Se um VW Polo custa R$ 55.890 com motor tricilíndrico 1.0, quanto valeria o mesmo carro com um motor quatro cilindros 1.4 e boa quantidade adicional de acessórios e equipamentos de alta tecnologia? Segundo os preços praticados pela Volks, quase o dobro. Ou, para ser exato, 87,8% a mais. O esportivo Polo GTS (leia avaliação) custa R$ 49.060 a mais que a versão de entrada: são R$ 104.950.

Considerando apenas os modelos que usam o mesmo tipo de combustível, essa foi a maior diferença que achamos entre dois carros com que usam os mesmos nomes e carroceria  no mercado brasileiro (bem, há os Mercedes-AMG, mas volto a eles mais adiante). Afinal, quanto pode variar o preço de um carro? Por que tanta diferença? Há justificativas.

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O “CASO” POLO GTS

Por R$ 49.060 a mais que no Polo 1.0, no VW Polo GTS você leva muitos itens extras: central multimídia mais completa, faróis de LED, câmera de ré, sensores de estacionamento, alerta de fadiga, apoio de braço, regulador de velocidade, sensores de chuva e luz, retrovisor antiofuscante, bancos de couro, banco traseiro bipartido, chave presencial, porta-luvas com refrigeração, start-stop e iluminação no porta-malas/porta-luvas. Ah, e o ar-condicionado passa a ser automático.

Veja como é o VW Polo básico:
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Tais itens de conforto/conveniência não justificam, nem de perto, a enorme diferença de valores. A maior parte dela estaria justificada pelas outras diferenças. Quais? Bem, há todo o visual exclusivo, com spoilers, aerofólios, grade, pneus e rodas diferentes (17” contra 15”)… mas, não, não justifica. São itens que têm seu custo, mas nada tão considerável.

Outra mecânica

O que encarece o VW Polo GTS, alega-se, é a mecânica. Afinal, em relação ao modelo de entrada, o carro passa a ter um motor não apenas um cilindro a mais (que não faria tanta diferença), mas no qual se adiciona um sistema de sobrealimentação com turbocompressor, injeção direta de combustível, comando variável também no escape… e ainda paga um pouco mais de IPI por causa da cilindrada maior. Mas justifica?

Ah, e também há a troca da transmissão manual por uma automática. Neste caso, o VW Polo 1.6 sai mais barato com a transmissão automática do que com a manual, e no caso do Virtus 1.6 são R$ 6.000 a mais no automático.

Veja como é o Polo GTS:
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Tais diferenças mecânicas respondem por maior conforto, no caso do câmbio, e por uma enorme diferença de desempenho. No 0-100 km/h, o VW Polo básico leva 13 segundos, enquanto o GTS leva 8,4 segundos.

E a máxima é de 170 km/h no 1.0, ante 207 km/h no GTS. Vale lembrar aqui que o Polo Highline de R$ 88 mil, também três cilindros 1.0, mas com turbo e injeção direta, tem quase os mesmos equipamentos do GTS, vai de 0-100 km/h em 9s6 e atinge 192 km/h. 

E NA EUROPA?

Para comparação, olhando o mercado europeu, as diferenças são significativamente menores. Na Itália, há o VW Polo Highline quatro cilindros 1.5 turbo de 150 cv – com motor mais moderno que o do nosso GTS, inclusive com desativação de cilindros. E ele custa só 41% a mais que o 1.0 “basicão” (nem metade da diferença entre básico e GTS aqui).

“Mas não é justo comparar a diferença de preço lá do Highline 1.5 de lá versus o 1.0 com a diferença aqui do GTS versus o 1.0”. Bem, então vamos lá.

Primeiro, este Highline 1.5 dos europeus tem mais motor que nosso GTS, então só isso já poderia, em parte, provar que que o que é vendido aqui está caro demais. Por conta da opção de calibração do motor, porém, ele acelera de 0-100 km/h em exatos 9 segundos, um pouquinho mais lento que nosso GTS (mas atinge 216 km/h, bem mais que ele).

Melhor que o GTS

Segundo, lá não há VW Polo GTS, mas há o GTI, que não temos. E morram de inveja: o GTI tem motor 2.0 de 200 cv e 32,6 kgfm, atinge os 100 km/h em 6,7 segundos e a máxima é de 238 km/h. Ah, e a transmissão é DSG de dupla embreagem e sete marchas, bem mais rápida que a do “nosso” GTS. E, mais um “ah”, este maior: ele custa só 55% a mais que o Polo 1.0 aspirado, pelado e com 0-100 km/h pior que o nosso
(14,9 segundos). 

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Há de se considerar, ainda, que lá a Volks vende mais itens opcionais, mesmo nos modelos topo de linha – como o ar-condicionado automático e faróis de LED, que não vêm de série no GTI. Mas, mesmo colocando opcionais que são de série no nosso GTS, o preço do GTI na Itália não passa de 65% a mais que o modelo básico. O GTI, de 200 cv.

OUTROS MODELOS

Diferenças menores aparecem em outros modelos de nosso mercado. Dentro da mesma marca, por exemplo, no caso do VW T-Cross. Neste caso, porque as versões básicas já são mais equipadas e a diferença mecânica é menor – todos TSI, muda número de cilindros e transmissão, que no 1.0 pode ser manual ou automática). Assim, do T-Cross básico para o topo de linha, são 50% a mais. 

