A avaliação oficial do Chevrolet Tracker feita pela MOTOR SHOW você leu aqui, e foi bem positiva. Usando o SUV compacto no dia a dia, porém, apareceram outros detalhes e opiniões pessoais, que mostro nesta avaliação do Blog Sobre Rodas. Mais opinativa, mais subjetiva, como esse espaço permite.

Minha conclusão, depois de ficar com Chevrolet Tracker Premier como meu carro de uso diário por algumas semanas: a nova geração do SUV compacto mistura boas características do Jeep Renegade e do Volkswagen T-Cross, os dois modelos que disputavam a liderança do segmento antes do caos da pandemia. Não é que o Tracker mostre apenas o melhor dos dois, o que resultaria numa fórmula quase perfeita. Ele também tem defeitos.

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QUESTÃO DE BASE

(Foto: divulgação)

Renegade e T-Cross são feitos a partir de plataformas nobres, que são até vendidos ao exigente consumidor europeu. Já o Tracker é parte da família Onix, feita para mercados emergentes. Tem certas economias que os olhos veem e outras que eles não veem – mas o motorista mais sensível percebe.

CABINE

Mas, primeiro, vou falar do que vemos. Apesar de a plataforma do Tracker ser mais simples, em termos de espaço interno ele me pareceu maior que os dois modelos citados – esposa e crianças elogiaram esse ponto. O porta-malas acomoda 393 litros de bagagem: não é grande como o do Honda HR-V (437 litros), tampouco pequeno como o do Renegade (320). E ainda tem um espaço extra debaixo da prateleira do porta-malas, “escondido”.

Tracker
(Foto: Flávio Silveira)

Já no acabamento interno, o Tracker fica bem mais próximo do T-Cross. Tem muito plástico duro, com algumas texturas para tentar disfarçar esta economia. É o “novo normal” dos painéis, mas, perto do acabamento caprichado do Jeep, fica devendo bastante.

Não há como entrar na cabine do Tracker e, por mais que não seja um Onix, se sentir quase num Onix. O teto-panorâmico tem cortina elétrica e é um dos itens que o afasta um pouco mais do hatch, mas isso vem só na versão de topo e os dois rivais também têm, para quem está disposto a pagar. Não o destaca, só iguala.

Tracker
Detalhes do acabamento texturizado do painel (Foto: Flávio Silveira)

No cotidiano, gostei da central multimídia com botões do volume, de mudança de faixa e “home” todos físicos, sem depender do touchscreen e permitindo configurações mais rápidas. Seu posicionamento também é bom, mas o ângulo de inclinação da tela faz com que se enxergue quase só reflexos do céu ao abrir o teto.

Tracker
Central tem botões “normais” e é fácil de usar, mas reflete muita luz, principalmente com teto aberto (Foto: Flávio Silveira)

SENSAÇÕES

Se o acabamento parece com o do T-Cross, ao sentar no banco do motorista a sensação é de se estar um pouco mais alto que nos demais carros, e nesse ponto o Tracker se aproxima mais do Renegade. É parte da tão cobiçada “sensação de SUV.”

As suspensões mais “moles”, ou macias, também se esforçam para dar a sensação de se estar em um legítimo SUV. Mas falta a tradicional robustez e o maior isolamento do conjunto que costuma aparecer na suspensão desses tipos de carro.

Tracker
(Foto: Flávio Silveira)

Ao passar em buracos ou pisos ruins, a maciez do Tracker não se traduz bem em conforto, o ruído de atuação é alto… falta, enfim, refinamento. Algo que o Jeep e Volks têm, mesmo que com acertos diferentes: no Renegade, mesmo com um conjunto não tão macio, sobra robustez. No T-Cross, a suspensão é mais de hatch, mais firme, no que isso tem de melhor e de ruim (dinâmica e desconforto, respectivamente).

MECÂNICA

Já no desempenho geral, na hora de acelerar, o Tracker fica muito mais próximo do Volks – na versão 1.0. Isso porque, apesar de seu motor ser maior que o do VW e que o das versões de entrada do próprio Tracker, nessa versão topo de linha Premier que testei, o motor 1.2 também é tricilíndrico.

O que significa? Que há mais um pouco mais de aspereza e trepidação, além de um ruído característico dos três cilindros, que não agrada a todos. De qualquer modo, eles aparecem mais quando se exige muito do motor. Se não quiser senti-los, basta conter o pé direito – e mesmo assim, como o T-Cross, o Tracker gastará menos e andará mais que o Renegade com seu arcaico 1.8 (que está prestes a ser aposentado; leia aqui). 

