01/02/2011 - 0:00
BIA FIGUEIREDO
“Quando perguntam o que faço, costumo responder que sou arquiteta – só para não chamar todas as atenções para mim”
Vítima do trânsito caótico de São Paulo, ao voltar de um treino de kart, a piloto Ana Beatriz Figueiredo se atrasou alguns minutos para a entrevista marcada em sua casa. Tempo suficiente para José Caselato receber a equipe de MOTOR SHOW e mostrar o quanto é um avô coruja. Ele nos apresentou com orgulho um quartinho que ele e o pai de Bia montaram apenas para
guardar troféus, macacões e pôsteres da piloto.“Agora que ela está na Indy, iremos ampliar o cômodo, porque se Deus quiser teremos ainda mais troféus e aqui não há mais espaço”, conta.
Apesar do total apoio da família, a paixão de Bia pelo automobilismo não foi herdada de ninguém. “Quando eu tinha uns 6 anos, meu pai me levou para assistir a uma corrida de kart em Interlagos. Fiquei maravilhada e pedi para começar a correr”, conta a piloto – que, depois de dois anos, teve o pedido atendido. Daí por diante, disputou vários campeonatos de kart entre 1994 e 2003. Durante esse período, foi vice-campeã paulista, brasileira e da seletiva Petrobras e campeã da Copa Verão de Kart e da Copa Petrobras Sorriso Campeão. No automobilismo, impressionou por ter sido vice-campeã de Fórmula Renault. Também foi a primeira mulher no mundo a ganhar uma corrida na categoria, a conquistar uma pole position na F-3 e a vencer na Fórmula Indy Light – categoria na qual, em 2008, foi premiada pela organização com o Rising Star Award (“Prêmio Estrela em Ascenção”) e, em 2009, como piloto mais popular da modalidade. No ano passado, a Bia – que dispensou o sobrenome Figueiredo nas pistas para facilitar a vida dos americanos que não conseguiam pronunciá-lo – participou de quatro corridas da Indy. Sua estreia foi na prova de São Paulo, onde terminou em 13º lugar, sendo a melhor estreante. Sua última façanha foi vencer a segunda bateria do Desafio Internacional das Estrelas, superando Rubens Barrichello, Tony Kanaan, Jaime Alguersuari e Felipe Massa, entre outros nomes de peso. Este ano, ela está em negociação para fazer a temporada completa da Indy.
No alto, ainda criança, com o piloto Nelson Piquet e seu filho Nelsinho. Acima, o kart rosa do início de carreira e junto a André Ribeiro, um de seus empresários. Ao lado, Bia comemora sua vitória no Desafio Internacional das Estrelas, competição realizada em dezembro em Santa Catarina (na qual derrotou pilotos de F-1). Abaixo, a piloto comemora no pódio da Indy Light e, abaixo, estreia na Indy, em São Paulo
Mesmo com o vasto currículo em um esporte considerado masculino, a paulista de 25 anos não dispensa batom, maquiagem e salto alto. “Eu já trabalho com um monte de homem. Se começar a me vestir como eles, vai ficar estranho”, brinca. Bia também conta que ser piloto atrai muito a atenção das pessoas. Por isso, às vezes prefere mentir para não causar tanto espanto. “Quando saio com minhas amigas e me perguntam qual é a minha profissão, respondo que sou arquiteta”, revela a piloto.
Com a carreira gerenciada pelo ex-piloto André Ribeiro e por seu exchefe de equipe na Fórmula Renault e na Fórmula 3 Augusto Cesário, Bia tem tudo para ser um ídolo nacional. Mas, para isso, sacrifica bastante sua vida pessoal. Aconselhada por seus managers, Bia já chegou a terminar um namoro para focar mais na carreira. “Além do verdadeiro, tenho três pais a mais: o Nô, meu treinador de kart, o Cesário e o André. Para me namorar, o cara precisa ter a aprovação de todos eles”, brinca. Com tanta dedicação, tudo indica que seu quartinho dos troféus ficará cada vez mais cheio, mesmo depois da reforma.