Tudo começou no início dos anos 2000, quando alguém dentro da Ford teve uma ideia genial: usar a plataforma de seu compacto, o Fiesta, para criar um pequeno jipe urbano. Na época, ter um SUV era o sonho de consumo dos consumidores da classe média, mas os preços desses robustos 4×4 eram proibitivos. O que ninguém havia percebido é que os compradores queriam apenas o visual off-road e a altura livre do solo que esses veículos ofereciam – e não necessariamente a capacidade de transpor terrenos inóspitos. Na verdade, a Fiat até havia notado isso anos antes, quando criou a bem-sucedida versão Adventure da Palio Weekend, mais tarde estendida para o restante da linha.

Mas ninguém foi tão longe quanto a Ford: o EcoSport virou sucesso de vendas e inspirou outras montadoras a seguirem a mesma trilha. Hoje, o Eco se distanciou do Fiesta (o interior de ambos era idêntico), está mais refinado e é líder em seu segmento. Mesmo depois de tantos anos de vida (foi lançado em 2002), vende cerca de 3.500 unidades por mês (3.614 em junho).

Demorou, mas a reação começou. Primeiro foi a Volks, com seu CrossFox, e, este ano, chegam Citroën Aircross (derivado do C3) e Renault Duster (com plataforma do Logan). A Fiat, primeira das marcas a investir no visual todo-terreno, não vai ficar de fora do segmento e já prepara seu jipe urbano na mesma plataforma do novo Uno, que dará origem também à nova geração do Palio. Segundo informações de funcionários da marca em Betim (MG), o carro está em fase de desenvolvimento adiantado e as linhas estão sendo trabalhadas pelo centro de design do Brasil, chefiado pelo alemão Peter Fassbender, reponsável pelas linhas do novo Uno. Mas, diferentemente do que ocorreu com o compacto recém-lançado, feito em conjunto com os designers italianos da matriz, para esse projeto fala-se de uma maior independência do Brasil – por conta do know-how que o País adquiriu nesse tipo de “adaptação”.

Por enquanto, as linhas do carro ainda são um segredo muito bem guardado. Tanto que não obtivemos uma descrição confiável o bastante que nos possibilitasse elaborar uma ilustração computadorizada. As informações ainda são desencontradas: algumas fontes afirmam que seu desenho seguirá as linhas básicas do Uno, mas com novo conjunto óptico (o que, se for verdade, não deixará o jipinho muito diferente do Panda Cross europeu, usado para ilustrar esta reportagem). O Panda é uma espécie de Uno europeu e serviu de base para o desenvolvimento do modelo nacional – até por isso, as linhas de ambos são semelhantes em muitos aspectos. Mas o nosso compacto é maior que o Panda e, da mesma forma, seu SUV será também mais parrudo. Outras fontes indicam um visual completamente diferente, nos moldes da dupla Fiesta x EcoSport. Nesse caso, a intenção seria distanciar um modelo mais caro, como o utilitário, de um carro barato e de entrada, o Uno – uma hipótese também plausível.

Na mecânica, a base será a mesma do Uno, mas com aumento da bitola e do entre-eixos para dar um porte um pouco maior ao modelo. Na motorização, teremos os motores 16 válvulas da família E-TorQ, com cilindrada 1.8 e 1.6; essa última, retrabalhada com relação à que foi apresentada nos modelos Punto e Idea (leia avaliação deles nesta edição). Entre outras coisas, a FPT (Fiat Powertrain Technologies), responsável por motores e câmbios dos modelos Fiat, acrescentará ao cabeçote um comando de válvulas variável, aumentando sua potência sem prejudicar o desempenho em baixas rotações. A transmissão, em princípio, será a mesma do Uno, mas novidades podem surgir. A FPT está desenvolvendo um câmbio automatizado de dupla embreagem e espera levá-lo aos modelos do segmento B em poucos anos. Essa eficiente transmissão, que elimina os trancos das automatizadas convencionais, poderá estrear nesse modelo. A tração dianteira com o bloqueio do diferencial (que a Fiat chama de Locker) também poderá dar lugar – em uma configuração top de linha – a uma transmissão 4×4 já experimentada em um protótipo a diesel do Doblò, que, apesar de pronto e testado, nunca foi vendido por falta de viabilidade econômica. Ou seja, ficaria caro demais para despertar o interesse do consumidor em comprá-lo.

O Panda Cross vendido na Europa é, segundo algumas fontes, a principal inspiração para o design do novo SUV da Fiat. Outras fontes, no entanto, dizem que o desenho será totalmente novo

Os “primos” Uno e Panda

O Panda, no topo, e nosso novo Uno, abaixo, não são apenas parecidos: o modelo europeu serviu de base para o desenvolvimento do modelo lançado agora no Brasil. A versão aventureira do Panda, nas fotos maiores, tem conjunto ótico diferente: o mesmo pode occorrer com o SUV do Uno

De cima para baixo, EcoSport, AirCross e CrossFox

Rivais na mira

Entre os maiores adversários do novo SUV da Fiat, há os que já se consolidaram em nosso mercado (como o Ford EcoSport e o VW CrossFox), os que chegaram há menos tempo (como o Renault Sandero Stepway) e os que ainda estão por chegar. Na última categoria, vale destacar o Citroën Aircross (derivado do C3) e o Renault Duster (baseado no Logan). Isso hoje – até o novo Fiat chegar, tudo pode mudar…

A Fiat, que há tempos queria entrar no mercado off-road, não vai parar por aí. Esse modelo de SUV compacto deverá ser comercializado em outros países emergentes como China e Índia – e até mesmo fabricado em algum deles, já que nossa demanda interna dificulta a exportação. Para os demais mercados, a marca desenvolve um SUV maior, do segmento C, e um crossover com cinco e sete lugares, ambos com plataformas provenientes do grupo Chrysler. Esses modelos, aqui, deverão disputar espaço com carros como Hyundai ix35 e o novo Sportage – no caso do primeiro – e com Dodge Journey e Ford Edge, no segundo caso. A produção nacional desses novos modelos ainda não está descartada. O próprio Sérgio Marchione, CEO do grupo Fiat, durante uma visita ao País para a inauguração de uma fábrica da New Holland, afirmou que novos investimentos serão programados para o País e que há a possibilidade de fabricação de modelos do grupo Chrysler aqui, principalmente da marca Jeep. Mas o executivo lembra que outras plantas da América Latina também podem ser utilizadas – como a de Córdoba, na Argentina. “Há um limite natural em Betim, e estamos atingindo esse limite. Precisamos ter cuidado para não sobrecarregar a estrutura a ponto de ficar operacionalmente ineficiente”, alertou o executivo.

O lançamento do SUV do Uno ainda não tem data marcada, mas fontes ligadas ao projeto estimam que o carro esteja pronto no final de 2011 ou no início de 2012. Para abrir espaço na linha, a Fiat pode, daqui a dois anos, abrir mão do Idea – que acaba de ser reestilizado. Segundo os planos mundiais da Fiat, o modelo sai de linha em 2012. Mas nada é definitivo: se com o novo desenho suas vendas decolarem, é possível que ele continue a vender por aqui. No final das contas, é o mercado que vai decidir.

O segmento de SUVs ganhou importância para a Fiat depois que a marca assumiu o grupo Chrysler – Dodge e Jeep incluídas