O J3 é um fenômeno de vendas. Com uma forte campanha publicitária, em pouco mais de dois meses o modelo fez a JAC conquistar mais de 1% das vendas do mercado nacional. Único modelo da marca chinesa no Brasil atualmente, ele é vendido nas versões hatch e sedã. Da primeira já são quase duas mil unidades mensais. Da segunda, mais de mil. Por que tanto sucesso? Será que o J3 é mesmo um “negócio da China”?

Nessa versão sedã, chamada de J3 Turin, ele custa R$ 39.900 com um bom pacote de equipamentos. Não é barato, mas um Logan 1.6 ou um Siena 1.4 similarmente equipados custam mais e aí, na comparação, o J3, com seus seis anos de garantia, fi ca bem interessante. Mas a concorrência não quer facilitar a vida do JAC. A Ford acaba de baixar os preços do Fiesta, nas versões hatch e sedã para os mesmos valores do J3 – com pacote quase idêntico e motor 1.6.

De olho no melhor negócio, achamos outra oferta que deixa o Turin em situação difícil: o Tiida Sedan. Se a JAC mudou a regra que dizia que o maior atrativo de um chinês é o preço, a Nissan mostra que japoneses não precisam ser caros. Por R$ 44.500, o Tiida é uma pechincha. A diferença de preço se justifi ca. E, como veremos adiante, pode até desaparecer. Aguarde.

Uma das vantagens do Nissan está no porte: ele é 31 cm mais longo e cinco centímetros mais largo. No entre-eixos, são 20 cm extras. Números que resultam em um espaço interno maior, principalmente para quem vai atrás. E esses passageiros, se medirem mais de 1,70 m, rasparão a cabeça no teto do JAC, enquanto no Nissan sobrará espaço.

O Nissan também tem acabamento superior. As portas são cobertas de veludo e têm apoios de braço em couro. Plásticos rígidos só no painel, enquanto no JAC estão por toda a parte (e, nas portas, são facilmente arranhados). Os bancos são de veludo nos dois modelos, mas no Tiida a posição de dirigir é melhor, pois há ajuste de altura para o assento do motorista.

O entre-eixos 20 cm maior é fundamental para que se tenha muito mais espaço no Nissan, mas o design também colabora para isso

Além do ajuste do banco, o J3 fi ca devendo a regulagem da altura do cinto de segurança e o computador de bordo, ambos presentes no rival. Mesmo assim, sua lista de equipamentos é maior. Só ele tem sensor de estacionamento e rodas de liga, por exemplo (leia tabela). Em tempo: é absurdo a Nissan não oferecer, nem como opcionais no Tiida Sedan, airbags e freios ABS, de série no concorrente.

O Nissan é maior e mais bem-acabado, o J3 é melhor equipado. Mas, e ao volante? O moderno motor do JAC é um 1.4 16V austríaco com duplo comando variável, de 108 cv e 14,1 kgfm. Entre os 1.4, é muito superior aos do Siena e do 207 e melhor que o do Prisma. Não faz feio também diante dos 1.6 do Fiesta e do Logan.

O J3 não tem acabamento impecável, mas leva vantagem frente em equipamentos. O motor, eficiente, fica aquém do conjunto 1.8 com câmbio manual de seis marchas do Tiida Sedan

O painel de portas, além de ser de plástico duro, fica marcado e arranhado com qualquer batida e os instrumentos são mais confusos 

No uso urbano, a aceleração e as retomadas são razoáveis e o consumo até que é baixo. Mas tem um grave problema: não é flex. Só roda com gasolina. Apesar de não usar etanol, o motor do J3 se sai bem diante dos rivais diretos. Mas, ao encarar o 1.8 do Tiida, flex, sua situação fica feia.

A unidade do modelo japonês tem comando variável na admissão, é bastante econômica (mais com gasolina do que com etanol, infelizmente, devido à calibração que privilegiou o derivado do petróleo) e gera 126 cv e 17,5 kgfm. Acelerações e retomadas são bem mais rápidas. No zero a 100 km/h, sua vantagem é de 2,3 segundos. E ele ainda leva vantagem no câmbio. Na estrada, a 120 km/h e com a sexta marcha engatada, marca 3.000 rpm, consumindo menos. 0 JAC trabalha em quinta a 3.800 rpm, com mais ruído (e a unidade avaliada ainda deixava passar um forte ruído de vento pela porta do motorista).

