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Apesar de se tratar de um mercado restrito, a oferta de carros com sete lugares vem crescendo no Brasil, especialmente entre os SUVs. Por isso, decidimos colocar frente a frente duas novidades do segmento. De um lado, o Peugeot 5008, que estreou recentemente para aproveitar a onda de sucesso de seu irmão menor, o 3008. De outro, o novo Volkswagen Tiguan, que chegou importado do México na configuração Allspace. Os dois ganharam geração nova há poucos meses. Na Europa, o Peugeot 5008 já vende cerca de 7 mil carros/mês e o Tiguan ultrapassa a casa dos 17 mil carros/mês. No Brasil, esses carros atendem a um nicho bastante específico, mas podem atrair famílias grandes que queiram um carro grande na faixa de R$ 150-180 mil.

O Tiguan Allspace Comfortline, que utiliza motor 1.4 turbo, parte de R$ 149.990 e pode chegar a R$ 156.130 se vier equipado com teto solar panorâmico e cor especial, como a do carro avaliado. É praticamente o mesmo preço do Peugeot 5008 Griffe de entrada, que custa R$ 157.490, mas a versão Griffe Pack sai por R$ 166.490, por conta de alguns sistemas de condução semiautônoma, como piloto automático adaptativo, sistema anticolisão e alerta de permanência em faixa. Na ponta do lápis, mesmo na faixa de R$ 156-157 mil, o Peugeot é mais bem equipado do que o Volkswagen – mas isso não é tudo em um comparativo. Para quem busca itens tecnológicos mais modernos (e um motor muito mais potente), a Volks oferece o Tiguan 2.0 R-Line, que parte de R$ 179.990. Mas aí o concorrente já não é mais o 5008.

Clássico ou inovador?

A peleja entre o Tiguan e o 5008 é uma disputa de tradição contra ousadia. É verdade que a Volkswagen teve sua dose de arrojo ao produzir o novo Tiguan na configuração Allspace, para sete pessoas. Mas quase toda sua ousadia para por aí, pois o visual é bastante conservador e provocou menos reações de admiração do que costuma acontecer com a média de carros novos. Entretanto, o Tiguan tem uma fama maravilhosa, de carro muito bom, então muitos querem conhecê-lo de perto. Já a Peugeot foi além com o 5008. Com todos os elementos que fizeram sucesso em outros carros – especialmente o 3008 –, o SUV francês passa a impressão de ser maior, embora seja menor do que o Tiguan em comprimento (60 mm) e em altura (12 mm). O 5008 só é maior em largura (67 mm) e na distância entre-eixos (50 mm).

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Curiosamente, dirigindo os dois carros, o 5008 passa a sensação de ser mais comprido, provavelmente pela posição mais adiantada e elevada do motorista. Ele também é um pouco mais difícil de manobrar. Por outro lado, o Peugeot não transformou sua maior distância entre-eixos em maior conforto para os ocupantes da terceira fileira de bancos – pelo contrário, é preciso um verdadeiro contorcionismo para entrar e sair do carro, enquanto no Tiguan essa movimentação é simples e natural. É preciso destacar também que o porta-malas do 5008 é bem maior tanto com cinco quanto com sete pessoas a bordo. Na configuração normal, são 780 litros contra 686; usando a terceira fileira, são 237 litros contra 216.

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Outra ousadia conhecida nos carros mais modernos da Peugeot é o volante bem pequeno. Com formato achatado e posicionado próximo das pernas, o volante permite que se leia o quadro de instrumentos por cima dele. É uma posição muito agradável de dirigir e que ganha adeptos dia após dia. Sem contar que a direção elétrica é levíssima, tornando a condução e as manobras muito agradáveis. Já o Tiguan tem um volante bem grande, exagerado até, com a direção mais pesada (nem tanto para causar desconforto). O quadro de instrumentos é visualizado da maneira tradicional, no meio do volante. Ambos possuem borboletas atrás do volante para trocas de marcha, o que aumenta o conforto e a esportividade quando se quer antecipar uma marcha para cima ou para baixo.

Se o formato, as dimensões e a posição do volante já dão ao Peugeot 5008 um ar muito mais futurista na cabine, o painel todo digital completa essa sensação. A central multimídia é quase totalmente tátil, restando apenas um pequeno botão para aumentar ou diminuir o volume do áudio. É uma central multimídia poderosa e fácil de usar. Mesmo assim, quando você tem na tela uma estação de rádio e pretende mexer no ar-condicionado, por exemplo, a operação é mais demorada e menos intuitiva do que no Tiguan. No SUV da Volks, basta girar o botão do ar-condicionado para deixar o ambiente mais frio ou mais quente, sem interferir nos outros sistemas. Claro que o rádio também pode ter o volume reduzido ou aumentado com um simples giro no botão, mas a procura de estação é meio complicada no Tiguan, pois ele mostra o logotipo das rádios ao invés do nome. Alguns logos são ruins de ler e isso atrapalha um pouco – além de destoar do resto do visual do painel (ficou meio cafona).

