01/08/2011 - 0:00
Ao longo da história, algumas atividades foram definidas como tipicamente masculinas ou femininas. Enquanto o balé era considerado coisa de menina, futebol e carros cabiam apenas aos meninos. Mas os tempos mudaram e hoje não há mais barreiras de gênero, inclusive no automobilismo. O tradicional Rally Motorsports Sudeste da Mitsubishi é um exemplo disso. A competição, que está em sua 17ª edição, possui sete etapas, que ocorrem em diversas cidades do Sul e Sudeste do Brasil. Ela é dividida em diversas categorias: graduados, turismo, turismo light e, desde 2008, dupla feminina.
Para ver como as garotas tocam seus fora de estrada em uma competição de verdade, acompanhei as irmãs Ariadne e Marcelle Bukvar na etapa de Curitiba (PR). Atuais campeãs da categoria, elas buscam o segundo título. A dupla começou a participar do evento em 2006, no carro dos pais, como zequinhas (terceiro ou quarto integrante de uma equipe que não participa ativamente da prova, mas apenas observa e auxilia a dupla competidora).
À esquerda, as irmãs Bukvar ao lado dos pais. Elas antes participavam como zequinhas no carro deles, até Ariadne (à direita, sentada ao volante) virar piloto e Marcelle, sua navegadora
Desta vez, quem vai de zequinha sou eu. Ariadne, de 21 anos, é quem pilota. Já Marcelle, que tem 17, é a navegadora. Ela não vê a hora de fazer 18 anos, virar piloto e inverter os papéis. “Quando ela for a navegadora vai ver como eu sofro”, brinca Marcelle. Como o rali é de regularidade, vence quem anda dentro do tempo e não quem chega na frente. Por isso, grande parte da responsabilidade fica com o navegador, que deve prestar muita atenção ao caminho e fazer os cálculos com agilidade e precisão para orientar o piloto corretamente. Afinada, a dupla consegue ir mais longe.
Cada etapa tem a duração de um fim de semana. Ela começa na sexta-feira à noite, quando ocorre o briefing (reunião de informação e instrução) e a aula de navegação. Os instrutores mostram qual será a rota a ser seguida e dão algumas dicas para os participantes.
A largada é dada no sábado pela manhã e as duplas de cada uma das categorias iniciam a prova em horários diferentes. A velocidade máxima é de 70 km/h e a meta é passar em cada trecho no tempo determinado
No sábado pela manhã começa o rali. Como a velocidade máxima é de 70 km/h, os maiores desafios encontrados são referentes ao trajeto da competição. Os carros devem passar nos pontos de referência no tempo certo sob pena de perder pontos. As irmãs Bukvar perderam alguns por conta disso, mas o maior estresse que passaram foi uma porteira, fechada pelo dono da fazenda. As meninas não sabiam se a abriam e seguiam o caminho descrito na planilha ou se desviavam. “Temos duas ferramentas primordiais: a planilha e o cronômetro”, disse o diretor de prova, Lourival Roldan. Elas tinham que escolher qual seguir. Abriram a porteira e acertaram. Quando viram a dupla feminina concorrente errar, vibraram demais.
Após a prova, a Mitsubishi oferece um almoço para os competidores e chega a hora do pódio. Ariadne e Marcelle ganharam em sua categoria, e estão ainda mais perto da premiação final – uma viagem para Paraty (RJ). As meninas estão indo melhor que os pais na competição. A concorrência para as duplas femininas é menor do que para a categoria Turismo. Foi esse o motivo q ue lev o u Paula Breve s a t ro car a companhia do marido para entr ar na categoria feminina na companhia de sua amiga e navegadora Vilma Quintaes. “Deixo meus filhos com o pai. Ele não quer vir porque sempre perde”, provoca a atual vice-campeã do rali, que, nesta etapa de Curitiba chegou em segundo lugar. Quanto ao antigo preconceito contra elas ao volante, Fernanda Lopes Farinha (que faz dupla com Danielle Barbosa) confirma que vê olhares desconfiados, mas diz que nunca ouviu nada. “Muita gente diz que não tenho cara de quem faz rali, mas me admiram.” De fato, os tempos mudaram.
Acima, à esquerda, a dupla Fernanda Lopes Farinha e Danielle Soares Barbosa. À direita, Paula Breves e Vilma Quintaes