12/05/2020 - 8:30
Há um disputa feroz pelo quarto lugar do mercado automotivo brasileiro. A Ford se manteve por muito tempo isolada nesta posição, como você pode ver no gráfico abaixo. Mas outras marcas chegaram ao mercado com força, a Ford cometeu erros estratégicos, e, hoje, luta para manter não ser ultrapassada por três de uma vez – Toyota, Hyundai e Renault. Quem vencerá a disputa?
No gráfico acima, dá para ver claramente como Hyundai, Toyota e Renault vieram crescendo de modo constante, enquanto a Ford, que teve 12% do mercado em 2005, veio caindo, com algumas discretas recuperações pelo caminho. Considerando as quatro marcas deste segundo pelotão, em 2016 a Ford perdeu por muito pouco para Hyundai e Renault. Em 2017, voltou a liderança. Em 2019, perdeu para a Renault. No resultado do ano passado, perdeu de novo parava Renault.
O último dado considerado aqui é o de fevereiro de 2020, pré-pandemia, porque depois disso não dá pra contar mais nada direito. No acumulado dos dois primeiros meses do ano, a coisa empatou totalmente: exatamente 7,93% para Renault e Toyota, 7,89% para Hyundai e 7,83 para a Ford.
Com 8% cada, grosso modo, elas têm metade da participação de mercado das líderes Chevrolet, com 18,37%, e Volkswagen, com 16,22% (a Fiat fica um pouco atrás das duas, com 13,92%, mas, se somarmos a Jeep, com quem dividiu suas vendas, tem mais ou menos os mesmos 18 da Chevrolet). Atrás das quatro, no terceiro pelotão, ficam Jeep, Honda e Nissan, com mais ou menos metade, cerca de 4 a 5% cada.
Então, pensando adiante, em um exercício de futurologia, quem assumirá definitivamente a liderança deste segundo pelotão e tem alguma chance de ameaçar as três grandes? Toyota, Hyundai, Renault ou Ford?
FORD: decadência e novas apostas
Na opinião deste blog, dessas quatro marcas a Ford é a que tem menos condições de retomar a posição que já foi sua. Isso porque, como parte de sua estratégia mundial, a montadora decidiu abandonar a produção de veículos de passeio e focar todo o seu poder em caminhonetes e utilitários esportivos. A marca, inclusive, tem planos de lançar em breve no Brasil o Territory e a nova geração do EcoSport.
Tal decisão de investir nessas novas apostas deve fortalecer significativamente a participação da Ford nos segmentos de SUVs, tanto médios quanto compactos. Por outro lado, ao sair do segmento onde atuava o Fiesta e sem um futuro muito promissor para o Ka, que hoje é o seu produto mais vendido, a Ford dificilmente voltará a ter participação de mercado acima dos 10%. Fechar a fábrica em São Bernardo do Campo certamente não vai ajudar. a Ford tem um novo papel, e não é ser líder de mercado. Isso não parece estar em seus planos.
RENAULT: sem onde crescer
Observando mesmo gráfico, podemos ver que a Renault é uma das marcas que tem o crescimento mas constante desde o século passado. A marca ganhou muito volume com o Kwid no segmento de entrada, onde as vendas são bastante numerosas, e isso certamente ajudou. O Sandero e o Logan também são carros que também tem grande participação no mercado, e em segmentos numerosos, o que também ajudou bem.
Além disso, no período analisado, a Renault cresceu substancialmente sua participação no segmento de SUV compactos, onde chegou inclusive a liderança com o Duster. Mais recentemente, ainda reforçou sua atuação com o Captur.
Agora, com a renovação da família Logan, e também a renovação dos dois utilitários esportivos, além da adição de professores motores turboflex Renault deve mais uma vez crescer. Mas, sem produto para entrar e disputar com competitividade o segmento de sedãs médios, apenas vai se renovar em segmentos que já atua, sendo assim difícil ganhar muita participação extra no mercado.
Nem mesmo um SUV médio que seja competitivo a marca tem, que também poderia trazer um volume interessante (vide o Jeep Compass). Este blog aposta, então, que a Renault cresça e possa passar dos 10%, mas não muito mais do que isso, principalmente tendo em vista o que pode buscar no mercado externo e em que segmentos continuaria ausente.
