01/03/2010 - 0:00
Um caminhão de areia à frente, uma pista estreita e cheia de curvas, e, quando você menos espera, percebe que o para-brisa do seu carro trincou. Você não está sozinho: um milhão e meio de para-brisas são quebrados todos os anos no Brasil, segundo pesquisa do Instituto Autoglass Socioambiental.
Cada um pesa, em média, 15 quilos. Fazendo as contas, são gerados mais de 22 milhões de quilos de lixo por ano. Espera aí… lixo?
Na realidade, vidro não é lixo – e nem o plástico que fica entre as lâminas de vidro dos para-brisas e vidros laterais laminados. Empresas com preocupação ambiental têm se empenhado, há anos, em dar uma destinação final adequada aos vidros automotivos. Carglass, Saint-Gobain e Autoglass são exemplos.
A última, por meio de seu Instituto Socioambiental, fez um forte lobby no Espírito Santo e conseguiu aprovar, em novembro de 2008, com a ajuda do deputado estadual Luciano Pereira, uma lei que obriga fabricantes e vendedores de vidros automotivos a reciclar ou encontrar outra solução que não deixe esse material no meio ambiente.
Agora, o mesmo instituto tenta aprovar, com a ajuda do senador Renato Casagrande, uma versão nacional da lei. Isso porque não basta contar apenas com a boa vontade das empresas “conscientes”: é preciso obrigar todas elas a fazer sua parte. “Em 2010, estimamos que apenas 10% dos vidros automotivos serão reciclados no Brasil. Em outros países, onde existem leis que tratam desta questão, os índices de reciclagem são muitos superiores”, aponta Fernando Carreira, diretor do Instituto Autoglass.
Mas reciclar, aqui, não é a palavra mágica. Antes disso, há, pelo menos, duas opções. A primeira, e ideal, quando possível, é reparar. Alguns danos, com até dez centímetros de diâmetro, podem ser consertados em poucos minutos (e muitas seguradoras incluem o serviço em suas apólices).
Assim, de 20% a 30% dos vidros automotivos dani cados são recuperados sem gerar lixo, tanto pela Carglass quanto pela Autoglass. Com isso se evita a compra de um novo parabrisa, diminuindo o consumo.
A segunda opção, quando não dá para reparar, é reutilizar. Os cacos pequeninos de vidro para muitos são matéria-prima. A artista capixaba Luza Carvalho, por exemplo, trabalha com design sustentável: ela produz azulejos de resina com vidros de automóvel na composição, formando mosaicos para serem usados como divisórias de ambientes. Sem dúvida uma opção ainda melhor que reciclar.
Em último caso, a solução é reciclar, usando a chamada logística reversa. “O caminhão vai à loja com a carga nova e volta com os vidros quebrados”, explica Carreira. Em vez de levar os vidros quebrados de volta à fabrica, o caminhão os entrega a uma empresa especializada em reciclagem. Lá, o vidro dá origem, entre outras coisas, a vidros de perfume, à parte plástica dos vidros laminados e a outras peças plásticas, usadas em revestimento de carros.
Isso prova que vidros só viram lixo quando os envolvidos no processo de fabricação e venda não têm interesse – ou não são obrigados – em dar uma destinação adequada a eles. Como não dá para contar só com boa vontade, a lei é bem-vinda. Outros países já provaram que funciona.