Após testar o Captur por algumas dezenas de quilômetros nos arredores de Paris, eu e mais alguns jornalistas brasileiros almoçamos com importantes executivos da Renault responsáveis por nosso mercado. Eles queriam nossa opinião sobre o SUV para ajudá-los a bater de uma vez o martelo sobre a decisão de importá-lo para o Brasil – como adiantamos na MOTOR SHOW de março (quando revelamos que os planos vão além: caso tenha sucesso, ele será fabricado aqui no Brasil daqui a três anos, adaptado à plataforma do Duster).

Para aproveitar a cota de importação sem IPI extra a que a marca tem direito com o Inovar-Auto, os franceses tinham quatro opções (leia quadro). Sabiamente, parece terem escolhido o SUV. A opção pelo Captur é natural, já que ele é o verdadeiro rival de um modelo de sucesso: o Ford EcoSport. O mercado mostrou que o novo Eco cresceu sem afetar as vendas do Duster, também da Renault, já que tem um perfil mais urbano e delicado – menos “jipe” e mais crossover. Assim, para combater o Ford, o Captur é o modelo ideal.

Embora pareça pequeno quando se olha por fora, na cabine o Captur tem espaço surpreendente. É 12 cm mais curto que o Eco, mas tem entre-eixos 8,5 cm maior. O espaço para quem viaja atrás, portanto, é bom (apesar de, como no Eco, não haver muito espaço para o quinto passageiro). Seu porta-malas também leva vantagem, mesmo quando o banco traseiro corrediço está para trás (e tem um compartimento extra sob o assoalho).

Chama atenção a qualidade do acabamento. Tudo é de plástico duro, como no EcoSport, mas texturas garantem um ar refinado. O painel tem desenho bonito e a central multimídia dá inveja à telinha monocromática do Ford. Além do básico, tem GPS, informações de consumo (com dicas para reduzi-lo) e qualidade do ar, leitor de notícias e até previsão do tempo. Ainda no interior, destaque para o porta-luvas, uma generosa gaveta, e os tecidos dos bancos com zíper, que podem ser retirados para lavagem ou troca. Na lista de equipamentos, o modelo avaliado tinha partida sem chave, seis airbags e ar automático, além do assistente em rampas e do sistema start&stop – itens de série.

A posição de dirigir é um pouco mais baixa que no EcoSport, mas suficientemente alta para o consumidor desse tipo de carro. A direção tem ajuste de profundidade e os comandos ficam à mão – com exceção dos botões Eco (que muda parâmetros para reduzir o consumo) e do regulador e limitador de velocidade. Já ao volante, impressionou o baixíssimo ruído na cabine e a direção com assistência elétrica, embora desconecte um pouco o motorista, tem peso correto. As suspensões têm boa combinação entre firmeza e conforto, mas no asfalto ruim pareceram delicadas para o asfalto brasileiro.

Aceleramos as duas versões a gasolina, sempre de tração dianteira. A motorização pode ser vista como ponto positivo ou negativo, dependendo do consumidor. Mais moderno que o EcoSport nacional, o Captur entrou na era do downsizing. A versão top de linha tem motor quatro cilindros 1,2 que, apesar de pequeno, tem injeção direta e é turbinado. Oferece 120 cv e 19,4 kgfm a apenas 2.000 rpm (contra 147 cv e 19,7 kgfm a 4.250 rpm do EcoSport 2.0). A turbina reduzida garante pouco turbo lag e dirigibilidade excelente. Para completar, o consumo é contido – diferentemente do que ocorre no Ford. Essa versão é vendida só com câmbio automatizado de dupla embreagem e seis marchas (lento no modo automático, ágil no manual). Deve custar R$ 70 mil, e brigar com o Eco Powershift 2.0, que tem o mesmo tipo de câmbio.

Já a configuração de entrada tem transmissão manual de cinco marchas e motor três cilindros de 0,9 litro. Também turbinado, garante 90 cv e 13,8 kgfm a 2.500 rpm. Confesso que, saindo satisfeito do Captur 1.2, esperava pouco dele. Mas surpreendeu: o câmbio bem escalonado, com direito a shift-light, ajuda o SUV a ter uma dirigibilidade divertida. A Renault ainda está em dúvida se traz essa versão. Deveria. Se conseguir vendê-la por R$ 60 mil, vai dar trabalho para o Eco 1.6. Só precisaria fazer o consumidor vencer o preconceito contra um motor tão pequeno.