06/10/2020 - 9:15
Carros elétricos da marca Fiat? Muitos duvidaram, relembrando polêmicas declarações de Sergio Marchionne sobre os carros a bateria. Mas, hoje em dia, a evolução é rápida. Marchionne obviamente sabia muito bem disso e, longe dos holofotes, já preparava seu carro elétrico em segredo. Objetivo? Concluir o projeto certo no momento certo, sem precisar recorrer a improvisos. E assim nasceu este novo 500, ou melhor, o Novo Fiat 500e, elétrico tão inovador quanto foi o de 2007 em relação ao de 1957. Na verdade, em alguns aspectos até mais, pois a transição da era fóssil para a da energia limpa traz implicações muito mais complexas.
Aceleramos o modelo em Turim, Itália, mais de um mês antes do lançamento oficial. Trata-se de uma unidade pré-série, mas completa e definitiva em design e mecânica. Sou o primeiro jornalista italiano a dirigir o primeiro carro elétrico italiano. Quero ver se o elevado preço de € 37.900 (mais de R$ 230.000) desta versão Cabrio de lançamento se justifica por oferecer um conteúdo acima da média (o hatch com teto de vidro, que será vendido no Brasil já no ano que vem, custará € 3.000 a menos).
Ao conhecer o Fiat 500e, meus primeiros sentimentos são de espanto e admiração. Ele é um objeto de expressão da pura italianidade, como já nos diz o botão de arranque, que entoa as cinco primeiras notas escritas por Nino Rota para a trilha sonora de “Amarcord”, de Felini (os elétricos, na Europa, são obrigados a emitir um som artificial em baixas velocidades).
No trânsito
Aqui estou no trânsito de Turim, e a temperatura é de 38 graus na sombra. O ar-condicionado funciona muito bem e o indicador marca 95% da bateria e 300 quilômetros de autonomia. A energia está sob meus pés e os dos passageiros de trás: uma bateria de 42 kWh com células prismáticas da Samsung que, segundo a marca, garante uma autonomia de 400 quilômetros no uso urbano.
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O que fica mais evidente à primeira vista é a sensação de espaço e o acabamento de alto nível. Entre os bancos dianteiros, que são mais largos do que no 500 normal, há um túnel de armazenamento com os controles de volume do sistema multimídia e também dos modos de direção. Estou na configuração Normal, no qual a regeneração de energia quando o acelerador é liberado é limitada. Nessas condições, o carro é extremamente suave, com a sensação de leveza acentuada pelo bom ajuste das suspensões.
Quase um Abarth
O Cinquecento do século 21 sempre foi um carro firme, até demais para quem viaja no banco traseiro. O Fiat 500e, elétrico, é igualmente estável, mas sem rangidos, torcidas ou pancadas secas. Graças ao baixo centro de gravidade e à nova calibração das suspensões, a sensação é a de dirigir um kart, mas sentado em uma boa poltrona. E ele é ágil: nos testes tradicionais insistimos no 0-100 km/h, mas, na cidade, o 0-50 km/h é mais importante – neste caso, 3,1 segundos. Para se ter uma ideia, o Tesla Model 3 (leia avaliação) Standard Range+ e o 595 Abarth de 180 cv são só meio segundo mais rápidos, enquanto o Renault Zoe e o VW e-up marcam 3,4 segundos.
Tento acelerar mais forte, porém o trânsito está ruim e passo para o modo Range, quando a suavidade dá lugar a uma recuperação de energia tão vigorosa que permite desacelerar quase até parar sem usar os freios. Para quem já dirigiu um elétrico não é surpresa, mas, neste caso, a desaceleração está muito bem calibrada para o uso urbano e permite recuperar boa dose de energia. Se a bateria estiver acabando, o modo Sherpa salva: o ar-condicionado se desliga e a máxima passa de 150 para 80 km/h.
100% Digital
Além de ter uma direção animada, silenciosa e na posição correta, o Fiat 500e, elétrico, é o único carro do seu segmento com direção autônoma nível 2, e também o único carro elétrico conversível de quatro lugares disponível hoje. Além disso, tem conexão sem fio com Android Auto e Apple CarPlay.
Tudo graças ao novo sistema multimídia Uconnect 5, que é fácil de usar e fica em posição bem visível e acessível: as funções principais não foram “enterradas” nos menus. O único inconveniente é a abertura da porta por dentro, por um botão, e não uma maçaneta (neste detalhe, parece um Tesla).
Já a alavanca de câmbio foi substituída por um teclado horizontal no painel, abaixo dos controles do ar. Entre os dois, um compartimento para carregamento sem fio de smartphones e outro camafeu do orgulho italiano: a textura do tapete reproduz o horizonte da cidade de Mole. Bem-vindo de volta a Mirafiori, 500.
FIAT 500e Cabrio La Prima
Preço básico (ESTIMADO) € 30.000
Carro avaliado € 37.900 (R$ 237.000)