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Já no caso do Fiat Argo, a versão básica 1.0 de R$ 51.290 para a topo de linha HGT 1.8 com todos os opcionais, vendida por R$ 81.040, são 58% de aumento. Ainda bastante, até porque aqui ambos têm motores aspirados, de custo similar (na verdade, o 1.3 tricilíndrico é mais moderno que o 1.8 de quatro cilindros). 

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Mesmo em outros modelos em que também se passa de aspirado pr turbo, porém, a diferença não chega perto daquela do Polo. Exemplos? Hyundai HB20. O básico 1.0 três cilindros com câmbio manual custa R$ 47.990, o top 1.0 turbo sai por R$ 67.040. São 39% de diferença. Novo Chevrolet Onix (leia aqui)? Vai de R$ 56.290 a R$ 81.880. São 45,5% a mais.

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CARROS A DIESEL

No caso dos modelos a diesel, como custo de produção do motor é maior, entre outros outros motivos que os tornam mais caros, é natural que a diferença seja maior (e o mesmo acontece com carros elétricos e híbridos, nem é preciso dizer).

Além disso, na em nosso mercado, por questões tributárias, os modelos a diesel adotam também tração 4×4, que gera um custo extra.  Mesmo assim, não é mais do que acontece no caso do Polo. Na maior parte dos casos, até menos. No caso da picape Fiat Toro, da básica Endurance 1.8 flex manual (R$ 99.990) para a superequipada Ultra 2.0 diesel automática de nove marchas (R$ 172.990), o aumento é de 73%.

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Jeep Compass? (leia avaliação da versão mais cara e leia aqui a da mais barata) Ele é sempre automático, e do básico 2.0 flex de R$ 121.990 para o top Series S, de R$ 205.990, são 68,9%.

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Toyota SW4? Do fraco flex 4×2 com câmbio manual e cinco lugares ao excelente diesel 4×4 de sete lugares, os preços vão de R$ 175.590 a R$ 301.590. São 71,76%. (Leia a avaliação do utilitário aqui)

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A maior diferença que achei entre modelos com opção a gasolina/flex e a diesel foi no Jeep Renegade (leia aqui avaliação do Flex), que é bem acima da média, e, mesmo entre esses, a única maior do que a do Polo. Ele mais do que dobra de preço (todos automáticos): do básico 1.8 flex 4×2 de R$ 77.490 para o Trailhawk a diesel de R$ 161.190 a variação é de 108%! (mas são carros totalmente diferentes — além do motor a diesel, o Trailhawk tem 4×4 com seletor de terreno e um pacote tecnológico enorme).

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O PREÇO DA EXCLUSIVIDADE

Às vezes se paga, também, o “preço da exclusividade”. Diferença maior que a do Renegade só achei em casos muito específicos de carros que têm versões superesportivas. Se a mudança de tecnologia de motor ou de incremento na lista de equipamentos pode não justificar um acréscimo tão grande no preço, muitas vezes a exclusividade pode. Assim, o carro se torna acessível apenas para colecionadores ou aqueles que querem pagar mais para que tenha menos gente com um carro igual.

Artesanal

Alguns carros, além de tudo, ainda têm produção “artesanal”, extremamente cara. Casodos Mercedes-AMG. A fabricação do motor é toda obra de um mesmo engenheiro, de ponta a ponta – e o motor é assinado por ele no fim do processo, em um bucólico vilarejo no interior da Bavária, sul da Alemanha. Foi da AMG o modelo no qual encontrei a maior variação de valores.

Enquanto o sedã Mercedes-Benz Classe C mais barato – o C180 de fabricação nacional – custa a partir de R$ 229.900, o superesportivo Mercedes-AMG 63 S, com motor feito por artesãos no interior da Alemanha, custa mais que o triplo. São R$ 733.900, ou 2,2 vezes mais (+220%).

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Por mais que não justifique a diferença de preço – como disse, ponha na conta da exclusividade –, a diferença nos carros também é brutal. Não só pelo acabamento interno, no qual os AMG usam fibra de carbono e outros materiais caríssimos, mas, nem é preciso dizer, pelo desempenho.

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Entre o Classe C de entrada com seu motor 1.8 turbo de 156 vc e o Mercedes aí com seu 4.0 V8 biturbo de 507, entrar tração dianteira tradicional e a 4matic do especialmente preparada com amortecedores ajustáveis eletronicamente…

CONCLUSÃO

Algumas vezes as grandes variações nos preços de um carro se “justificam” apenas pelo posicionamento da linha mesmo – seja daquele produto individualmente, seja de outros modelos da mesma marca. E, às vezes, na ausência desses impedimentos, um modelo se torna um verdadeiro estorvo para a concorrência, com um preço extremamente competitivo – como foi o caso do finado mexicano Ford fusion por muito tempo (leia mais aqui)

Outras diferenças – talvez a maior parte – se justificam pelo que há de fato no carro. Tecnologias diferentes, peças mais caras, produtos comprados em menor escala, etc. Mas  há, ainda, aquelas que só se justificam pelas leis do mercado, pela busca pelo lucro, ou pelo subjetivo valor da exclusividade de “ter um GTS” ou “ter um AMG”, por exemplo.
Cada um julgar o que aceita pagar e acha que vale a pena, ou não.