Era uma vez um reino desconhecido, o reino dos SUVs (Sport Utilities Vehicles). Dominados por “jipões” como Mitsubishi Pajero, Toyota Hilux e Jeep Grand Cherokee, esse reino logo separou os verdadeiros SUVs (com suspensões do tipo usadas por caminhonetes) dos novos crossovers (carros mais elevados e com capacidade off-road, mas confortáveis e com suspensões de automóveis de passeio). E assim os exércitos dos grandões dividiam o novo reino dos carros com tração 4×4. Nenhum exército de carros pequenos ousava invadir esse território – no máximo ficavam nas beiradas.

Mas eis que um dia a Ford do Brasil resolveu ousar. E invadiu o reino dos crossovers/SUVs com um exército de simpáticos e leves soldados que passavam uma imagem de ecologia, esportividade e aventura: os EcoSport. Como Oompa-Loompas da indústria automobilística, os bravos EcoSport fizeram a Ford ser respeitada e passaram a reinar sozinhos num extenso território conquistado dos grandões SUVs e crossovers de luxo. Formado em 2003, o exército de Ford EcoSport nasceu da segunda geração do Fiesta e já na temporada seguinte ganhou divisões com tração 4×4. Foram vários anos consecutivos de domínio absoluto até que em março de 2010 surgiu um novo combatente no reino dos crossovers compatos: o Renault Duster, que na verdade era a versão franco-brasileira do romeno Dacia Duster, apresentado no Salão de Genebra de 2009. Chegou e fez sucesso. Como a Ford já estava preparando a segunda geração do EcoSport — agora um soldado preparado para brigar não só no Brasil, mas em outros países, como Índia e até Europa –, o Duster chegou a reinar como líder durante alguns meses de 2011. A nova geração do EcoSport, entretanto, voltou a lutar em 2012 e recuperou a liderança do território.

Mas agora tudo mudou! Existe uma guerra declarada pelo reino dos crossovers compactos – que empurraram os antigos jipões para uma área menor – e novos exércitos chegam ao front agora em abril: o Renegade empunhando a bandeira da Jeep, o HR-V com as cores da Honda, o 2008 tentando resgatar a dignidade da Peugeot e até o T6 trazendo a flâmula da chinesa JAC Motors. A Renault chamou o Duster para uma reciclagem e recoloca-o na luta com um visual melhorado (algo como trocar o uniforme e fazer barba e cabelo dos soldados).

E como será essa batalha sangrenta? Jeep Renegade e Honda HR-V entram declaradamente em busca da hegemonia do território. Com novas armas (equipamentos mais sofisticados, conforto, visual e capacidade off road), ambos querem simplesmente o poder absoluto. É bem possível que o Ford EcoSport deixe de ser líder para se tornar apenas a terceira força do reino. Para entender essa guerra, vamos aos preços.

O EcoSport briga de faixa de R$ 66 mil a R$ 87 mil. O Duster luta mais abaixo, na faixa de R$ 63 mil a R$ 79 mil. O T6, com menos pretensões do que os rivais, fica apenas na faixa de R$ 72 mil. Já o 2008 atuará na faixa de R$ 65 mil a R$ 85 mil. O japonês HR-V buscará a liderança na faixa de R$ 70 mil a R$ 89 mil. E o Renegade vai combater em duas frentes: uma divisão de seu exército lutará na faixa de R$ 70 mil a R$ 90 mil, enquanto a outra (com a novidade do motor a diesel), buscará conquistar algum território na faixa de R$ 100 mil a R$ 117 mil.

Especialistas comentam que à Ford só restará uma alternativa: recuar um pouco seu exército (baixar o preço do Eco) ou resistir desesperadamente até surgir uma reestilização. De todos os combatentes, o EcoSport é o único que ainda carrega uma pesada mochila nas costas (estepe para fora do porta-malas), uma solução que funcionou muito bem nos anos 2000, mas que agora se tornou inútil, fora de moda e já foi abandonada pela própria Ford nos EcoSport que começam a lutar na Europa.

A sorte está lançada! Sem os novos exércitos, a guerra já contava com 153 mil soldados/ano (carros vendidos). Esse número vai subir muito em 2015. A batalha será sangrenta e vencerá não apenas o mais forte ou mais valente, mas sim quem tiver a melhor estratégia para enfrentar todas as nuances desse surpreendente reino dos crossovers compactos.

PS: leia na revista Motor Show de abril o teste comparativo entre os seis combatentes. Foto: Roberto Assunção