15/04/2016 - 15:28
Enquanto voava para América do Norte para os dois últimos GPs de 1974, percebia que daria para vencer o campeonato. Mas Clay Regazzoni (Ferrari) e Jody Scheckter (Tyrrel) estavam próximos demais. Jody era talentoso e o mais novo, com 24 anos. Eu tinha 27, enquanto Clay, 34. Fora das pistas, Clay era uma grande figura, engraçado. Quando colocava o capacete, mudava. Era um piloto agressivo e não dava um centímetro de espaço na pista. Hoje esse comportamento é mais comum na F1, com corridas mais seguras do que quatro décadas atrás.
Nos anos 1970 era raro. Com a maioria dos competidores você se sentia confiante ao disputar roda a roda. Com Clay, não. A penúltima corrida era o GP do Canadá em Ontário, no circuito rápido e irregular de Mosport. A McLaren costumava vencer lá. Meu M23 se mostrou soberbo. Conquistei a pole e ganhei a corrida. O problema era que Clay tinha chegado em segundo, deixando a final para Watkins Glen, nos EUA. Clay e eu tínhamos 52 pontos. Jody estava com 45, ainda disputando o título. Sempre amei Watkins Glen, um circuito fabuloso. Ganhei meu primeiro GP lá, com a Lotus, em 1970. Mas isso não significava nada naquele momento.
Por mais que tentasse nos treinos, não conseguia achar um set-up para deixar o carro rápido e confortável. Meus rivais também estavam atrapalhados. Jody se classificou em sexto, eu em oitavo e Clay atrás de mim, em nono. Carlos Reutemann ficou com a pole, na frente de James Hunt e Mario Andretti. Carlos e Mario ajudavam, pois eram difíceis de serem batidos por Jody, que precisava da vitória para ganhar o campeonato. Domingo de manhã na largada, eu e Clay não conseguíamos nos olhar, de tão nervosos e focados. Quando largamos, Clay saiu melhor, passando a primeira curva na minha frente.
Colei na sua traseira e veio a ótima sensação de o carro ser sugado. Apontando para a segunda curva, o nariz do M23 estava muito perto do câmbio da Ferrari de Clay. Mas Clay era Clay, não era como os outros. Eu tinha o “mais selvagem carro da F1” serpenteando na frente sem abrir espaço. Tínhamos de frear para a curva. Fui para esquerda, Clay viu e fez o mesmo. Aí fui para a direita e fiquei lado a lado com ele. Ele puxou para direita e fui para o extremo da pista. E Clay continuou empurrando até eu colocar duas rodas na grama. Não iria voltar atrás.
Quando freamos, seu carro foi para esquerda para evitar a batida. Pulei na frente. “Se meu carro não quebrar, vou ganhar o campeonato”, pensei. O M23 não quebrou, terminei em quarto e Clay em 11°. Jody não completou. Ganhava meu segundo Campeonato Mundial e a McLaren, seu primeiro título. Enquanto jogava a champanhe no podium, pensei em denunciar as táticas perigosas de Clay. Desisti. Eu tinha ganhado mais um Campeonato Mundial e mostrei meus argumentos na pista. Que mais precisava dizer?