Ah, vá. Claro que você tem pessoas ou coisas que moram no seu coração. Figuras que você admira, sei lá, marcas, carros, motos, pilotos, designers, motores, patrocinadores… Clássico: nossa personalidade é moldada por referências humanas e objetos do desejo, que inspiram nosso jeito de ser e alimentam nossas sabedoria e diversão. Não é isso, afinal – conhecimento e prazer –, que empurra nossas vidas? Aqui chegamos ao ponto central deste post: qual a melhor maneira de apresentar o seu “eu” pra galera? Mostrar o que você pensa, o que te dá prazer… Fácil: uma camiseta estampada.

Não basta acelerar, é preciso ter estilo
+A biblioteca básica do motociclista cool

Você pode ostentar a marca da moto que ama, o logotipo do relógio do ídolo, a silhueta do conversível que atiça seu desejo, o rosto do piloto (infelizmente o automobilismo ainda é muito masculino) que fez você sonhar na infância, ou mesmo só as cores da equipe que levou, digamos, Emerson ao campeonato de 1972. A camiseta personalizada tem a capacidade de mandar esta mensagem sobre seu caráter, seu estilo de vida, bom gosto (ok, às vezes a falta de…). Enfim, sobre sua personalidade. Uma t-shirt é o outdoor mais barato que você vai encontrar pra vender seu peixe.

O guitarrista Slash (Guns n’ Roses, Velvet Revolver) sabe disso.

Slash mostrando sua paixão por duas rodas (Reprodução/Tumblr gunsnrosesappetite)

Mas há um segredo. Quanto mais despojada a camiseta, mais cool vai ficar esse ícone colado no coração. Isso porque a t-shirt customizada, que ganhou projeção na contracultura (1960/70), reúne até hoje o astral que a tornou famosa: a busca pelo essencial (“menos é mais”) e um modo de se expressar. Então vale seguir o mesmo barato de 50 anos atrás: leve no peito algo realmente importante na sua vida, algo que define sua visão de mundo. Feito isso, uma camiseta pode ser sua melhor companhia – lavando de vez em quando, claro.

Andar em má companhia, você sabe, é um porre. No caso de uma camiseta estampada, ela pode tanto abrir portas sem que você tenha que dizer uma única palavra, como fazer você dar com a cara na porta se a mensagem não comunicar exatamente o que você pensa e fornecer pano pra manga para um pré-julgamento errôneo.

Tem camisetas que se tornaram lendárias.

  • A “Nova York”, que John Lennon (inglês), recém chegado pra morar na big apple, usou em várias fotos, depois de arrancar as mangas (moda na época)…
(Reprodução/ Flickr Abhisit Vejjajiva)
  • … e a que Steve McQueen, grande curtidor de Triumphs, vestiu algumas vezes nos anos 60, quando não estava fazendo cross sobre uma Honda Elsinore nas areias do deserto californiano. Aqui ele aparece com a camiseta “Triumph” na capa e numa foto interna do livro McQueen’s Motorcycles, de Matt Stone (Motorbooks). Reza a lenda que ele teria ganho esta t-shirt numa concessionária onde comprou uma de suas várias motos. Numa terceira foto da galeria abaixo, o ator usa uma camiseta da Indian, de quando, já mais maduro, começou a colecionar motos antigas.
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Agora vê só o que a esperta roqueira Sheryl Crow armou. Ela homenageia seus dois ídolos acima por meio das camisetas que eles usavam! A t-shirt “Triumph” surge no meio do clipe da música que fez exatamente pra lembrar McQueen; a de Nova York aparece no vídeo da entrevista que ela deu pouco antes de se apresentar (com a t-shirt) num concerto tributo a John Lennon.

 

 

 

Essa é outra maneira de você mostrar que curte algo ou alguém sem ser tão direto. É mais cool? Às vezes. Mais divertido? Talvez. É que tem um jogo de esconde, uma brincadeira cifrada que pode ser ainda mais expressiva de sua personalidade – dizer algo num quebra cabeças. Se é que seja esse o seu charme.

Usar esse truque pra homenagear pilotos de sua admiração, por exemplo, tem um problema. Hoje eles estão mergulhados até o halo no mundo do business, então dificilmente você vai ver algum usando uma camiseta como esta que James Hunt, campeão de F1 em 1976, vestiu nos dias de glória.

(Foto: Reprodução)

Mais: camiseta é roupa pra bater, não tem por que ser cara. Claro, nas concessionárias você vai encontrar as “oficiais”, e algumas valem os olhos da cara. Embutido nesse valuation estão direitos autorais, direitos de imagem, a garantia de exclusividade (até o próximo ambulante ou e-commerce asiático copiar) e, claro, a garantia de estar vestindo algo premium (traduzindo: você paga pra mostrar status).

Muitas camisetas vendidas no comércio e internet não pagam direito autoral – ou seja você vai comprar um item pirata (ou próximo disso). Isto é, nem sempre. Ás vezes são imagens de domínio público. Mas o bom senso diz pra fugir delas, especialmente porque são as mais óbvias: Rota 66, a moto ‘Capitão América’ do filme Easy Rider, Herbie (Se meu Fusca Falasse), qualquer coisa Ferrari ou Harley-Davidson, e por aí vai.

Há, no entanto, marcas fashion legais que licenciam o uso de imagens de fabricantes de carros e motos e oferecem t-shirts de qualidade que não ofendem seu bolso, como já fez a americana Lucky Brand.

(Foto: Reprodução/ Dillard’s)

Camiseta serve pra ir a qualquer lugar, à padaria ou à formatura – a decisão é sua. Mas vale lembrar que ela tem personalidade própria, estampada ou não. Surgiu, como a conhecemos, no começo do século passado como roupa de baixo, pro frio e pra proteger a pele dos aventais de trabalho, dos casacos pesados ou dos cobertores piniquentos. Só se transformou em ícone da juventude nos anos 50, quando Marlon Brando vestiu uma branca sem nada por cima no filme O Selvagem (The Wild One, 1953). Bem, roupas de baixo eram de algodão branco – pra que gastar grana com tintura se não iam aparecer? James Dean turbinou a tendência em Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, 1955). De lá pra cá, pouca coisa conseguiu ser mais cool que o look básico popularizado por eles: jeans, camiseta, jaqueta e coturno.

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Detalhe: se a vibe é ficar ainda mais relax, dá pra trocar a bota por um all star ou algum tênis confortável e discreto – o tênis, antes um calçado pra esporte (tennis shoe), só viria a se tornar pop nos anos 60, empurrado pela contracultura, pelo barateamento dos processos fabris e maior acesso aos materiais (látex, especialmente). Mas essa é outra história.