No uso comum, o motor 1.2 trabalha quietinho. Na cidade, marquei médias de 7,5 a 8,5 km/l com etanol no tanque, o que é muito bom, considerando onde moro. Pena que falta alguma sutileza nas respostas ao comando do acelerador, e ouvi algumas reclamações da família sobre saídas meio brutas.

DINÂMICA

Na hora de pegar estrada, o monitor de distância do carro da frente é interessante, nos deixa mais prudentes. E mais seguros, sabendo que o carro pode frear sozinho quando necessário. Mas não é um carro pra se andar rápido. Pois, apesar da mecânica similar, na dinâmica ele se afasta bem do T-Cross.

Tracker
Há um botãozinho na alavanca para trocas manuais, em vez de aletas. nem dá vontade de usar (Foto: Flávio Silveira)

O fato de não ter aletas para trocas sequenciais de marcha – mantém o botãozinho na lateral da alavanca – me deixou bem decepcionado. Ainda é preciso mudar a alavanca para o modo L para interferir, e o sistema meio que ignora a vontade do motorista.

As suspensões extra macias já citadas mão ajudam nas curvas e desvios repentinos de trajetória, enquanto a direção tem um acerto que agrada na hora de manobrar na cidade, mas não na hora de dirigir mais esportivamente. Não é a pegada do Tracker.

Mesmo nos 110/120 km/h regulamentados, com o conta-giros na faixa de 2.200 rpm, o Tracker fica devendo a sensação de segurança. A carroceria oscila um pouco mais do que devia, e nesse ponto ele parece mais um SUV raiz (mas isso não é bom). Já seu monitor de ponto cego ajuda a evitar erros. Marquei bons 13,5 km/l na estrada, com gasolina.

Tracker
(Foto: Flávio Silveira)

CONCLUSÃO

Posição e altura que ao volante lembram um pouco mais um SUV de verdade, como acontece no Renegade. Já a mecânica com o três cilindros turbinado garante baixo consumo e um desempenho mais vivo que no Jeep, como ocorre no Volks.

Seria bom poder dizer que o Tracker combina a sensação de SUV do Renegade com o desempenho e dinâmica do T-Cross. Mas embora ele copie um pouco o Jeep na dinâmica de SUV, faz falta a ele a robustez do rival, assim como, se tem o motor turbo como o T-Cross, lhe falta a dinâmica do Volks. E ainda há a questão do mais refinamento de construção e de plataforma que os dois rivais apresentam, cada um a seu modo, e o Tracker fica devendo.

Assim, o Tracker me parece um carro com muitas qualidades para roubar boa parte dos consumidores dos atuais líderes do segmento. Mas não o suficiente para ser declarado o melhor do segmento. Aliás, com tantos modelos neste segmento, isso esta cada vez mais difícil. Eu, pessoalmente, pelo valor, compraria mesmo um sedã médio – leia aqui o porquê e veja aqui uma disputa entre os três mais vendidos hoje.

FICHA TÉCNICA

CHEVROLET TRACKER 2021

Preço básico: R$ 82.000 (Turbo MT 1.0)
Carro avaliado: R$ 112.000 (Premier)


Motor: três cilindros em linha 1.2, 12V,  duplo comando variável, turbo, start-stop Cilindrada: 1200 cm³ Combustível: flex  Potência: 132 cv (g) e 133 cv a 5.500 rpm (e) Torque: 19,4 kgfm (g) e 21,4 kgfm a 2.000 rpm (e) Câmbio: automático, seis marchas Direção: elétrica Suspensão: MacPherson (d) e eixo de torção (t) Freios: Disco ventilado (d) e tambor (t) Tração: Dianteira Dimensões: 4,270 m (c), 1,791 m (l), 1,626 m (a) Entre-eixos: 2,570 m Pneus: 215/55 R17 Porta-malas: 393 litros (357+36 sob o assoalho) Tanque: 44 litros  Peso: 1.271 kg  0-100 km/h: 11s7 (e) Velocidade máxima: 175 km/h (e)  Consumo cidade: 11,2 km/l (g) e 7,7 km/l (e)  Consumo estrada: 13,5 km/l (g) e 9,4 km/l (e) Emissão de CO2: 111 g/km Nota do Inmetro: B Classificação na categoria: C (SUV Compacto)

 

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