Aos 37 anos, Guilherme Spinelli vive um dos melhores momentos de sua carreira. Hoje, o carioca de Nova Friburgo é o piloto de rali mais bem-sucedido do Brasil. Seu currículo inclui os títulos de tetracampeão brasileiro de rally cross-country, bicampeão do Rally dos Sertões, bicampeão brasileiro de rally de velocidade, tricampeão da Copa Baja Brasil e bicampeão da Taça Brasil de rally.

Na última edição do Dakar, Spinelli obteve a melhor posição entre os brasileiros. Chegou em terceiro na categoria de veículos a gasolina. O desenhista industrial é, além de piloto, diretor da área de competições da Mitsubishi Brasil e está desenvolvendo uma versão de pista do Lancer Evolution.

O MAIS BEM-SUCEDIDO PILOTO BRASILEIRO DE RALIS ORGANIZA UMA CATEGORIA PARA COLOCAR NO ASFALTO O MITSUBISHI LANCER EVOLUTION

A intenção é criar uma espécie de Copa Mitsubishi Lancer, mas tudo vai depender do custo de desenvolvimento do carro. A ideia é que o piloto pague um valor fixo por prova pelo aluguel do veículo, manutenção e suporte de pista. “O competidor só terá o trabalho de acelerar”, explica Spinelli. Para equilibrar a competição, os carros serão sorteados.

De série, o sedã tem 300 cv de potência, câmbio automático sequencial de seis marchas e tração integral. Com exceção da potência, que poderá sofrer mudanças para a utilização de pneus slick, as características devem se manter. “Estamos até cogitando a possibilidade de usar etanol nos carros”, conta o executivo.

Se tudo correr como o esperado, a modalidade será lançada em 2011. Quanto aos custos, a única certeza é que serão mais baixos que na Porsche Cup. “O carro não está pronto e não sabemos qual o custo de sua preparação”, diz Spinelli. Mesmo com um projeto tão promissor, o piloto foca sua carreira nas competições fora-de-estrada. Ele pretende participar do Rally Dakar 2011 na mesma equipe: “Este ano adotei uma estratégia conservadora. Meu objetivo era terminar bem o rali. Em 2011 pretendo andar mais forte.”

Spinelli foi um garoto precoce. Aos dez anos já dirigia no sítio da família. O gosto por competições fora-deestrada ele herdou do tio José Augusto Spinelli, que participou de ralis durante 15 anos. Em 1990, três dias depois de completar 18 anos, o piloto participou de uma prova de regularidade e, no dia seguinte, de uma de velocidade, que acabou ganhando.

Naquela prova seu navegador foi Carlos Eloilson Longo, dono da mecânica que preparou seu carro como forma de patrocínio. “Ele foi um dos primeiros a acreditar no meu talento”, diz. O veículo era seu próprio carro de rua, um Escort XR3. No ano seguinte, a história se inverteria. Spinelli vendeu o Escort e comprou um Gol que era da equipe oficial da Volkswagen. “Acabei priorizando os ralis e andando no dia a dia com o carro de competição.”

Sem patrocínio, Spinelli ficou sem competir entre 1993 e 1996. Em 1997, conseguiu participar do brasileiro de Copa Mitsubishi Colt, mas no ano seguinte voltou a enfrentar dificuldades.“Decidi parar de correr. Era um hobby que me consumia muito dinheiro. Só voltaria se tivesse condições de bancar o esporte”, conta.

Acima e ao lado, Spinelli no Dakar deste ano e, abaixo, com o navegador Filipe Palmeiro. abaixo(direita), sua mulher e seu filho, acompanhantes nesta aventura

O tempo longe das competições não durou muito. No final de 1999, o piloto recebeu uma ligação do então presidente da Mitsubishi, Eduardo Souza Ramos, convidando-o para fazer o Rally dos Sertões com o patrocínio da marca. Spinelli, que já acumulava dois títulos brasileiros e dois cariocas, não titubeou em aceitar o convite.

Logo em sua estreia em competições cross-country, venceu na categoria de carros a diesel e ficou em quinto lugar na geral. O resultado deixou a montadora tão satisfeita que, além de se tornar piloto oficial, ele foi convidado, em 2000, para coordenar a equipe de competição.

O Mitsubishi Lancer Evolution de competição: 300 cavalos de potência, câmbio sequencial de seis marchas e tração integral. E pode ser que rode com etanol

Atualmente, com o envolvimento total no esporte, Spinelli admite que jamais pensaria que um dia fosse trabalhar com competição. “Para mim era apenas um hobby, não imaginava que poderia ganhar com isso”, admite o piloto, que, na função de executivo, promete oferecer ainda mais opções para quem gosta de acelerar. Prova disso é a futura Copa Mitsubishi Lancer.