01/03/2012 - 0:00
Para comprar um carro zeroquilômetro no Brasil hoje não basta ter dinheiro. É preciso também ter muita paciência. A facilidade de acesso ao crédito, o crescimento da renda e a queda nos juros provocaram uma corrida às lojas para a compra do carro zero. Em janeiro, as vendas subiram 9,8% em relação a 2011 – e as montadoras não estão dando conta da demanda.
Resultado? Você vê um lançamento, se apaixona por ele, faz as contas, descobre que ele cabe no seu bolso e vai à concessionária. Aí vem o banho de água fria: a revenda não tem o carro para entregar, pelo menos não imediatamente. É preciso entrar na la ou, se tiver pressa, escolher outra opção. Foi o que aconteceu com Leonardo Patat, que queria comprar um Fiat 500 2012/2012, mas acabou levando um 2011/2012. “Eu queria um SportAir com bancos de couro e equipado, mas acabei pegando uma versão Lounge que estava na concessionária”, conta. “Fui a várias lojas e me pediram cerca de quatro meses de prazo. Algumas chegaram a falar em 120 dias úteis”, lamenta.
O pequeno Fiat parece ser o campeão das las. “A versão Cult Dualogic está mais difícil. Do mecânico, já consegui fazer 95% das entregas, mas atendi só 65% dos clientes que querem o automatizado”, conta Pedro Paulo Oliveira, gerente de vendas da Itavema Meier, no Rio de Janeiro (RJ). “Só a logística de transporte do México para cá demora cerca de 70 dias”, pondera. A história se repetiu em todas as concessionárias consultadas, em diversos Estados. Em todas elas o mesmo prazo de entrega foi pedido: de 90 a 120 dias.
Quem quiser comprar um Nissan Versa também terá problemas. Enquanto o March está com as vendas estabilizadas, o sedã demora até três meses para chegar às mãos do cliente. “Fiz a reserva e vou aguardar. Nesse período, vou tentar vender meu carro, que daria como parte de pagamento. Acho que vou até sair ganhando”, a rma Bruno Prates. Realmente, pode ser uma saída. Um carro usado, como parte do negócio, sempre sofre grande desvalorização. Aproveitar o período da la para vendê-lo a um cliente particular pode diminuir a perda e compensar a espera.
Mas é bom ficar atento. Ao entrar na la é preciso dar um sinal e assinar o compromisso de compra. O pagamento em si só é realizado na entrega do produto. Mas o consumidor pagará o quanto o carro estiver custando no dia em que for faturado, e não na data em que fez a proposta. Ou seja, se o valor subir, você desembolsará mais dinheiro ou perderá o sinal. Em princípio, as alterações não são signi cativas, mas, em relação ao modelos vindos do México, como o 500 e o Versa, o panorama pode mudar. Os modelos produzidos lá não pagam os 35% de imposto de importação, mas o governo federal estuda uma revisão ou até mesmo uma ruptura neste acordo. Se isso se concretizar, os preços podem subir bastante.
Atenção também ao sinal solicitado, que varia de R$ 1 mil a 10% do valor do carro. No caso de um Land Rover, por exemplo – o Evoque tem la de três meses e o Freelander diesel de dois meses –, pode superar R$ 20 mil. Algumas empresas pedem nota promissória, que será cobrada só se o consumidor desistir da encomenda. Uma solução melhor, porque não obriga o cliente a dispor de um dinheiro para a compra de algo que só terá em mão depois de tanto tempo. Como sempre, vale pesquisar. Não é um bom momento para comprar por impulso.
DICAS
Antes de visitar as revendas, pesquise o preço sugerido do modelo. Dessa forma, você saberá se estão cobrando um valor acima da tabela por um carro a prontaentrega. “O ágio não é crime. É uma prática de mercado motivada por uma demanda maior que a oferta”, a rma José Geraldo Tardin, do Instituto Brasileiro de Defesa das Relações de Consumo (Ibedec). Ou seja, isso pode sim ocorrer. Tome muito cuidado!
Avalie se vale a pena esperar. Por que aguardar meses por um carro 2012/2012, se em lojas multimarcas e concessionárias há unidades a pronta-entrega, também zero-quilômetro, do jeitinho que você quer, mas 2011/2012? Na hora da revenda, a cotação é feita com base no modelo. Ou seja, a perda, se houver, será mínima. E você ainda pode pechinchar.
Pondere suas necessidades. Está procurando um Versa topo de linha? Será que um Tiida 1.8 não serve? E um Livina? O valor é próximo e você leva o carro para casa rapidinho.
Se tiver um carro usado para dar como parte de pagamento, aproveite o tempo de espera e faça a venda para um consumidor particular. A desvalorização será bem menor.
No caso de carros muito caros (as las estão enormes também para modelos de luxo), se recuse a dar grandes percentuais como sinal. Negocie, assine uma intenção de compra, mas não desembolse muito por algo que só receberá daqui a quatro meses. Lembre-se: deixar dinheiro parado é perder dinheiro.