Parte mecânica

Mecanicamente, os dois carros são muito bons, mas nas configurações avaliadas o 5008 só tem a vantagem de fachada, por oferecer um motor 1.6 de 165 cv contra um 1.4 de 150 cv. Com menos peso, é o Tiguan quem tem desempenho ligeiramente superior. Sua relação peso/torque, por exemplo, é de 62,6 kg/kgfm, contra 66,6 do Peugeot. Assim, suas arrancadas nas ruas são melhores e sua aceleração de 0-100 km/h é 1 segundo mais rápida, apesar de ter a relação peso/potência um pouco pior (10,6 kg/cv contra 9,9). Tudo isso está em conformidade com o DNA de cada marca.

Quando analisamos o conforto, a vantagem é do 5008. O carro tem um rodar mais macio e parece deslizar no asfalto, enquanto o Tiguan “entrega” um pouco mais o trabalho do motor, mas não as irregularidades do piso, pois é um carro muito macio (principalmente para o padrão da Volkswagen). Porém, quando estão com sete pessoas a bordo, a pressão indicada para os pneus do 5008 deixam o carro extremamente duro – e as pessoas que vão na terceira fileira sofrem mais do que no Tiguan. O carro da Volks também é mais equilibrado em curvas, é bem assentado ao chão e deixa a carroceria rolar menos. Na média, o Tiguan parece estar mais ajustado para o desempenho (sem perder nada em conforto) e o 5008 para o conforto (mas perdendo um pouco em desempenho).

Vida a bordo

Os dois carros são agradáveis. Certos mimos do 5008, porém, são ouro puro. Como resistir à massagem disponível nos bancos dianteiros? O carro não apenas faz massagem, como oferece vários tipos de massagem, à escolha na tela multimídia. Os porta-objetos também são excelentes, espaçosos e em grande quantidade. Quanto ao acabamento, a Peugeot caprichou. Praticamente todas as partes do carro onde se encosta o corpo são de couro de ou de plásticos macios aos toque. O plástico duro só aparece na lateral do console central, numa posição onde raramente se coloca as mãos. Atrás, entretanto, o 5008 tem plástico duro nas portas e o banco alto faz com que a cabeça de pessoas altas (1,82 m) raspe no teto. Já a tampa do porta-malas é pesada e o carro merecia um sistema automático.

Dentro do Tiguan, a sensação também é de conforto, só que menos. Os bancos são macios, mas não têm massagem. Plásticos duros são facilmente encontrados no console central e na parte inferior das portas dianteiras. Todo o visual interno do carro é muito mais conservador, apesar de estar em conformidade com as novas tendências de design. O ar-condicionado mais eficiente e facílimo de usar conta pontos a favor do Tiguan, bem como sua dirigibilidade – ele parece ser mais curto e fácil de manobrar, embora seja 6 cm mais longo.

Conclusão

Pelas nossas notas, o Peugeot 5008 e o VW Tiguan conseguiram os mesmíssimos 4,0 pontos, de cinco possíveis. O 5008 foi superior na segurança, nos equipamentos e na central multimídia. O Tiguan ganhou em desempenho, consumo e prazer ao dirigir. Eles tiveram a mesma pontuação em motor, câmbio, conforto e porta-malas. É um incrível empate. Entretanto, quando avaliamos o preço de 11 itens de peças considerados em nossos comparativos, o custo de manutenção do Tiguan explode. O total da cesta de peças do Volkswagen chega a R$ 28.378, enquanto o do Peugeot é de R$ 18.556, uma diferença de quase R$ 10 mil.

Por outro lado, a Volks oferece as revisões de 10.000, 20.000 e 30.000 km gratuitamente, com três anos de garantia sem limite de quilometragem. Na Peugeot, o custo das três revisões até 30.000 km chega a R$ 1.972, também com três anos de garantia. Mesmo assim, o 5008 continua em vantagem por R$ 7.850 (ou de R$ 9.210, considerando os preços). Por ter a manutenção mais barata, por vir mais bem equipado pelo mesmo preço e por ser mais ousado em design e nas soluções do interior, damos a vitória ao Peugeot 5008. Num panorama de mesmice, ele é bom e sai da casinha.