A digitalização e a automação têm sido verdadeiros propulsores de eficiência na cadeia de suprimentos automotivos. Com plataformas digitais avançadas, conseguimos integrar todos os pontos, desde os fabricantes até os distribuidores e oficinas. Hoje, utilizando algoritmos de IA, conseguimos ser cada vez mais assertivos no atendimento às oficinas mecânicas, transformando a experiência completamente personalizada e assertiva. Com a automação logística, conseguimos acompanhar as peças em tempo real, otimizando rotas de entrega com base em dados e condições de transporte. O resultado é uma cadeia de suprimentos que opera de forma muito mais rápida e ágil.

O Sindipeças (Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores) espera um faturamento nominal de R$247,7 bilhões fechados em 2024 para o setor de autopeças, 4% acima ao obtido no ano passado.

O grande desafio ainda é a fragmentação do mercado e a falta de padronização de informações técnicas. Para uma startup que vive de inovação, essa fragmentação representa uma barreira à eficiência. Um dos nossos principais esforços está em desenvolver soluções baseadas em IA para centralizar e padronizar dados de peças, criando um ecossistema digital onde fabricantes, distribuidores e oficinas possam acessar as mesmas informações. Outro desafio é a resistência à transformação digital, especialmente entre empresas tradicionais. Mas isso também representa uma oportunidade: quem conseguir investir em tecnologia e adotar novas ferramentas digitais vai conseguir se diferenciar em um mercado que ainda é, em grande parte, analógico.

A inteligência artificial e a internet das coisas (IoT) estão redefinindo completamente as cadeias de suprimentos automotivas. Neste setor, a IA já está sendo usada para prever com exatidão quais peças terão maior demanda, otimizando a logística de reposição em tempo real. Com o IoT, é possível conectar as peças, os veículos e os sistemas de inventário, criando uma cadeia “inteligente” e totalmente conectada. Imagine sensores em cada peça monitorando sua localização, seu tempo de uso e até mesmo a necessidade de substituição, enviando essas informações diretamente para uma central de gestão em tempo real. Isso não só aumenta a eficiência como também permite uma rastreabilidade sem precedentes, o que é crucial para garantir qualidade e segurança.

Um estudo recente da Kaspersky mostra que mais de 50% das empresas brasileiras já implementaram a inteligência artificial (IA) e a internet das coisas (IoT). Ainda, de acordo com o 8º Relatório anual do estado da produção inteligente: edição especial para o setor automotivo, produzido pela Rockwell Automation, 64% das empresas do setor utilizam software para automatizar processos.

Acredito que a análise de dados é o coração da transformação digital na cadeia de suprimentos de autopeças. Com o big data e analytics, pode-se obter insights precisos sobre o comportamento de compra, demandas sazonais e até mesmo o ciclo de vida das peças. O mercado está integrando dados de múltiplos pontos da cadeia para criar um sistema de gestão dinâmico, onde cada decisão é baseada em informações reais, não apenas em suposições. Além disso, a machine learning se torna fundamental para ajustar previsões de demanda continuamente, garantindo que os estoques estejam sempre alinhados às necessidades do mercado, o que aumenta a eficiência e reduz custos.

Vemos algumas tendências para os próximos anos envolvendo a consolidação da IA, do IoT e do blockchain na cadeia de suprimentos. A IA vai se tornar ainda mais poderosa, permitindo a automação de decisões complexas em tempo real. O IoT será fundamental para criar uma cadeia totalmente conectada, com sensores monitorando desde a produção até o uso final das peças nos veículos. Já o blockchain vai trazer uma nova camada de transparência e segurança, permitindo o rastreamento completo de cada peça, garantindo que apenas componentes autênticos cheguem ao mercado. Além disso, a sustentabilidade será um fator-chave, com novas tecnologias ajudando a reduzir o impacto ambiental da logística e da produção.

Outro ponto importante é a relação entre fornecedores e distribuidores, as quais estão evoluindo de transações meramente comerciais para verdadeiras parcerias digitais. É fundamental as empresas integrarem fornecedores aos seus ecossistemas digitais, para que possam compartilhar dados em tempo real sobre produção e estoque. Isso não só melhora a eficiência da cadeia de suprimentos, mas também facilita a inovação conjunta, com fornecedores colaborando mais de perto no desenvolvimento de novos produtos e soluções. Com ferramentas como plataformas digitais de colaboração e marketplaces automotivos, os fornecedores estão se tornando parte ativa da estratégia, e não apenas um elo da cadeia.

A colaboração digital entre fabricantes, fornecedores e distribuidores é o que vai definir o futuro da eficiência na cadeia de suprimentos. Estamos falando de uma integração em tempo real em que todos os participantes da cadeia conseguem acessar dados precisos e atualizados instantaneamente. As soluções mais eficazes surgem de parcerias em que todos têm acesso às mesmas ferramentas digitais e trabalham de forma integrada. Isso permite ajustes rápidos na produção, distribuição e até no desenvolvimento de novos produtos. No final das contas, essa colaboração não só aumenta a eficiência, mas também cria um ecossistema mais ágil, resiliente e preparado para o futuro.

Ian Faria é cofundador e CEO da Mecanizou

* Ian Faria é cofundador e CEO da Mecanizou, startup que conecta oficinas mecânicas a fornecedores de peças automotivas.