Ao lado de Chevrolet Agile e Renault Sandero, o Fiat Punto pode parecer muito superior e até deslocado nessa disputa. Mas não é o que se vê, pensando mais racionalmente. Os três modelos deste comparativo têm medidas externas e internas semelhantes, são muito parecidos construtivamente e custam praticamente os mesmos R$ 40 mil. A superioridade acaba se definindo por detalhes. Um tem melhor motor, outro tem interior mais bem acabado e, assim, pouco a pouco, os três vão revelando ao consumidor suas principais qualidades e também seus maiores defeitos.

Em espaço interno, por exemplo, o Sandero é o melhor dos oponentes. Esticar as pernas, abrir os braços, entrar e sair… Tudo é mais fácil e mais confortável com ele. Com seus 2,591 metros de entre-eixos, o modelo da Renault foi projetado de dentro para fora. Sua plataforma (a mesma do Logan) é moderna apesar de barata, e foi criada justamente com a prioridade de desenvolver modelos espaçosos, que são uma exigência do mercado atual.

Já o Agile, que se baseia na plataforma do Celta (a mesma do Classic e do Corsa antigo), tem nove centímetros a menos de largura que o Renault (com 1,68 m), o que sacrifica um pouco o espaço para os ombros de quem vai atrás. Mas os projetistas fizeram uso de alguns recursos técnicos que permitiram garantir conforto para as pernas de todos os passageiros, mesmo quando a altura deles passa de 1,80 m. Entre eles a adoção de uma boa distância entre-eixos (2,543 m) e, principalmente, de um ponto H (posição em que fica o quadril do motorista em relação ao assoalho do carro) elevado, o que favoreceu bastante a habitabilidade, inclusive do motorista, que não é tão boa no Celta. Tratase de um bom exemplo de projeto que consegue um maior aproveitamento de espaço em uma base originalmente problemática nesse quesito.

Por último, temos o Punto, o mais apertadinho dos três. Além de ter o menor entre-eixos (2,510 metros) e quase a mesma largura do Agile, o modelo da Fiat não tem o espaço interno como um quesito primordial de seu projeto. A ideia aqui era oferecer design atraente, acabamento de segmento superior e dirigibilidade mais esportiva. Essa diretriz determinou onde o motorista estaria posicionado, qual seria o centro de gravidade, a espessura da espuma dos bancos e outros itens fundamentais que acabam influenciando diretamente na obtenção ou não de mais espaço interno. Por isso, o espaço em seu interior é menor do que o que se desfruta no Idea, que tem base semelhante. Seu porta-malas de 280 litros também é o menor: o Agile tem 327 litros de capacidade e o Sandero, 320 litros. Quase um empate. Aqui vale uma crítica: no caso do Agile, para abrir o bagageiro, é obrigatório o uso da chave. Não há abertura remota nem maçaneta externa. Um incômodo.

Acima, o painel do Punto, que tem acabamento melhor que os rivais, com o uso de plásticos de melhor qualidade. Ao lado, o CD Player com MP3 opcional, junto do ar-condicionado analógico, de série. A oferta de opcionais para o modelo é grande

No Agile, o acabamento é problemático, com rebarbas mal recortadas e vãos irregulares. Ao lado, o CD Player, que nele é item de série, e o arcondicionado com visor digital, mas funcionamento igual ao de um modelo analógico convencional

Com menor entre-eixos, o espaço interno é menor no Punto, principalmente para quem viaja no banco traseiro. Abaixo, o porta-luvas adicional, disponível quando o carro não vem com airbag. Os botões para a abertura dos quatro vidros ficam na porta

O Agile é o que oferece mais espaço para as pernas no banco traseiro, mas, quando viajam três, fica apertado. Abaixo, o porta-objetos/porta- GPS (quando se usa o aparelho da Chevrolet). Os botões de controle dos vidros ficam mais para trás do que deveriam

O acabamento do Sandero é bastante simples, de acordo com sua proposta de carro econômico. Por isso, ele também não oferece ajuste de altura nem de profundidade do volante. O CD player foi aprimorado, e é item de série nesta edição limitada Vibe

No Sandero, o espaço para as pernas no banco traseiro é bom, e três passageiros viajam melhor, graças a sua maior largura. O porta-objetos acima do porta-luvas não tem revestimento, e os comandos dos vidros elétricos não ficam nas portas, mas no painel

Mas é quando falamos em acabamento que o Punto se distancia dos rivais e abre vantagem com materiais de melhor qualidade, de toque superior e melhor tratamento acústico. Tanto Sandero quanto Agile não oferecem muito ao consumidor e, no caso do último, a situação é ainda pior. No Renault, apesar de o plástico não ser de grande qualidade, não se vê desleixo com o acabamento, enquanto no Chevrolet são visíveis os encaixes imperfeitos e as arestas. No porta-malas, o revestimento de carpete fica praticamente solto, enquanto o do Sandero é bem acertado. Em relação aos itens de série (leia tabela), eles se equiparam. Todos oferecem ar-condicionado, direção hidráulica e computador de bordo. O Agile e o Punto pecam por não oferecer vidros traseiros elétricos, mas o GM compensa com o piloto automático. Já o modelo da Fiat oferece o follow me home e o ajuste de altura e profundidade no volante, mas fica devendo CD Player e rodas de liga leve. Já o Renault tem trio elétrico, mas não dispõe de nenhuma regulagem para o volante (ônus da origem barata!).

Em desempenho, a vitória vai para o Sandero. Seu motor 1.6 8V de 95 cv, apesar de não ser o mais potente, garante retomadas mais ágeis se comparadas às do Chevrolet e às do Fiat, ambos com motor 1.4 8V (com 102 cv e 86 cv, respectivamente), o que deixa a condução mais segura e prazerosa. Além do que, o modelo da Renault é o primeiro a chegar aos 100 km/h na prova de aceleração e atinge 174 km/h de velocidade máxima, deixando para trás Punto (163 km/h) e Agile (166 km/h) – todos sempre utilizando etanol no tanque. Já em comportamento dinâmico, o Punto é o mais interessante. Tem suspensões mais firmes, centro de gravidade mais baixo e, apesar de ser confortável, faz curvas com mais competência e empolgação. Pena seu motor 1.4 não corresponder à expectativa. Mas Sandero e Agile não fazem feio: ambos têm bom equilíbrio entre conforto e estabilidade e oferecem comportamento liso, sem surpresas.

Em relação à manutenção, o Agile leva vantagem sobre o Punto (que também tem seguro mais caro) nas peças de reposição e ambos dão um banho no Sandero que, apesar de ter a economia como conceito, cobra cerca de 50% a mais por suas peças. A Chevrolet, no entanto, merece ponto negativo em transparência, já que se recusou a divulgar os preços das revisões programadas do Agile, informação que nenhuma das concessionárias consultadas possuía. Já o Punto cobra mais que o Sandero pelas revisões programadas, mas a Renault as exige a cada 10.000 km, enquanto o Fiat “chama” o proprietário somente depois dos 15.0000 km. Assim, no custo por km/rodado, eles praticamente empatam. Já, quando o assunto é garantia, o Renault é imbatível. Se não fosse por esse detalhe, o Punto seria campeão absoluto em manutenção.

As peças do Sandero são mais caras, mas seu seguro é barato e ele é o único que oferece três anos de garantia total