O que faz o consumidor gostar de um automóvel? Quais motivações levam um cliente a escolher um modelo em detrimento de todas as outras opções disponíveis? Há pouco tempo, ouvi de um executivo de uma importante montadora que “existe uma ‘mágica’ que faz com que um carro ‘aconteça'”. Algo que foge das previsões dos marqueteiros, que as pesquisas de mercado não são capazes de antecipar e que nenhum pensamento racional explica. Analisando os números de vendas de alguns modelos, pode até ser que isso seja mesmo verdade. Mas, ao menos em se tratando de mercado brasileiro, uma regra parece infalível: carro feio não vende, a menos que seja muito, muito barato. Esse deverá ser o calcanhar-de-aquiles do Renault Logan.

O modelo nasceu para ser barato, não bonito. Na Europa, ele é vendido bem equipado por um preço de cerca de 8 mil euros, algo ao redor de R$ 20 mil. E é um sucesso. Aqui, na versão 1.6, ele custa bem mais e concorre com automóveis esteticamente mais bem resolvidos como Prisma, Fiesta Sedan e Siena.

“Para o consumidor do Logan design não é fator fundamental. Ele se preocupa com o custo/benefício de seu investimento”, afirma Cássio Paglianini, diretor de marketing da Renault. “Para esse cliente, a compra do carro vem antes até da compra do imóvel. Por isso ele é cauteloso”, completa. Se isso for mesmo verdade, o Logan pode ter chances de ser um sucesso também no Brasil. Ele oferece mais espaço que os rivais, tem mais equipamentos, um desempenho bom, excelente índice de reparabilidade e é o único com garantia de três anos. Será mesmo a melhor opção?

Colocado ao lado de seus rivais, o Logan é claramente o que tem as maiores dimensões. Isso se traduz em um conforto interno bastante superior

Comecemos pelo espaço. É fácil perceber que, por fora, o Logan é maior que seus adversários. As medidas avantajadas de sua carroceria saltam aos olhos. Mas é por dentro que ele se torna definitivamente imbatível. O espaço disponível para os passageiros que sentam atrás é praticamente o mesmo que se desfruta em um Corolla, por exemplo. São 1,33 m de encosto contra 1,36 m do modelo da Toyota. O segundo colocado no quesito espaço interno é o Fiesta Sedan que, depois do Logan, é o modelo que melhor acomoda ombros e pernas de quem vai atrás. Na lanterna, está o Siena, que é, de longe, o mais apertado dos quatro (confira as medidas nas páginas 42 e 43).

Convidamos três consumidoras para experimentar a habitabilidade dos bancos traseiros dos carros desta disputa. Sem nenhuma informação sobre as medidas dos modelos e com os bancos dianteiros acertados por um mesmo motorista de 1,74 de altura, elas deveriam descrever como se sentiam em cada um dos automóveis. O primeiro avaliado foi o Logan, que rendeu elogios de todas as participantes. “Eu quero esse carro pra mim. Que delícia!”, exclamou Marizete Coutinho (1,68 m de altura). “Minhas pernas não estão nem perto do banco dianteiro”, notou Elaine Beller (1,77m de altura).

Ao passar para o Siena, a rejeição foi inversamente proporcional. Logo que se acomodaram, as três perceberam a diferença de espaço que a fita métrica revela. “Eu gostava tanto desse carro! É porque eu nunca tinha andado atrás. É muito apertado”, afirmou, decepcionada, Elaine Basílio (1,64 m de altura). “Cadê aquele banco fofinho, macio do outro carro? Aquele é muito mais gostoso”, completou. “Minha cabeça está quase encostando no teto, meus braços estão apertados”, reclamou Marizete.

Ford Fiesta Sedan e Chevrolet Prisma, respectivamente terceiro e quarto avaliados, renderam comentários menos inflamados. Todas destacaram, no entanto, que o modelo da Ford parecia ser o segundo mais espaçoso, mas acharam seu banco duro e disseram não se sentirem acomodadas para uma viagem mais longa. Curioso foi que Marizete, que estava sentada no centro, achou o espaço para os ombros menor no Prisma que no Siena, o que na realidade não é real. Sinal de que o Chevrolet sacrifica mais o quinto passageiro.

