Às vezes um pouco de esforço extra pode trazer uma grande recompensa. Considerando que as versões topo de linha de muitos sedãs médios passam bem dos R$ 80.000, por que não gastar um pouco a mais e, por cerca de R$ 100.000, colocar na garagem um modelo não apenas maior, mas também mais potente, seguro e confortável? Nissan Altima, Ford Fusion e Peugeot 508 estão “um degrau acima” de Sentra, Focus e 408, respectivamente. E o melhor é que, além de proporcionarem dirigibilidade e status bem acima da média, eles têm custos de manutenção razoáveis – não muito mais elevados do que os dos irmãos menores.

A grande novidade do segmento de sedãs grandes em nosso mercado é o Nissan Altima. Para enfrentá-lo, escolhemos o líder de vendas da categoria, o Ford Fusion, e outro não tão bom de vendas, mas com qualidades de sobra – o Peugeot 508. Cada um desses três modelos representa um modo diferente de fazer carros, ligado à própria origem das marcas e aos mercados a que se destinam.

Vindo dos Estados Unidos, o Altima tem marca japonesa e a tradicional racionalidade nipônica, mas adaptada ao gosto norteamericano, já que lá é seu maior mercado – e ele nem é vendido na Europa. Uma fórmula bastante similiar às do Toyota Camry e do Honda Accord. Do outro lado do Atlântico, mais especificamente da França, vem o Peugeot 508, representando a sofisticação europeia, com uma receita parecida com as do VW Passat e do Citroën C5 – e ele nem é vendido no mercado norteamericano. Já o Ford Fusion, nessa geração do ano passado, nasceu com a missão de ser um modelo global. Diferentemente dos rivais, foi concebido para unir os mercados americano e europeu – o antigo Fusion, cheio de cromados e tipicamente americano, como o Mondeo antigo, bem mais sofisticado e tipicamente europeu (apesar da marca americana). Como resultado, temos um carro que ficou no meio do caminho, em um ponto intermediário entre o gosto dos ianques e o do consumidor do Velho Mundo.

Altima e 508 são oferecidos em versão única. O primeiro sai por R$ 99.800; o segundo, embora tenha preço oficial de R$ 109.900, tem sido vendido por pouco mais de R$ 100.000, segundo a Tabela Fipe/MOTOR SHOW. Já o Ford Fusion tem versões 2.5 flex – cuja potência de 175 cv é mais próxima da dos rivais que aparecem aqui –, com preço a partir de R$ 95.900 (R$ 99.900 com o teto solar opcional, que Altima e 508 trazem de série). Mas, como a versão que tem sido mais escolhida pelo consumidor é a mais potente Titanium EcoBoost, que parte de R$ 103.900 (R$ 107.900 com teto solar), foi ela que escalamos para esse comparativo.

Em comum, os três têm porta-malas grande e espaço de sobra no banco traseiro, graças às generosas carrocerias. Também têm custos de manutenção similares, que, pouco superiores aos dos sedãs médios, não intimidam a compra (nesse ponto, o Fusion leva desvantagem por exigir revisões semestrais). Para completar, apesar de bons na cidade, são carros perfeitos para quem pega estrada – onde a superioridade em relação aos médios fica mais evidenciada.

Construtivamente, os três também são similares, com motor e tração dianteiros e suspensões independentes. No conjunto motriz, porém, são distintos: o 2.0 turbo de injeção direta do Fusion oferece 240 cv e bons 34,7 kgfm de torque, mostrando superioridade em relação ao 2.5 aspirado do Altima (182 cv e 24,8 kgfm) e ao 1.6 também turbinado e com injeção direta do 508 (165 cv e 24,5 kgfm). Já na transmissão, Fusion e 508 apostam na automática tradicional de seis marchas, enquanto o Altima usa uma caixa continuamente variável (CVT), que prioriza o consumo, a suavidade e o conforto.

Ao volante, para quem gosta de esportividade, o Fusion é superior. O 508 só não fica tão atrás porque seu câmbio é exemplo de rapidez e boa calibração, enquanto o do Fusion é lento, mesmo no modo sequencial. Já o Altima foca na maioria dos consumidores desse tipo de sedã, para quem esportividade não é prioridade – e cumpre com louvor sua missão. Além de muito suave, a 100 km/h seu motor gira a 1.500 rpm e o computador de bordo marca incríveis 17,5 km/l. Assim, o Altima é imbatível no consumo: com nota A do Inmetro, gasta menos até que o irmão menor Sentra. Com a alavanca no modo “Ds”, simula seis marchas, dando a impressão de que não é um CVT, e pode ser colocado no modo Sport (que mantém o giro alto). A caixa ainda ativa automaticamente o freio motor em reduzidas, transmitindo mais segurança.

Já quando se fala em sofisticação, é o 508 que deixa clara sua vantagem. Tem interior com acabamento superior, nível de ruído extremamente baixo, mesmo quando se pisa fundo no acelerador (situação em que o som do motor dos dois rivais invade a cabine sem dó), suspensões mais macias e, de novo, bem mais silenciosas.

Não são só o bom acabamento e o baixo ruído, porém, que fazem com que os ocupantes do 508 se sintam melhor. Ele também tem bancos mais envolventes e uma lista de equipamentos mais generosa. Quando se analisam só itens de segurança, porém, o Altima é que ganha: além do que os rivais oferecem – vários airbags, controle de estabilidade etc. –, tem controle ativo de subesterço (que freia a roda interna da curva em situações de emergência), monitor de mudança involuntária de faixa e de ponto cego. O Altima só fica devendo os faróis de xenônio, aqui exclusivos do 508.

No fim das contas, o Peugeot 508, uma grata surpresa, é o vitorioso. A melhor opção para quem busca em um sedã grande, além de espaço mais amplo, conforto e sofisticação comparáveis aos de um Audi ou de um Mercedes. Do lado negativo, seu consumo é ruim e ele não tem o melhor desempenho – se isso é o que você procura, prefira o Fusion. Já o Altima é exemplo de racionalidade, com mais segurança, um consumo imbatível e uma suavidade de condução invejável.