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Dos 10 modelos (automóveis e comerciais leves) mais vendidos no Brasil neste ano, apenas três são carros globais: Ford Ka, Volkswagen Polo e Jeep Renegade. É uma triste estatística, que mostra o quanto ainda estamos atrasados em relação ao mercado global de carros.

No entanto, olhando para nosso histórico, o resultado não é tão ruim. Mas também não é bom. Em 2003, quando a economia crescia substancialmente e novas marcas apostavam forte no País (primeiro ano dos arquivos da Fenabrave), tínhamos dois modelos globais na lista dos 10 mais vendidos – Toyota Corolla em oitavo e Peugeot 206 em décimo. Veja o top 10 de 2003:

1 – VW/GOL 180.073
2 – FIAT/PALIO 118.756
3 – GM/CELTA 114.690
4 – FIAT/UNO 96.466
5 – FORD/FIESTA 70.074
6 – GM/CLASSIC 62.031
7 – FIAT/SIENA 37.135
8 – TOYOTA/COROLLA 35.655
9 – GM/CORSA 34.430
10 – PEUGEOT/206 33.139

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Em 2004, a coisa piorou, e apenas um era global: o Corolla caiu para o décimo lugar, e o Peugeot 206 saiu da lista (ficou em 11o). Seguiram-se três anos – 2005, 2006 e 2007 – sem nenhum representante global no top 10. Veja que triste lista – o Fox chegou a ser vendido na Europa, mas fracassou lá, então o consideramos local.

1 – VW/GOL 243.112
2 – FIAT/PALIO 221.732
3 – FIAT/UNO 128.502
4 – VW/FOX/CROSS FOX 126.291
5 – GM/CELTA 126.237
6 – GM/CLASSIC 95.683
7 – FIAT/SIENA 88.721
8 – FORD/FIESTA 68.019
9 – FIAT/STRADA 61.321
10 – GM/PRISMA 54.603

Voltamos a ter um carro global — oferecido ao menos para consumidores da Europa ocidental ou dos EUA –, entre os 10 mais do Brasil só em 2008, quando o Honda Civic foi o nono carro mais vendido do país.

Depois disso, se seguiram longos seis anos – 2009 a 2014 – com um ranking de vendas liderado só por modelos desenvolvidos para o mercado brasileiro – ou, no máximo, para o Brasil e outros emergentes, como Índia (Toyota Etios, Renault Kwid), ou para países do leste europeu (como o Renault Logan, de origem Dacia).

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Uma modernização forçada de nossa indústria veio com o programa Inovar-Auto (lançado em 2013). Então, em 2015, a Ford acertou a mão lançando aqui uma nova geração global do Ford Ka (que havia nascido global e virado local). Conseguiu o colocar como único global no ranking dos 10 mais vendidos do Brasil naquele ano, em um bom quinto lugar. Veja o top 10 de 2015:

1 – GM/ONIX 125.931
2 – FIAT/PALIO 122.364
3 – HYUNDAI/HB20 110.396
4 – FIAT/STRADA 98.631
5 – FORD/KA 90.187
6 – VW/GOL 82.746
7 – VW/FOX/CROSS FOX 79.590
8 – FIAT/UNO 79.461
9 – RENAULT/SANDERO 78.174
10 – GM/PRISMA 70.336

Em 2016, a coisa melhorou: o Ford Ka subiu para terceiro, o Toyota Corolla ficou em quinto e o Honda HR-V, que estreara no ano anterior, conseguiu o décimo lugar. Pela primeira vez tivemos três modelos globais no top 10 (e o Jeep Renegade de fora por pouco, em 110). Veja o Ranking:

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1 – GM/ONIX 153.371
2 – HYUNDAI/HB20 121.616
3 – FORD/KA 76.615
4 – GM/PRISMA 66.337
5 – TOYOTA/COROLLA 64.740
6 – FIAT/PALIO 63.996
7 – RENAULT/SANDERO 63.228
8 – VW/GOL 57.390
9 – FIAT/STRADA 59.449
10 – HONDA/HR-V 55.758

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Já em 2017 voltamos a ter só dois modelos oferecidos também em países desenvolvidos na lista dos 10 mais vendidos aqui. O Ford Ka manteve o terceiro lugar, enquanto o Corolla foi sétimo. Em 2018, a coisa melhorou um pouco, com o Ka novamente em terceiro, o VW Polo assumindo a sexta posição e o Jeep Compass apareceu em décimo.

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Agora em 2019, com a divulgação dos números do primeiro bimestre, seguimos com três modelos globais no ranking dos 10 mais vendidos. O Ford Ka melhorou ainda mais seu desempenho, superando o Hyundai HB20 e conquistando o segundo lugar, atrás apenas do fenômeno Chevrolet Onix. A boa notícia é que completam a lista o Volkswagen Polo, em sétimo lugar, e o Jeep Renegade, que ficou em décimo — dois modelos que são fenômeno de vendas também na Europa desenvolvida (só o Polo não é oferecido nos EUA por ser pequeno demais para eles). E o Compass, ainda, segue logo atrás, em 11o.

Essa baixa presença de globais no ranking  não significa que não tenhamos aqui carros mais modernos e as últimas tecnologias automotivas. No entanto, mostra que a enorme maioria dos carros vendidos no Brasil ainda está abaixo do nível de exigência de consumidores como o europeu e o norte-americano.

Em um país onde fabricar carros custa tão caro – por questões trabalhistas, logísticas e  tributárias – e o poder aquisitivo da população é baixo, o resultado não chega a surpreender. As marcas acabam desenvolvendo produtos que atendam ao que o consumidor pode pagar, mesmo que sejam tecnicamente inferiores.

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Mas isso não explica tudo: a presença do Ford Ka na vice-liderança do ranking agora, e com boas posições desde 2015, por outro lado, mostra que, quando há interesse e investimentos da marca em um produto com mais qualidade, mesmo que um faixa de preços mais baixa, ele pode fazer sucesso, sim. 

Será que nosso Ka é ruim para os europeus? Eu diria que não. Pelo que eu saiba, ele não vende muito bem por lá, também por causa do novo Fiesta, mas não há grandes reclamações acerca do modelo no velho continente. E, por aqui, ele é seguramente a melhor opção em seu segmento e em sua faixa de preço – como já mostramos em comparativos (leia aqui o do 1.0).

Se o nosso Ka, praticamente igual ao europeu, consegue ser competitivo e mostrar resultados tão bons, porque a concorrência não consegue fazer igual? Porque temos que comprar VW Gol e não Polo? Porque temos que optar pelo Hyundai HB20 e não pelo i20? Porque temos que andar de Onix e não de Spark ou Sonic? Por que nos oferecem o Renault Sandero e não o Clio?

Você acha importante que tenhamos carros globais nos segmentos de maior volume? Ou os carros devem ser desenvolvidos para nosso mercado, nosso gosto? Nesse caso, melhor fez a Chevrolet, com o líder de vendas Onix? Comente abaixo.

[19/3: o texto foi alterado para incluir Compass em 2018]