A partir do dia 1º de janeiro de 2010 passa a valer a obrigatoriedade dos sistemas de airbag e ABS como itens de série dos veículos brasileiros. No caso do airbag será obrigatório o uso do dispositivo para motorista e passageiro do banco dianteiro. Apenas carros de passeio e caminhonetes estão incluídos na lei. Já para o ABS, a medida se estende para todas as categorias, com exceção das motos e dos veículos rurais. Com o objetivo de evitar grande impacto no mercado, o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) instituiu um cronograma de implantação dos equipamentos. Para o ano que vem 8% dos veículos incluídos na resolução terão que ter ABS e airbag. E esse percentual irá aumentando até 2014, quando 100% da frota sairá de fábrica com os aparatos.

Hoje são poucos os carros que possuem os dois equipamentos. De acordo com a Bosch fabricante de ABS, em 2007 só 15% dos carros licenciados no Brasil possuíam o sistema. Já no caso do airbag, a realidade é ainda mais desfavorável. Uma pesquisa realizada pelo Cesvi Brasil (Centro de Experimentação e Segurança Viária) mostrou que apenas cerca de 4,5% da frota de automóveis e camionetas do País contam com o equipamento.

O alto custo do opcional e a falta de informação justificam esses números. Mas se os consumidores soubessem quanto esses equipamentos podem significar na hora de um acidente, talvez a realidade fosse diferente. “Em caso de acidente, um motorista que tenha airbag em seu carro tem 51% de chances a mais de sobrevivência, se comparado a um motorista sem o sistema”, afirma o especialista em segurança viária André Horta.

Comparando os dados do Ministério da Saúde dos EUA e adaptando as estatísticas de lá para as proporções brasileiras, o Cesvi Brasil constatou que, se no Brasil toda a frota de automóveis e caminhonetes possuíssem airbag, por ano seriam evitados 489 óbitos e 10.150 ferimentos. Isso representaria um impacto econômico positivo de cerca R$ 315 milhões por ano, uma economia que poderia resolver muitos problemas brasileiros. Para se ter uma noção, de acordo com o Siafi(Sistema Integrado de Administração Financeira), em 2008 o governo brasileiro aplicou R$ 250 milhões em programas de habitação.

A tecnologia do airbag está tão evoluída que já existem dispositivos que protegem a cabeça e os joelhos, por exemplo, de todos os ocupantes. O Toyota iQ (ao lado) oferece até um inédito airbag no vidro traseiro

A eficiência do ABS também é bastante alta,diminuindo bem os acidentes, mas, segundo Carlo Gibran, gerente de marketing da divisão chassis systems control da Bosch, uma das principais fabricantes de sistemas ABS do Brasil, não existe nenhuma estatística que possa prever quanto o uso do ABS evita as mortes e ferimentos nos acidentes de trânsito.

“Aqui no Brasil, temos pouca base de dados para fazer pesquisas como esta, e lá fora essa tecnologia já é muito antiga, por isso, ninguém mas faz esse tipo de levantamento”, justifica Gilbran. Porém, de acordo com o executivo, em testes realizados pela Bosch, a uma velocidade de 80 km/h um carro com ABS chega a ter uma redução de até 23% na distância de frenagem, e o mais importante: durante a frenagem o motorista não perde o controle do veículo.

Ou seja, você pode frear e, ao mesmo tempo, virar o volante, fazendo um desvio forçado, sem correr o risco de perder o controle do carro, o que é impossível em um automóvel sem o sistema. “Essa redução de espaço e a segurança de continuar no controle do carro evitam muitos acidentes”, diz Gibran.

Atualmente, tanto o airbag como o ABS são oferecidos como opcionais na maioria dos carros. E poucas montadoras disponibilizam os sistemas separadamente. Geral mente, para ter o ABS ou o airbag o cliente é obrigado a adquirir pacotes com outros acessórios. Isso acaba deixando os dois equipamentos ainda mais inacessíveis. E, pior ainda, existem muitos modelos que não oferecem os aparatos nem como opcionais.

Em agosto de 2007, o Cesvi constatou que 60% dos modelos hatch compactos não contavam com ABS nem como opcional. “Isso depende da estratégia de cada montadora, mas, no geral, essa medida é adotada para conter a diversificação das configurações de cada modelo, pois isso encarece muito a logística e a produção”, justifica Marcus Vinicius, presidente da comissão de assuntos técnicos da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) e gerente de regulamentação e homologação da Fiat. Segundo ele, por conta do largo prazo que o Contran estabeleceu para as montadoras se adequarem à implantação do airbag e do ABS, os consumidores não terão grandes impactos econômicos.

