17/10/2018 - 7:00
Não conheço ninguém que tenha comprado uma Chevrolet Spin por puro desejo. Não é um carro “aspiracional”. As pessoas a compram tanto porque não há em nosso mercado carro com porte e espaço semelhantes, muito menos com sete lugares, por preço similar. Lançada em 2012, a minivan sempre foi chamada de “o” Spin pela marca, mas de “a” por nós, que a tratávamos como minivan. Agora, recebe a primeira reestilização e passa a ser definitivamente classificada como “um” crossover. O termo é mais usado para SUVs com base de carro de passeio, mas define modelos que juntam características de diferentes segmentos – exatamente como faz, agora mais do que antes, “o” Spin.
Trata-se de uma reestilização, mas as mudanças nas linhas externas foram significativas: atendendo a pedidos, “o” Spin ganhou mudanças para se aproximar mais dos SUVs compactos: novas linhas do capô, rodas maiores, faróis afilados, lanternas mais horizontais invadindo a tampa… O sucesso da versão aventureira Activ, que já mostramos renovada na edição passada, ajudou a definir o caminho. E é com esse novo visual que a marca quer fazer do Spin mais que um carro familiar com ótimo custo-benefício (daí a campanha #familiaonoff, para mostrar que é um carro além da família, “para toda a vida”). Ter aposentado o estepe na tampa da versão Activ ajuda a aproximar essas versões “normais” dela: parte do plano.
Considerando esse novo Spin como crossover-SUV, o preço é de compacto de entrada, mas o porte é de quase médio – o comprimento é o de um Hyundai ix35. O modelo parte de R$ 63.990, na versão LS, sem multimídia, indo a R$ 68.890 na LT (R$ 1.000 a mais automático), R$ 78.490 na LTZ manual e R$ 81.990 na LTZ automática (as duas últimas com sete lugares). Há, ainda, as já citadas e lançadas aventureiras Activ AT6 (R$ 79.990, cinco lugares) e Activ7 AT6 (R$ 83.490, sete lugares). Todas ganharam equipamentos com a reestilização, como isofix e cinto traseiro central de três pontos. A LT ainda ganhou sensor de estacionamento, retrovisor elétrico e volante multifunção, a LT automática OnStar e piloto automático, e por aí vai. Na LTZ avaliada as novidades são rodas aro 16, camera de ré, sensores de chuva e faróis, luz de posição em LED (não é luz diurna) e couro sintético nos bancos e painéis das portas (dianteiras e traseiras, mas não nos apoios de braço). Pacotes atraentes, mesmo se comparados aos de SUVs menores de valor similar.
E as mudanças internas não se limitam aos pacotes. Aparecem no desenho do painel, com linhas mais retas e acabamento texturizado para um aspecto “chique” (varia conforme a versão). No aproveitamento de espaço, que ganhou versatilidade com a segunda fileira reclinável (seis posições) e corrediça: ela anda 11 cm para frente ou para trás, ampliando o espaço para os joelhos na segunda ou terceira fileiras – ou o porta-malas, que vai de ótimos 553 a 864 litros com cinco passageiros nas versões de sete lugares (mesmo com a terceira fileira apenas rebatida, que rouba cerca de 140 litros, já que os assentos não “somem” no assoalho). E aparecem também no painel de instrumentos: o antigo digital deu lugar a um convencional, o mesmo do Tracker, com computador de bordo mais completo. Para completar, o porta-luvas agora abre para cima.
Claro que para ter preços atraentes o Spin usa uma base barata e faz sacrifícios. Não há ajuste de profundidade do volante nem apoio de braço para motorista, o acesso à terceira fileira (para crianças ou adultos pequenos) é só pela direita, o acabamento ainda deixa a desejar, como a espuma dos bancos, e faltam itens como controle de estabilidade, além de o modelo não ter sido avaliado no teste de colisão do latin NCAP.
Mas o maior pênalti segue na mecânica – com uma transmissão automática com trocas suaves e adiantadas para privilegiar consumo e opção de trocas sequenciais (pelo nada prático botão na alavanca), mas associada a um motor veterano 8V, que, apesar de melhorado, gasta muito e desagrada principalmente pela pouca potência. São 111 cv (etanol), pouco mesmo em um carro leve como o Spin – principalmente carregado. Uma recalibração diminuiu o 0-100 km/h e em cerca de um segundo, mas as ultrapassagens são sofridas e a 120 km/h, com o conta-giros a 2.500 rpm, o nível de ruído é razoável e o consumo piorou – mesmo com a grade ativa melhorando a aerodinâmica mal passa de 11 km/l na estrada (gasolina).
No mais, a direção é leve e as suspensões, macias e confortáveis – mas não espere uma boa dinâmica. Nada que desabone o Spin, afinal a proposta é de carro familiar. E se você quiser a mesma combinação de espaço e/ou conteúdo sem esses defeitos – ou um SUV “de verdade” – vai ter que procurar bem, e mesmo assim pagar mais. Ou vai acabar, como muitos, cedendo ao Spin.
Ficha técnica:
Chevrolet Spin LTZ AT6
Preço básico: R$ 63.990
Carro avaliado: R$ 81.990
Motor: 4 cilindros em linha 1.8, 8V
Cilindrada: 1796 cm³
Combustível: flex
Potência: 106 cv a 5.200 rpm (g) e 111 cv a 5.200 rpm (e)
Torque: 16,8 kgfm a 2.800 rpm (g) e 17,7 kgfm a 2.600 rpm (e)
Câmbio: automático sequencial, seis marchas
Direção: elétrica
Suspensões: MacPherson (d) e eixo de torção (t)
Freios: disco ventilado (d) e tambor (t)
Tração: dianteira
Dimensões: 4,416 m (c), 1,735 m (l), 1,609 m (a)
Entre-eixos: 2,620 m
Pneus: 205/60 R16
Porta-malas: 162 a 199 litros (sete passageiros), 553 a 864 litros (cinco passageiros)
Tanque: 53 litros
Peso: 1.235 kg
0-100 km/h: 11s4 (g) e 11s1 (e)
Velocidade máxima: 170 km/h (estimada)
Consumo cidade: 10,6 km/l (g) e 7,2 km/l (e)
Consumo estrada: 12,8 km/l (g) e 8,9 km/l (e)
Emissão de CO²: 122 g/km*
Nota do Inmetro: C*
Classificação na categoria: B (Médio)*
*estimado