Texto Flávio Silveira

Em nome do combate ao aquecimento global com redução das emissões de CO2 – das quais os automóveis representam só uma parte –, governos pressionaram fabricantes a acelerar a corrida pelo carro elétrico. Ao mesmo tempo, marcas da China começaram a invadir mercados europeus (e também o brasileiro) em ritmo alucinante: fui à inauguração de uma concessionária BYD, com presença da vice-presidente mundial, que mal estava pronta. A marca, por sinal, assumiu a liderança de vendas de elétricos em meio à guerra de preços com a Tesla, conquistando territórios como em um tabuleiro de War.

Planta da BYD em Camaçari – Crédito: Mauro Balhessa/IstoÉ

Nesta briga, quem ganha é o consumidor – com preços menores – e o Brasil, com novas fábricas: também no ano passado, a BYD e sua conterrânea GWM compraram as fábricas “abandonadas” da Ford (Bahia) e da MercedesBenz (São Paulo). E a Tesla anunciou planos da gigafactory do México, que pode fazer seus carros chegarem aqui sem pagar Imposto de Importação. Mas a onda elétrica vai adiante? Governos fazem leis, mas não produzem e vendem carros, não os usam… e leis nem sempre são adequadas à realidade.

Planta da GWM em Iracemápolis (SP) – Crédito: Divulgação

Elétricos são promissores, mas ainda têm grandes deficiências, como enormes baterias – que exigem muitas emissões para serem produzidas, demoram a carregar e exigem infraestrutura nova, entre outros problemas. Então, parte do castelo começa a ruir. Exemplos? O crescimento das vendas de elétricos “zero” nos EUA desacelerou muito, talvez mostrando um teto da adoção deles (early adopters, uso urbano, ecoentusiastas…) – e o de usados despencou 33,7% de outubro de 2022 a outubro de 2023.

Em 2030, a previsão é de que os eletrificados ultrapassem as vendas de modelos a combustão – Crédito: Freepik/@
senivpetro

Na Europa, as vendas de novos elétricos caíram 17% em dezembro, puxadas pela retirada de subsídios na Alemanha (onde, por este motivo, as vendas caíram 48%). E tem mais: a desvalorização dos elétricos usados na Europa preocupa as locadoras e as montadoras que trabalham com leasing. Pelo mesmo motivo, e pelo alto custo de reparação em acidentes (mais frequentes por conta da alta potência e do torque instantâneo), a alemã Sixt vai trocar uma encomenda de Tesla por modelos da BYD. Já a Hertz cancelou um pedido de 100 mil Tesla e vai trocar 20 mil carros elétricos por modelos a combustão por causa da baixa demanda e do alto custo de reparo (pelo mesmo motivo, colocou à venda 500 usados, a maioria Tesla Model 3, por metade do preço do novo).

Mas há opção aos elétricos a bateria? As baterias podem evoluir, mas o CEO da Toyota, Akido Toyoda, aposta que, ainda assim, terão pico de 30% das vendas. Ele prefere pilhas (ou células) de combustível a hidrogênio (também ruins de abastecer e “espaçosas”) ou com etanol líquido (mais promissoras, em desenvolvimento pela Toyota e pela Nissan aqui no Brasil).

Muitas montadoras – e a Anfavea – estão fazendo lobby pelo híbrido a etanol, tecnologia também “CO2 zero” que garante muita economia de combustível e não tem nenhum dos problemas graves dos elétricos.

Então, vale a pena ter um elétrico? A resposta não é fácil, depende desses fatores, da evolução do mercado e de cada perfil. E, com os impostos para importados aumentando, se um elétrico servir pra você, pode ser bom correr pra comprar.