HYUNDAI: acertos e tropeços
Como também se pode ver no gráfico, a Hyundai foi uma marca que feio crescendo com a competente atuação do grupo Caoa, apenas com SUVs, e boa parte importado, até 2012. Boa parte desse resultado veio da primeira geração do Tucson, que disputava com SUVs compactos, e das gerações posteriores que conviveram com essa primeira.
Em 2012, houve a chegada oficial da Hyundai no Brasil. Com a inauguração da fábrica em Piracicaba e o lançamento de modelos para os segmentos de maior volume do mercado (notadamente o fenômeno HB20, com as variações HB20S e HB20X), a marca saltou posições no mercado e cresceu muito rápido.
Mas a Hyundai demorou para renovar a família HB20, e foi perdendo participação de mercado. Agora, que renovou, ousou demais no design e isso talvez esteja lhe custando algumas vendas. No entanto, com a pandemia do coronavírus, não dá para saber bem como o consumidor reagiu as mudanças. Por que ao menos na parte mecânica elas foram para melhor. A MOTOR SHOW, inclusive, o elegeu Compra do Ano 2020.
Os próximos modelos a serem renovados na linha Hyundai são os SUVs. O Creta é o mais importante deles, pelo segmento que atua e pela posição que já alcançou nele. mas, ao menos em outros mercados, ele ganha um design ainda mais polêmico que o da família HB20. Se chegar assim ao Brasil pode não recuperar os números de vendas que já teve e atrapalhar a Hyundai nessa disputa para se consolidar no quarto lugar.
De qualquer modo, por mais que a Hyundai acerte nas mudanças, ou que o consumidor aceite os designs estranhos em troca dos bons acertos mecânicos, ainda são renovações de segmentos onde a marca já é forte, como ocorre com a Renault. Aí fica mais difícil ganhar participação de mercado.
Assim, a Hyundai é outra marca que, na opinião deste blog, não deve superar muito os 12% a médio prazo. Se é picape à la Fiat Toro for mesmo feita, as chances aumentam um pouco se considerarmos o que estrada e toro tem de volume no mercado. Aí a Hyundai poderia chegar a uns 14 ou 15%.
TOYOTA: questão de estratégia
Na opinião deste blog, das quatro marcas aqui, qual tem mais chance de se desprender do grupo e ir disputar o terceiro lugar com a Fiat é a Toyota. Mas isso vai depender muito da estratégia que ela adotar. Isso porque, apesar de a marca ter uma linha com diversos modelos, é fraca em alguns dos segmentos em que atua. As vendas do Camry, por exemplo, são insignificantes. Enquanto isso, o Prius é um carro muito de nicho e SW4, RAV4 e Hilux, por mais que vendam bem, não são carros de volume, por causa de seus valores já bem acima dos R$ 100.000.
No segmento de maior volume que a marca disputa, o Etios já teve uma participação interessante e o Yaris nunca decolou mas também não vende tão pouco assim. os dois modelos de entrada tem versões Hatch e Sedan com potencial, mas sempre pisaram um pouco na bola, seja no design ou acabamento, e acabaram não sendo fenômenos de venda.
Há boatos de que a produção do Etios será suspensa. Seria um grande erro da marca. Ainda há espaço para retrabalhar o modelo e ter uma participação sólida e volumosa no segmento de entrada, abaixo do Yaris. Aliás, o Yaris é outro que, com alguns acertos no rumo errado que já chegou tomando, pode vender muito mais e dar robustez aos números da marca. Já o Corolla não precisa de mais. Já vende muito bem, obrigado.
Assim sendo, o mais importante para a Toyota, e que poderia levá-lá definitivamente a disputar o top três do mercado nacional com a Fiat, seria investir mais no segmento de utilitários esportivos na faixa de R$ 80 mil a R$ 170 mil, onde hoje a marca não tem nada.
O SUV Raize é forte candidato a disputar no segmento de SUVs compactos, mas nada tira da cabeça do autor desse blog que a melhor coisa que a Toyota poderia fazer era desenvolver um SUV abaixo do RAV4, que usasse a plataforma do Corolla mas tivesse custo e proposta mais acessíveis para o consumidor brasileiro. Seria um modelo para colocar a Toyota, de uma vez e sem dúvida, entre as três maiores do mercado nacional.