O mercado “off-road light” é um sucesso no Brasil, disso todos sabem. De tempos em tempos, uma novidade aparece. A grande notícia, agora, é o Citroën Aircross: o mais novo aventureiro urbano nacional e uma (enorme) ameaça aos pioneiros da categoria, Palio Weekend (1999) e EcoSport (2002), além de seu seguidor mais bem-sucedido, o CrossFox (2005). Outras marcas já seguiram a fórmula, com modelos como Sandero Stepway, Livina X-Gear, e Fiesta Trail. Alguns têm modificações mecânicas (suspensão elevada, transmissão modificada) e outros, apenas estéticas (quebra matos, para-lamas, etc).

A própria Citroën já tem, desde 2006, seu representante – o C3 XTR, da categoria “mudanças estéticas”. Agora, a marca aprendeu com os erros e acertos (seus e os dos concorrentes) e entrou de vez no jogo: o Aircross une o melhor dos rivais – o porte e a garantia de três anos do EcoSport o bom acabamento do CrossFox (nesta última geração) – e ainda adiciona outras qualidades.

A carroceria com linhas ousadas deixa os rivais com cara de velhos. É quase a mesma do C3 Picasso, o europeu que lhe emprestou o design e deve ser fabricado aqui no ano que vem, pois é um Aircross sem o “toque” off-road. Vale frisar que a carroceria de minivan, embora não tenha nascido para um SUV como a do EcoSport, não é simplesmente a de um hatch crescida, como no CrossFox e no Sandero Stepway. E, como o C3 Picasso ainda não foi lançado aqui, garante exclusividade.

Mais comprido e mais alto que os rivais, o interior do Aircross tem a coluna A dividida e grandes vidros que dão sensação de amplitude. Além disso, a posição ao volante (com ajuste de altura e profundidade) é boa e ele é mais espaçoso, tem porta-malas maior (403 litros, contra 292 litros do EcoSport e 353 litros do CrossFox) além de um acabamento que impressiona.

A lista de equipamentos é farta desde a versão básica, GL (por cerca de R$ 55 mil, deve responder por 3% das vendas): ar, direção, trio elétrico e computador de bordo, entre outros. Mas as mais procuradas devem ser a GLX (cerca de R$ 60 mil), com 47% das vendas, e a Exclusive (com ABS, airbag duplo, bancos de couro e muito mais, por cerca de R$ 65 mil), com 30% do mix. As duas últimas vêm com inclinômetros e bússola (como no Idea Adventure). Com os demais opcionais exclusivos (airbags laterais, sensores de estacionamento, de chuva e de faróis) sobe para cerca de R$ 70 mil.

Depois da apresentação em Porto Real (RJ), segui para o Rio de Janeiro – com um desvio pela Serra do Mar. Lá, a primeira impressão que a carroceria passou – de que inclinaria demais nas curvas – foi superada. Sem inclinações e com ótimo comportamento, permite abusos sem escapar nas curvas. Embora a plataforma seja a do C3, no asfalto ruim e na terra a suspensão não se mostrou delicada, pois foi elevada em relação ao solo e ganhou amortecedores mais rígidos.

Assim como aprendeu a lição da suspensão elevada, a Citroën também aprendeu que estepe na traseira, mes- Lançamento mo sacrificando a praticidade, é tarefa obrigatória nesta escola. O sistema é quase idêntico ao do CrossFox: abre-se lateralmente o suporte do estepe, depois a tampa do porta-malas, verticalmente. A única diferença está em um botão na chave (desde a versão básica) que destrava o estepe e inicia sua abertura

Todas as versões têm motor 1.6 16V do C3 acoplado a um câmbio manual de cinco marchas com bons engates (automático, só no ano que vem). Se no C3 ele é ótimo, aqui, em um carro de 1.404 kg, é apenas bom. Suave e silencioso em baixas rotações, ganha força em altas, mas aí fica ruidoso. As retomadas são lentas – mas nada muito pior que nos rivais 1.6 (aí está uma vantagem do EcoSport, que oferece também o motor 2.0).

A Citroën, para variar, não divulga o consumo, mas no test-drive consegui boas marcas (reais), de 7 km/l na cidade e 9,5 k/l na estrada (etanol). O sistema de direção não é leve demais como no C3, com assistência elétrica. A tradicional hidráulica, aqui, funciona melhor.

A Citroën fez um belíssimo aventureiro urbano. Uma opção de motor mais potente lhe cairia bem, mas, como CrossFox e EcoSport são bem vendidos com motores 1.6, talvez o consumidor não precise de mais. A marca espera vender 2.500 unidades/mês, uma meta ambiciosa – mas que, pelo produto, parece viável.

O eficiente sistema de som tem entrada auxiliar e porta USB

Painel e volante de base achatada são iguais aos do C3 europeu, o que indica que o hatch poderá ser fabricado aqui em breve. O GPS (acima) é opcional. De série, esse é o lugar da bússola e do inclinômetro