Quando penso na morte de Ayrton e no fim de sua carreira na Fórmula 1, inevitavelmente penso em Michael Schumacher, que começava a fazer sucesso quando Ayrton foi morto. Hoje, Michael continua em recuperação depois de um acidente de ski em 2013. Rezo por ele sempre, espero que se recupere. Michael é, claro, o mais bem-sucedido piloto da história da F1, com sete títulos mundiais. Porém, se Ayrton tivesse sobrevivido sem sequelas ao acidente de Ímola em 1994, tenho certeza que teria sido campeão naquele ano, derrotando Michael. Afinal, o parceiro de Ayrton na equipe Williams, Damon Hill, quase levou o campeonato naquele ano – não fosse aquela questionável manobra de Michael em Adelaide, no fim da temporada, teria ganhado – e, nos GPs antes de Imola, Ayrton tinha sido muito mais rápido que Damon.

Muitos especialistas já disseram que Damon deveria ter ganhado em 1995 – mais uma vez, foi batido por Michael. E finalmente Damon foi campeão em 1996, derrotando Michael de forma limpa e inquestionável. Minha opinião é que, se Ayrton tivesse saído sem ferimentos do acidente em Ímola, teria conquistado o título pela Williams em todos esses anos – 1994, 1995 e 1996 –, o que resultaria em um total de seis títulos, contra cinco de Michael. Na verdade, também poderia ser campeão pela Williams em 1997, com 37 anos, no lugar de Jacques Villeneuve, chegando a sete títulos mundiais. Mas, como disse, essa é só minha opinião.

Isso é o que a morte de Senna significou para a F1. Mas o que ela significou para mim? Pergunta difícil, mas vou tentar responder. Penso em Ayrton todo dia. Como homem de fé, sinto a presença dele em minha vida, e ela me faz melhor. Quando vejo fotos dele, especialmente sorrindo, ouço sua risada. Quando assisto a vídeos dele pilotando um F1 – especialmente em Mônaco, onde superou em muito o que qualquer homem jamais havia feito lá, ou fez depois – sinto a mais genuína admiração. De fato, tinha um talento único. De fato, ele era brilhantemente rápido. De fato, jamais veremos alguém como ele.

Tenho uma história que resume bem Ayrton. Em 1992, eu o convenci a testar meu Penske da Indycar em Phoenix uma pista oval curta. Antes de ele pilotar, ele pediu para eu dar algumas voltas para ele observar de fora. Eu estava andando rápido, com médias acima de 274 km/h. De repente, no meio da Curva Dois, eu passando a oito ou dez centímetros do muro, ele enfia a cabeça por um vão da cerca, para ver melhor como eu saía da curva.

Quando voltei aos boxes, disse “Ayrton, você é louco! Eu podia ter arrancado sua cabeça! Você não sabe que nas pistas ovais da Indy sempre passamos lambendo os muros?” Ele não respondeu nada, mas, sempre quando lembro da conversa, vejo perfeitamente seu sorriso irônico, escuto perfeitamente sua risadinha inconfundível.