“Não há como prever quanto vai subir o preço dos carros, mas acredito que produzindo em larga escala o valor dos equipamentos ficará mais baixo”, diz Vinicius.

O que é e como funciona o airbag?

É um sistema que, ao identificar uma batida, ativa o preenchimento de uma bolsa com gás nitrogênio, que tem a função de amortecer o impacto. Quando um veículo sofre uma colisão, sensores são acionados e as informações coletadas por eles são processadas em uma unidade de controle que analisa as proporções da batida, para depois acionar o airbag. Para evitar o sufocamento dos ocupantes, ele é inflado e desinflado em apenas 150 milesegundos.

Praticamente o tempo de um piscar de olhos. É preciso que o passageiro use o cinto de segurança, pois o tempo de explosão da bolsa leva isso em consideração. A distância mínima entre a pessoa e o airbag deve ser de 25 cm e a posição de pegada no volante deve ser a chamada 13:45h (comparado a do relógio), em que as duas mãos ficam nas laterais do volante, para evitar que os braços sejam jogados em direção ao rosto.

No caso do passageiro, a distância mínima é a mesma e é importante que a pessoa não apoie mãos ou pés no painel e nem mantenha objetos entre ela e o airbag. Crianças não podem viajar no banco da frente. “Dependendo da situação da batida e da posição que estiver, o contato do airbag com uma criança pode matar”, alerta Nivaldo Siqueira, da TRW. Além disso, fique atento aos carros usados, pois o airbag tem validade de dez anos.

Para Carlo Gibran, da Bosch, o impacto nos valores dos carros dependerá da estratégia das montadoras. “O valor do ABS já caiu bastante, se comparado há três anos. Com a produção maior, tudo indica que cairá ainda mais. Se isso será repassado para os consumidores, depende das montadoras”, afirma o executivo. No caso dos airbags, a situação é a mesma. Nivaldo Siqueira, gerente de desenvolvimento de negócios da TRW, diz que a marca pretende abrir uma linha de montagem no Brasil em 2010 e que o “aumento da produção lhes dará mais condições de praticar preços competitivos”.

Uma possível mudança no valor do seguro e na manutenção dos carros também tem sido tema de discussão. “O ABS não exige nenhum tipo de cuidado especial”, diz Gibran. Segundo a TRW, o mesmo vale para o airbag. Já em relação ao seguro, o consenso é de que as empresas levarão em conta a redução de acidentes e ferimentos graves que o ABS e o airbag trarão. “A redução dos danos gera uma economia enorme. Tenho certeza de que as seguradoras levarão este fator em conta”, prevê André Horta. Aos consumidores, cabe comemorar a nova lei e aprender como tirar o melhor proveito desses equipamentos que são verdadeiros anjos da guarda no trânsito.

O que é e como funciona o ABS?

O ABS é um sistema de segurança que, em situações de emergência, impede o bloqueio das rodas durante a frenagem. Assim o motorista não perde o controle do carro, podendo desviar de obstáculos, além de parar em uma distância bem menor. O equipamento possui sensores de velocidade que controlam constantemente todas as rodas. Se uma delas ameaça travar, o ABS interfere numa fração de segundos e reduz temporariamente a pressão sobre ela, até que o travamento seja evitado.

Se necessário, o sistema aplica este procedimento em uma ou mais rodas ao mesmo tempo. Em casos de emergência, o motorista deve pressionar o pedal do freio e manter a pressão sobre ele com força máxima, o ABS não deixará que as rodas travem, mantendo a dirigibilidade e facilitando o desvio de obstáculos. A atuação do ABS é identificada através de um tremor nos pedais, pois a ação do sistema provoca uma rápida variação de pressão nos freios para que as rodas não travem. “Tem muita gente que alivia a pressão nos pedais depois que sente as trepidações”, conta Roberto Manzini, dono da escola de pilotagem que leva seu nome.

De acordo com o piloto e instrutor, com o ABS, a forma de operar em emergências é totalmente diferente. Se em um veículo sem o equipamento é preciso aliviar o pé no pedal para voltar a ter controle da direção, com o sistema isso funciona completamente ao oposto. “Se você não pressionar o freio com máxima força não usufruirá de todos benefícios que o ABS oferece. O pior que é que quase todo mundo que vem fazer o curso de pilotagem defensiva não conhece o ABS e, por isso, não lhe dá a importância merecida”, lamenta.

1 Unidade de controle da pressão no sistema de freios eletronicamente comandada

2 Sensor de rotação das rodas que “percebe” se a roda parou de girar e informa à central que a pressão do freio deve ser aliviada naquela roda para que ela volte a girar