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O que havíamos previsto na MOTOR SHOW em abril de 2014 está se concretizando. Uma nova picape da Fiat, já batizada de Toro, se somará à nova picape Oroch da Renault (leia avaliação aqui). A Toro já está pronta, mas a Fiat preferiu adiar seu lançamento para o primeiro trimestre de 2016, devido à crise econômica sofrida pelo Brasil, para entrar no mercado já com um bom volume de picapes produzidas. A montadora não divulgou imagens do modelo finalizado. Nossas projeções da revolucionária Fiat Toro foram feitas com base em informações de fontes não oficiais.

Tanto a Toro quanto a Oroch utilizam o mesmo conceito construtivo: monobloco com motor transversal e tração dianteira, bem diferente dos modelos atuais vendidos em nosso mercado. As tradicionais Ford Ranger, Chevrolet S10, Volkswagen Amarok, Toyota Hilux, Mitsubishi L200 e Nissan Frontier usam longarinas e têm motor e câmbio longitudinais, eixo cardã e suspensão traseira com eixo rígido e feixes de molas (exatamente como um pequeno caminhão). Nesse novo conceito de picapes, a estrutura é do tipo monobloco, bem mais rígida, resistente e leve.

Em resumo: elas deixam de ser um caminhãozinho para serem carros com caçamba, como as picapinhas, só que bem maiores. Com tal construção, essas picapes contemporâneas terão muitas vantagens sobre as antigas. Entre elas, estão o consumo mais baixo, o comportamento dinâmico semelhante ao de um bom sedã, o acesso mais cômodo para os passageiros, a maior resistência aos impactos e a melhor manobrabilidade. O sucesso das pequenas picapes que inundam o mercado brasileiro – todas derivadas de modelos de veículos em produção –, levaram os departamentos de engenharia das fábricas a repensar também o conceito das picapes médias.

Por que algo que funciona tão bem nas pequenas não poderia dar bons resultados também nas médias? Partindo dessa premissa e de resultados positivos que a Honda obteve no mercado norte-americano com a Ridgeline (uma picape monobloco que utiliza a plataforma do Honda Pilot), as engenharias da Renault e da Fiat desenvolveram suas picapes monobloco. A Renault partiu do crossover Duster, mas a Fiat preferiu desenvolver uma plataforma própria, semelhante à utilizada pelo Jeep Renegade.

Toro terá três tipos de motor

A Renault Oroch leva 650 quilos de carga, tem suspensão independente nas quatro rodas, motores flex 1.6 e 2.0 e tração 4×2 e 4×4 (em 2016). Não há previsão de uma versão a diesel, mas a Renault não descarta essa possibilidade. Já a Toro terá capacidade de 1 tonelada, como as médias com chassi e longarina. Mas, segundo a Renault, isso não é grande vantagem porque 99% dos usuários de picapes médias levam 600 kg ou menos de carga. A Fiat Toro terá suspensão independente nas quatro rodas, sendo a traseira com um sofisticado sistema de adaptação de câmber e cáster variando de acordo com a carga colocada na caçamba.

A Toro será oferecida inicialmente no Brasil com duas opções de motor. A versão de entrada se chamará Urban e terá motor 1.8 flex de 130/132 cv (gasolina/etanol) semelhante ao do Jeep Renegade, sempre associado a um câmbio automático de seis marchas. Haverá também a versão Country, com motor turbodiesel 2.0 MultiJet (também do Renegade) de 170 cv e
35,7 kgfm de torque. Essa unidade será associada ao câmbio automático ZF de nove marchas ou a uma caixa manual de seis marchas, sempre com tração 4×4. Ainda em 2016 chegará uma terceira opção, com o motor 2.4 flex TigerShark MultiAir de 186 cv e 24,4 kgfm – que deve ser associado aos dois tipos de transmissão e de tração. Só haverá opção de cabine dupla.

Nossas fontes informam que a Toro 2.0 turbodiesel manual terá desempenho bastante semelhante ao da Ford Ranger 3.2 (4×2), mas com um consumo 20% menor. Deverá marcar cerca de 10 km/l na cidade e 13 km/l na estrada. Resultados promissores, quando consideramos que deve acelerar de 0-100 km/h na casa de 11 segundos e atingir 190 km/h de máxima. Quanto ao preço, falando em valores de hoje, a Toro será posicionada acima da Oroch (leia na página 36). A novidade da Fiat partirá da casa dos R$ 70.000, com a versão topo de linha turbodiesel automática 4×4 chegando a R$120.000. Percebe-se claramente que outra vantagem desse novo conceito de picapes é seu preço mais baixo do que o das concorrentes maiores. Devido à sua complexidade construtiva, as médias acabam custando mais caro (veja quadro abaixo).

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Henry Ford ficou no passado

O conceito das picapes Toro e Oroch foge completamente da tradicional fórmula que Henry Ford pensou ainda no início do Século XX, quando, a partir do seu modelo T, criou uma pequena picape para ser utilizada por pequenos fazendeiros no transporte de mercadorias e insumos pelas estradas precárias da época. Como era essa picape do inicio? Um chassi composto de duas longarinas sobre o qual toda mecânica era encaixada. Posteriormente montava-se o habitáculo para motorista e passageiro e uma carroceria, tudo fixado nesse chassi.

Tal descrição lembra algo? Claro que sim! É como são construídas as picapes tradicionais até hoje. Elas podem ter o design de cabine e a mecânica que cada um dos fabricantes quiser, mas conceitualmente são idênticas às picapes feitas lá em meados dos anos 1930. Exatamente como são construídos atualmente os caminhões. Como vantagens dos modelos antigos, podemos citar a robustez e a facilidade de manutenção. Mas as desvantagens são inúmeras e decorrentes da idade do conceito: grandes, pesadas, com uma dinâmica discutível e limitada, altas, desengonçadas, aerodinamicamente ineficientes e com um centro de gravidade que prejudica a estabilidade.

E tudo isso, no caso das picapes, para transportar apenas 1.000 kg de carga. Evidentemente, já tinha passado a hora de rever os conceitos das picapes. E daqui para frente provavelmente todos os novos projetos serão nesse conceito monobloco. A Renault e a Fiat saíram na frente, mas a Hyundai e a Mercedes já anunciaram que em breve também lançarão picapes dessa nova linhagem. É esperar para ver.