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Não adianta reclamar, não adianta espernear: os motores grandes estão inevitavelmente fadados à extinção. É a onda do downsizing, que os deixa cada vez menores. Já regra na Europa há anos, no Brasil essa revolução acontece há algum tempo em modelos esportivos e de luxo, já chegou ou logo chegará aos sedãs e hatches médios, e agora atinge até mesmo os carros de entrada, com a estreia do surpreendente Volkswagen Up TSI e seu motor 1.0 turbinado.

Em agosto, comparamos aqui todos os hatches nacionais com motor 1.0 de 3 cilindros. O Ford Ka levou a melhor, mas foi seguido de perto pelo Up. Não há carro melhor para desafiar esse Volks, portanto, do que o próprio Ka, mas agora com motor 4 cilindros 1.5 – justamente para ver como o Up 1.0, nova referência do downsizing, se sai contra seu melhor rival com motor maior. Para quem busca mais desempenho do que ofereciam os 1.0 até agora – e somando o “fator turbo” ao Up – o Ka ainda é a melhor compra?

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O quase-empate das versões menos potentes mostra que no geral a disputa é extremamente equilibrada, e as avaliadas aqui têm preços bem próximos: Up TSI e Ka 1.5 vão de R$ 43.000 a R$ 48.000 (o Up ainda tem a série especial Speed, com mudanças visuais, por R$ 49.900). As fotos, porém, são das versões topo de linha Up White e Ka SEL. Nas configurações básicas, ambos têm (entre outros equipamentos de série) ar-condicionado, direção com assistência elétrica e conexão bluetooth, mas o Up é mais equipado.

Boa parte dos itens mais legais do Ford só aparece no Ka SEL, que até se equilibra com o Up High – com vantagens como o sistema multimídia de série (desde o SE Plus, enquanto no Up High é opcional) e o auxílio de partida em rampas, mas desvantagens como a falta de isofix, dos retrovisores elétricos e do navegador por GPS (leia tabela). Uma falha dos dois está nos vidros elétricos, que não se fecham automaticamente ao travar o carro (e os do Up, atrás, só na manivela). Mesmo assim, nos equipamentos a vitória é do Up.

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No uso diário, enquanto o Up tem discreta vantagem no porta-malas, acabamento com materiais mais finos, embora também simples, e é mais amplo na dianteira (no rival a perna raspa no console), o Ka oferece posição de guiar mais baixa e um pouco mais de espaço no banco traseiro, por ser mais longo (mas essa diferença será sentida mais por adultos; e para quem tem bebê, o Up leva vantagem por fixar cadeirinhas infantis com mais segurança, graças ao isofix).

Em relação às suspensões, ambos são equilibrados e eficientes, mas o Up consegue ser mais macio e confortável, enquanto o Ka é um pouco duro demais, principalmente para quem viaja atrás. Mas vamos, enfim, ao que mais interessa aqui: os motores, o desempenho e, principalmente, o prazer ao volante. O segredo do 1.0 do Up TSI, como na maioria dos carros que sofre downsizing, está na tecnologia do motor – principalmente o turbo e a injeção direta de combustível (que acontece nos cilindros, e não no coletor de admissão).

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Enquanto isso, o Ka tem um motor 1.5 “basicão”, tradicional, que não conta nem ao menos com comando variável na admissão (no Up ele é variável tanto na admissão quanto no escape). Ambos têm quatro válvulas por cilindro e potência e torque até próximos – mas enquanto o Ka tem meros 5 cv a mais que o rival, o Up tem consideráveis 1,9 kgfm de vantagem. Na prática – desculpem o clichê – é como se o Up tivesse dois motores. Pisando leve no acelerador, ele é, segundo os testes do Inmetro, o carro mais econômico do Brasil. Em nosso uso cotidiano, com gasolina, ele fez 14 km/l no trânsito pesado, impressionantes 23 km/l a 100 km/h e 18 km/l a 120 km/h (enquanto o Ka 1.5 marcou 10 km/l, 15,5 km/l e 13,5 km/l, respectivamente).

Pisando mais fundo no acelerador, os 105 cavalos do Up TSI “acordam” e as respostas são muito surpreendentes – toda sua força está disponível a meras 1.500 rpm, enquanto no Ka o motor é mais áspero e é preciso levar o conta-giros acima das 4.000 rotações, sempre trocando e esticando mais as marchas para que ele deslanche satisfatoriamente (e é essa força em baixas rotações que torna os carros turbinados mais divertidos de dirigir). Assim, com etanol o Up TSI atinge 100 km/h em apenas 9,1 segundos, melhor do que muito 1.8 e até alguns 2.0. O Ka cumpre a mesma prova em 10,7 segundos.

ficha-tecnica

Além de garantir mais prazer ao volante e ultrapassagens mais seguras, toda essa disponibilidade de torque do Volks faz com que ele exija trocas de marcha bem menos frequentes. E o melhor: permitiu também que o diferencial fosse alongado em 26%, solucionando o problema da quinta marcha curta demais do Up 1.0 aspirado. Sem ter que ficar esticando demais as marchas, o nível de ruído do motor na cabine também é muito mais baixo do que no rival. No fim, o Up TSI, embora menos largo e espaçoso e com design que não é unânime como o do Ka, é mais equipado já nas versões básicas e mais seguro.

Para completar, com esse novo motor 1.0 é mais silencioso, tem consumo muito menor e desempenho bem superior ao do Ka 1.5 – provando, mais uma vez, que o downsizing é um caminho muito positivo e sem volta. Vira o jogo contra o rival, por quem havia sido derrotado na briga das versões aspiradas, e acaba sendo aqui a melhor escolha. À Ford só resta embarcar nessa revolução e também lançar seu 1.0 turbinado – que na Europa, vale lembrar, já está no Focus e até mesmo no Fusion.

veredicto

Obs: Depois da publicação desta reportagem, na edição de setembro da MOTOR SHOW, a Ford anunciou o lançamento da linha 2016 do Ka, já com o Isofix.