Logan: muitos itens de série

Siena: acabamento bem cuidado

Fiesta Sedan: ergonomia de sobra

Prisma: seu painel é simples demais

Em relação às bagagens, o Logan é o que tem o maior porta-malas, com 510 litros de carga. Na seqüência vem o Siena, com seus 500 litros. Fiesta Sedan (478 litros) e Prisma ( 439 litros) são os dois últimos na classificação. Mas a Ford tem trunfos para melhorar sua colocação. Primeiro, há um compartimento sob o assoalho do porta-malas do Fiesta que acomoda mais nove litros de carga, aumentando sua capacidade para 487 litros. Segundo, ele é o único dos modelos a contar com as dobradiças pantográficas.

Explica-se. Quem já não passou pelo incômodo de encher o porta-malas de quinquilharias e perceber que a tampa não fecha porque a alavanca que a sustenta invade o bagageiro, amassando malas e deformando pacotes? Essa dobradiça é conhecida popularmente como “pescoço de ganso”. Em carros mais sofisticados, ela é composta por molas que se sobrepõe e ficam alojadas na parte externa do compartimento sem comprometer a integridade da carga transportada. Assim como nesse Fiesta Sedan. No cômputo final, o porta-malas menor acaba não sendo tão menor assim.

Em relação aos equipamentos de série, basta olhar o quadro da página 40 para verificar que o Logan oferece mais itens. Com um preço inicial de R$ 36.790, ele oferece direção hidráulica, vidros eléticos, trava elétrica e desembaçador com aquecimento. Para a aquisição do ar-condicionado, seu preço sobe para R$ 39.790. Esse é o valor que consideramos na comparação. Colocando os opcionais para equiparar os itens de série aos do Logan, o Fiesta Sedan sai por R$ 42.735, o Siena custa 42.714 e o Prisma, R$ 37.040, sem a trava e os vidros elétricos, não disponíveis nem como opcional. É verdade que o GM oferece um motor 1.4 enquanto o Renault traz um 1.6 16V. Mas, em desempenho, a maior cilindrada não faz muita diferença prática. E estamos falando de uma economia de quase R$ 8 mil!

Com uma potência de 97 cv e 12,9 kgfm de torque, o Prisma faz frente aos motores de maior capacidade cúbica e dá um banho no Siena, também equipado com motor 1.4. Com a alta taxa de compressão de 12,4:1, esse motor 8V permite que o pequeno Chevrolet acelere de zero a 100 km/h em 10,6 segundos e chegue à máxima de 184 km/h. Já o modelo da Fiat, que desenvolve 80 cv e tem torque máximo de 12,2 kgfm, cumpre a prova de aceleração mais lentamente, em 12,9 segundos e atinge a velocidade de 166 km/h. Equipados com motores mais potentes, os resultados de Logan e Fiesta deveriam ser consideravelmente melhores. Mas, pelo menos no Ford, essa vantagem não é tão clara. Mesmo equipado com uma unidade maior, de 111 cv, ele demora mais que o sedã do Celta para chegar aos 100 km/h (11,7 segundos) e atinge a máxima de 180 km/h. Já o estreante da Renault, com seus 112 cv e 15,5 kgfm, não faz feio. Apesar de grandalhão, ele é ágil e chega aos 100 km/h em 10,1 segundos, com máxima de 185 km/h.

Quando o assunto é manutenção, novamente o Logan se destaca. Além de oferecer a maior garantia, o Renault tem a cesta de manutenção mais baixa segundo a avaliação do CarGroup realizado pelo Cesvi Brasil. A entidade realiza um crash test com os modelos de uma mesma categoria e, depois, os conserta e os classifica, considerando preços de peças e mão-de-obra. Nesse teste, o Logan foi o que recebeu a nota mais baixa que, no caso, garante que se trata do modelo com o melhor índice de reparabilidade da categoria e, conseqüentemente, com seguro mais em conta.

Com tantos adjetivos, o resultado não poderia ser outro: Logan vence como a melhor relação custo/benefício. Se você está procurando um carro que carregue toda sua família e que tenha um bom custo/benefício, pode apostar nessa novidade. Afinal, como diz o dito popular, beleza não põe mesa.