Em relação às suspensões, as do Tiida não são esportivas, tampouco macias demais como no J3, onde até ofuscam o esquema traseiro com rodas independentes. Teoricamente, ele garantiria comportamento melhor em curvas, mas há uma forte tendência ao substerço. O chinês ganha pontos pelo silêncio com que trabalham as suspensões, outra agradável surpresa. Já a direção do J3, hidráulica, é muito leve e pouco precisa na estrada. A elétrica progressiva do Tiida é leve em manobras e uso urbano, e, na estrada, bem mais precisa e com bom peso.

Os preços do seguro são parecidos, mas o J3 Turin leva boa vantagem no valor das peças, com alguns itens bem mais baratos (leia tabela). O J3 também tem revisões mais em conta, mas é preciso comparecer à concessionária com 2.500 quilômetros rodados, e, depois, a cada 5.000 km, seja para revisões, seja para troca de óleo obrigatórias. Para manter a garantia de seis anos, rodando dez mil quilômetros por ano serão 13 visitas à oficina… e os serviços de assistência 24 horas duram só dois anos. No Nissan, são três anos de garantia e assistência, com visitas anuais ou a cada dez mil quilômetros. Já os preços fixos são só para as peças – a mão de obra variou muito de uma concessionária para outra, e nós tiramos uma média, que é o valor que você vê na tabela.

O Nissan é a melhor escolha, apesar da ausência dos airbags e do ABS. É mais caro à vista, mas não é um salto que inviabilize a compra. Para quem vai financiar, a boa surpresa final: o Tiida pode ficar mais barato que o J3! Confira na tabela de financiamento as propostas que nos fizeram os vendedores com uma entrada de R$ 5 mil. E, com 60% de entrada, o Tiida, financiado sem juros, também sai mais barato. A diferença no total compensa até os preços das peças e revisões mais caras do Tiida. Xeque-mate! Com vitória japonesa.

O Tiida Sedan fica devendo itens como as rodas de liga leve, o sensor de estacionamento e o ajuste de altura dos faróis. Mas nada é tão absurdo quanto a falta do airbag duplo e do ABS

No Nissan, o revestimento de veludo nas portas dá uma sensação maior de conforto e bom acabamento. Plástico duro, só no painel

Os dois modelos têm design polêmico, mas no tiida o espaço interno parece ter sido privilegiado em detrimento da beleza das linhas

 

O JAC J3 tem menor espaço para as pernas e para a cabeça de quem vai atrás, mas seu porta-malas bipartido (o do Nissan não é) facilita o transporte de cargas maiores

JAC J3

Turin Motor quatro cilindros em linha, 1,4 litro, 16V, duplo comando variável Transmissão manual, cinco marchas, tração dianteira Dimensões comp.: 4,16 m – larg.: 1,65 m – alt.: 1,47 m eNtreeixos 2,400 m PoRta-malas 490 litros Pneus 185/60 R15 Peso 1.100 kg • Gasolina Potência 108 cv a 6.000rpm Torque 14,1 kgfm a 4.500 rpm Velocidade máxima 186 km/h 0 – 100 km/h 11,9 segundos Consumo não disponível Consumo real não disponível

Nissan Tiida Sedan

Motor quatro cilindros em linha, 1,8 litro, 16V, comando variável Transmissão manual, seis marchas, tração dianteira Dimensões comp.: 4,47 m – larg.: 1,70 m – alt.: 1,55 m eNtre-eixos 2,600 m PoRta-malas 467 litros Pneus 185/65 R15 Peso 1.176 kg • Gasolina Potência 125 cv a 5.200 rpm Torque 17,5 kgfm a 4.800 rpm Vel. máxima 194 km/h 0 – 100 km/h 9s7 Consumo cidade: 11,7 km/l – estrada 16 km/l Consumo real cidade: 9 km/l – estrada: 11,4 km/l • etanol Potência 126 cv a 5.200 rpm Torque 17,5 kgfm a 4.800 rpm Vel. máxima 195 km/h 0 – 100 km/h 9s6 Consumo cidade: 7 km/l – estrada: 9,6 km/l Consumo real cidade: 5,4 km/l – estrada: 6,8 km/l