Freios de fibra de cerâmica e carbono são responsáveis por parar esse bólido que roda a mais de 300 km/h. Em parceria com a fabricante de pneus, a Audi conseguiu prolongar a vida do equipamento de 300 km para 491 km, determinante em provas de longa duração

Considerada a mais importante e difícil corrida de longa duração do planeta, as 24 Horas de Le Mans é um dos maiores desafios de desenvolvimento de um carro de corrida. Até por isso seria natural supor que, com tamanho desgaste técnico, a prova tivesse a cada ano uma equipe vencedora. Mas não é o que vem acontecendo. Das 11 provas disputadas, a Audi abocanhou nove (a última realizada em junho).

O segredo para tal domínio é o incrível R15 TDI, um carro desenvolvido exclusivamente para as competições, com estrutura em fibra de carbono e alumínio e que pesa apenas 930 kg. Equipado com motor V10 de 5,5 litros TDI a diesel, que desenvolve 590 cv de potência e 107 kgfm de torque, o protótipo estreou nesta edição de Le Mans dois turbo compressores com turbinas de geometria variável. A tecnologia já não é novidade nos carros de rua, mas nunca havia sido usada em uma competição. De acordo com a marca, ela garante maior eficiência com motores menores e mais econômicos, que precisam aguentar temperaturas acima dos 1.000º C. Para freá-lo em velocidades acima dos 300 km/h o bólido possui freios de cerâmica e fibra de carbono.

O motor V10 turbodiesel de 590 cv de potência incorporou, este ano, a turbina de geometria variável para beneficiar o desempenho e o consumo, que melhorou 10% nos últimos dez anos

Desde 1999, quando estreou na competição, a Audi nunca economizou. Atualmente, são 200 pessoas para cuidar dos três carros oficiais. Este ano, dez semanas antes da prova, uma equipe já estava no autódromo para recolher amostras do asfalto e fazer o acerto dos carros. Calcula-se que a marca gaste com sua divisão Motor Sport (que inclui, além do campeonato da Le Mans Series, também a DTM e a GT3) o mesmo que a Ferrari gasta com sua equipe de Fórmula 1, ou seja, entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões por temporada.

Mas essa mistura de longa duração e altas velocidades tem uma importância muito grande para as fábricas. “Não é força de expressão. Le Mans é mesmo um laboratório para a Audi”, diz o presidente da marca no Brasil, Paulo Sergio Kakinoff. “Muitos dos componentes testados aqui depois são incorporados aos nossos modelos”, completa Kakinoff durante a prova deste ano.

Prova disso é o R8. O esportivo foi o primeiro carro a representar a marca na competição. Até por isso a marca chama o protótipo de R15, pois ele é resultado da evolução do R8. Outro fato que comprova o caráter de laboratório da corrida é que nos últimos dez anos a Audi, junto com a Michelin, conseguiu melhorar em mais de 50% o desempenho dos pneus. No começo da década, eles duravam 300 km, hoje rodam por 491km. O consumo de combustível também melhorou em 10% desde que a marca começou a correr Le Mans. Isso fez com que a prova tivesse a maior media de velocidade da história: 225 km/h.Assim, o R15 é um dos carros que menos param nos boxes para reabastecimento e troca de pneus, o que lhe garante uma vantagem considerável numa prova de longa duração.

Não se sabe até onde a Audi pretende chegar, mas, hoje, o que ela vem conseguindo de fato é derrubar os recordes que ainda existem por lá. E, pelo que demonstrou nesta última década, ou alguém se mexe ou não será nada difícil para a marca de Ingosltadt atropelar os números que ainda faltam ser batidos.