Com uma avaliação do novo Toyota RAV4 Hybrid precisa e completa como a do colega Lorenzo Facchinetti, da nossa parceira Quattroruote, que acelerou o carro nas cidades e estradas italianas, fica difícil falar do “nosso” RAV4 Hybrid, lançado hoje oficialmente com preços a partir de R$ 165.990, sem repetição – até porque se trata do mesmíssimo carro.

Mas o novo utilitário esportivo da Toyota faz pensar no consumo, assunto sempre polêmico, mas cada dia mais vital – tanto por questões ambientais quanto pelo custo cada vez mais alto da gasolina. E que consegue ser um tema  ainda mais polêmico quando falamos de carros híbridos.

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No caso do Toyota RAV4 Hybrid, justamente por ser híbrido, o fator consumo tem uma complicação adicional: os padrões de testes do Inmetro, que servem bem aos carros tradicionais, não são tão “verdadeiros” na hora de medir o consumo dos modelos híbridos. Nos padrões do Programa de Etiquetagem Veicular, o RAV4 Hybrid faz ótimos 14,3 km/l na cidade e apenas razoáveis 12,8 km/l na estrada. Números que não impressionam se comparados aos de modelos compactos urbanos como o Peugeot 208 e VW Up, por exemplo.

Nos mesmos testes, o modelo de entrada da marca francesa com seu motor 1.2 aspirado o supera com larga vantagem na estrada, marcando 15,5 km/l, enquanto na cidade o hatch da fabricante alemã, com seu 1.0 também aspirado, roda quase exatamente o mesmo que o RAV4 Hybrid: 14,2 km/l.

E aí é preciso abrir parênteses para considerar outra polêmica: o preço a pagar pela aerodinâmica pior, pelo peso extra e outras características construtivas dos SUVs. Porque um compacto híbrido, ou mesmo um hatch ou sedã, são muito mais econômicos do que um SUV híbrido. Da própria Toyota, o sedã/hatch Prius exige menos potência do motor e faz 18,9 km/l na cidade e 17 na estrada, por exemplo (mas também entrega menos espaço e desempenho).

Então, sendo mais justo e considerando apenas os SUVs, a comparação do RAV4 seria com modelos de porte e preço mais similares aos dele, porém movidos a gasolina – como, por exemplo, Honda CR-V, Chevrolet Equinox e VW Tiguan Allspace R-Line.

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Desses, o que tem desempenho, custo e porte mais equivalente (10 cm mais longo) é o Volks. Enquanto o RAV4 tem 222 cv e torque de 21,4 kgfm a gasolina mais 20,6 kgfm dos elétricos, indo de 0-100 km/h em 8s0, o rival Tiguan Allspace R-Line tem um 2.0 turbo de 220 cv e 35,7 kgfm e vai de 0-100 km/h em 6s8. O Tiguan anda um pouco mais, verdade, mas a vantagem no consumo é enorme para o Toyota:  o VW roda 8,3 km/l na cidade e 9,6 km/l na estrada, segundo o Inmetro – que, de novo, diz que o RAV4 marca 14,3 e 12,8 km/l, respectivamente.

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Já comparado ao menos potente (e mais caro) Honda CR-V , com seu 1.5 turbo de 190 cv, 24,5 kgfm de torque e 0-100 km/h em 8s8 – e comprimento e entre-eixos quase idênticos – a diferença no consumo diminui, mas ainda é bem significativa: o Honda faz 10,4 km/l na cidade e 11,9 na estrada.

 

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Mesmo o mais potente e maior Chevrolet Equinox, com 262 cv e 37 kgfm, não entrega muito mais em desempenho, com 0-100 km/h em 7s6 (só 4 décimos a menos), e também gasta muito mais: na versão AWD faz 8,4 km/l na cidade e 10, 1 na estrada.

Pode parecer pouca vantagem para o Toyota, com tanto alarde em cima dos híbridos, mas não é. Para quem vai comprar um SUV de qualquer jeito, a economia de optar pelo RAV4 Hybrid é significativa. Em uma comparação ainda mais adequada, o próprio RAV4 que sai agora de linha, somente a gasolina e com tração 4×2, faz 9,5 km/l na cidade e 10,9 na estrada. Bem pior que o novo RAV4 Hybrid. Comparado ao modelo a combustão mais parecido com esse Hybrid – o RAV4 4×4 com motor 2.5 e câmbio de seis marchas que a marca já não vende há tempos – a vantagem é ainda maior: a versão sem ajuda elétrica fazia 8,7 km/l na cidade e 10,9 na estrada.

E a superioridade no consumo do novo Toyota RAV4 Hybrid só aumenta quando os percursos são principalmente urbanos, e congestionados. Na realidade, os números podem ser bem diferentes. Porque a maior vantagem dos híbridos está na cidade, onde, grosso modo, quanto mais trânsito melhor: no anda e para, os híbridos vão recuperando energias nas frenagens e acabam melhorando bem seu consumo médio.

No teste que realizamos em Buenos Aires, Argentina, não pudemos avaliar consumo, mas apenas a capacidade off-road do modelo (leia mais na edição de junho da MOTOR SHOW, em breve nas bancas). Mas nossa parceira italiana andou com o carro por vários dias e chegou a números diferentes: médias de 18,6 km/l na cidade (bem melhor que o PBEV) e apenas 12,5 na estrada (um pouco pior).

Moral da história: os métodos oficiais de medição de consumo no Brasil (e na maior parte do mundo) podem ser — e na maior parte dos casos são – injustos com os híbridos. Nos cenários onde devem mais compensar o custo extra (também por benefícios como isenção do rodízio municipal de veículos e descontos em impostos), é onde também mais mostram seu potencial de poluir menos e poupar custos para seu proprietário.

Mesmo assim, com métodos não favoráveis, a vantagem de consumo dos híbridos é bastante notável, principalmente na cidade. E quando testamos esses modelos em situações reais, a vantagem só aumenta. No mundo real, é muito mais fácil marcar 18 km/l no trânsito pesado com o RAV4 Hybrid do que 14 km/l com o Up.

E, mais do que em qualquer outro tipo de carro, nos híbridos a maneira de dirigir de cada motorista afeta o resultado de consumo. A diferença entre dirigir um carro híbrido como ele deve ser dirigido ou não é a diferença entre, na cidade, passar dos 20 km/l ou gastar o mesmo que um “ultrapassado” veículo a combustão. Assim como o motorista reaprende a dirigir quando compra um híbrido como o RAV4, os testes de consumo precisam refletir melhor os benefícios desse tipo de veículo. Fica a dica.