiais de pilotos e seis de construtores.

Polêmico

Além de conquistas, Ross Brawn também coleciona polêmicas. Na época da Benneton, foi punido por retirar um filtro da mangueira de abastecimento e por desenvolver um assoalho irregular para o carro de Schumacher. Na Ferrari, burlou o regulamento de 2006, colocando aerofólios flexíveis para o alemão. Nesta temporada, a confusão foi em relação aos difusores traseiros dos carros da Brawn GP. Muitos chefes de equipe questionaram a regularidade do equipamento. Flávio Briatore (da Renault) chegou a afirmar que por ser consultor técnico da Fota (Associação dos times da F-1) e assim ter participado do desenvolvimento do novo regulamento, Brawn se beneficiou com o cargo. O caso já foi julgado pelo tribunal de apelações da FIA e o uso dos difusores, liberado. Ficou claro que a Brawn GP não é mais do que um carro muito bem projetado e que a capacidade do engenheiro de interpretar o regulamento fez a diferença nas pistas. “Ainda gosto muito de Flávio, ele é uma pessoa brilhante. Só não concordo com o jeito como viu os fatos”, defende-se.

A parceria entre o piloto alemão e Brawn acabou em 2006, quando o projetista resolveu sair do time italiano. “Tenho um grande amor pela Ferrari. Mas eu já tinha dez anos de casa e não encontrava mais razões para ficar”, explica. Mas a distância das pistas não durou muito. Em 2008, Brawn estava de volta para erguer a equipe Honda, que vinha apresentando resultados ruins. Mesmo dobrando a pontuação da escuderia, não conseguiu convencer a marca a continuar na categoria. Em dezembro do ano passado, a Honda anunciou sua saída da F-1. Confiando no carro que ele mesmo ajudou a projetar para a temporada de 2009 e no talento da dupla de pilotos Jenson Button e Rubens Barrichello, Brawn assumiu a direção da equipe com o apoio temporário da Honda. “Nenhum de nós esperava o fechamento da equipe. Temos assegurado um orçamento por um período razoável. Nos resta construir um futuro estável para o time”, pondera Brawn.

Com a liderança absoluta do mundial de pilotos e construtores já na sétima corrida da temporada, a equipe Brawn GP é a favorita para o título de 2009, seu primeiro ano na categoria. Se isso se confirmar, o feito elevará o nome de Brawn a patamares ainda maiores dentro do automobilismo mundial. Mesmo assim, ele se mantém modesto ao ser comparado com nomes como Enzo Ferrari. “Ele é uma lenda. Não seria elegante me colocar no mesmo nível dele”, diz o inglês, que afirma estar passando por um dos melhores momentos de sua carreira: “Eu gosto de desafios e de estar envolvido em projetos ambiciosos.”