Do lado de fora do Cobo Center, onde se realiza anualmente o Salão de Detroit, oficialmente conhecido como North American International Auto Show (Naias), a temperatura é de -13o centígrados. Do lado de dentro, sedutores modelos tentam esquentar os corações dos visitantes. Mas quais seriam os lançamentos “mais quentes” desde gelado salão. De um lado, temos crossovers (ou SUVs) cada vez mais sintonizados com o mundo digital da sociedade atual, como o novo Audi Q7, o Mercedes GLE 45 AMG, o conceito Volkswagen Cross Coupé GTE e até um Bentley, o Bentayga, porque ninguém quer ficar de fora desse mercado.

Da sua parte, como se trata de um salão norte-americano, claro que não poderiam faltar as picapes. A Nissan apresentou um monstro chamado Titan que faz jus ao nome, pois só o entre-eixos tem quase 4 metros (3.850 mm). A Ford mostrou uma nova versão da F-150 Raptor, a Toyota revelou a nova Tacoma e a Hyundai surpreendeu com a interessante Santa Cruz Crossover Truck Concept, para entrar nesse segmento. Algumas marcas, como a Toyota com o Mirai (movido a célula de hidrogênio), a Chevrolet com o novo Volt, além do compacto Bolt, e a Hyundai cokm o Sonata Hybrid preferiram apostar nas tecnologias de novas formas de energia (apesar de, no momento, o petróleo estar baratos nos Estados Unidos).

Mas os carros que realmente marcam essa edição do Salão de Detroit são os esportivos. Novidades espetaculares, conceitos apaixonantes, resgate de tradições, preços e tamanhos diversos, bem como motores e diferentes leituras de esportividade são a tônica do Naias 2015. Por um isso, depois de rodar todo o Cobo Center, onde o frio de três Árticos só entra pelas frestas das portas, decidi fazer um ranking com as sete maravilhas do Salão de Detroit. Vamos a elas!

7o lugar: Volkswagen Cross Coupé GTE
Essa posição poderia ter sido ocupada pelo novo Audi Q7, que chegou à sua segunda geração com um design distinto, faróis em LED estilo Matrix e entretenimento superior, ou até pela picape Hyundai Santa Cruz, que tem um design futurista, boas sacadas de praticidade (como a caçamba que se estende totalmente para trás, aumentando sua capacidade longitudinal) e marca sua estreia no segmento de picapes compactas, como as futuras Fiat FFC4 e Renault Duster Oroche. Mas o Q7 seria mais do que já temos e a Santa Cruz ainda é um conceito que parece distante da versão de produção.

Por isso, escolho o Volks Cross Coupé GTE. Lógico, é um conceito também, mas que tem tudo para ser real. O Cross Coupé GTE segue a linha do BMW X6 e do novíssimo Mercedes GLE, mas, ao contrário desses, suas linhas são bem quadradas. “Um autêntico design alemão”, como destacou o chefão Martin Winterkorn no dia 11. Ou seja: suas chances de produção são muito grandes. Ele poderia usar a plataforma MLB (a mesma do Audi Q7), bem como o entretenimento a bordo em 3D, mas seu porte é um pouco menor do que o do Q7. Portanto, ele seria produzido na plataforma MQB.

A grade dianteira do Volkswagen Cross Coupé GTE é inteiriça, com duas linhas de cromados de lado a lado. Esses cromados praticamente escondem os minúsculos quatro faróis, alinhados dois de cada lado. Abaixo do para-choque dianteiro, uma segunda grade domina toda a área frontal inferior. Os pneus são 285/40 R22, montados em rodas diamantadas e o painel faz uma interessante conexão com a grade dianteira. As várias saídas de ar são quadradas ou retangulares e são divididas por minúsculos cromados. Além disso, o Cross Coupé é ecologicamente correto, pois trata-se de um híbrido plug-in. O motor pode ter até 355 cv de potência.

6o lugar: Mercedes-Benz GLE 45 AMG 4Matic
O novíssimo Mercedes GLE, que chega ao Brasil este ano na versão 45 AMG, dividiu opiniões em Detroit. Por ter seguido o design do SsangYoung Actyon e do BMW X6, não foram poucos os que o consideram “feio”. Talvez seja uma questão de paradigma. O Mercedes GLE tem a frente quase toda em colmeia. São quatro áreas bem grandes de entrada de ar. A grade principal é dividida por duas barras cromadas e o enorme logotipo, quase do tamanho de uma bola de vôlei. E acima do capô, mas bem pequeno, ainda aparece o emblema da Mercedes.

Os faróis são razoavelmente conservadores no desenho, considerando o que viemos no Audi A7 e no Volks Cross Coupé, entre outros, mas traz um sistema chamado de “LED Intelligent Light System”, com várias possibilidades de foco, alcance etc. Os pneus são muito largos, medidas 325/35 R22, pois o desempenho é animal, como em todo carro AMG. O motor V6 3.0 biturdo desenvolve 362 cv de potência e 384 Nm de torque. O câmbio tem nove marchas, a tração é integral 4Matic e a parte superior do painel é toda de couro,preto, com uma discreta costura vermelha. Brasileiros vão comprá-lo, com certeza!

5o lugar: Alfa Romeo 4C Spyder
O retorno da Alfa Romeo aos Estados Unidos acontece em grande estilo, com o lançamento mundial do modelo 4C Spyder. Na verdade, trata-se de um targa de dois lugares, pois a capota é removível. O carro exposto em Detroit é um amarelo lindo, estrategicamente exposto entre um Alfa 4C cupê e dois modelos de corridas dos anos 40/50 e abaixo de um Alfa 33 Stradale (de 1967). O 4C Spyder não será barato, mas tem potencial para tocar no coração dos americanos.

Ele tem o porte dos BMW Z3 e Z4, fabricados nos EUA, e também do saudoso Mazda MX-5 Miata, que arrebatou corações por aqui nos anos 90. Quem ficou rico nesses 20 anos e tem saudades do Miata agora tem a chance de comprar um Alfa 4C Spyder. O desenho da carroceria é limpo, mas arredondado, o que vai em direção oposta a novos esportivos mostrados em Detroit, como o Acura NSX e o conceito do Ford GT. Mas segue a tradição de um rival seu, o novo Porsche Targa.

O Spyder 4C utiliza materiais leves, como fibra de carbono e alumínio, tem a costura dos bancos de couro e o emblema da Alfa Romeo na cor da carroceria, utiliza pneus 205/40 R18, motor de 1750 cm3 de 237 cv, 80% do torque de 258 libras disponíveis a 1.700 rpm e um ronco especialmente produzido para agradar ouvidos sensíveis por esportividade. Faz 0-60 milhas por hora em 4,1 segundos. Outro detalhe que faz o Alfa 4C Spyder figurar em quinto lugar no nosso ranking é o D.N.A. System, que atua nos parâmetros do veículo. Ele pode ser configurado na posição Natural, na All Weather (qualquer clima) e na Race (corrida). O quadro de instrumentos vai mudando de aspecto e de cor conforme a seleção feita pelo motorista. Infelizmente, ele não vai para o Brasil no futuro próximo.

4o lugar: Porsche Targa 4 GTS
Se fosse uma atriz de cinema, provavelmente o Porsche 911 seria uma Ingrid Bergman ou uma Rita Hayworth, duas mulheres eternas. Seu design nunca envelhece e mesmo assim ainda surpreende. O novo Porsche Targa 4 GTS é quente a ponto de derreter o gelo que cobre o Rio Detroit, aqui ao lado do Cobo Center. Exposto na cor vermelha, ele traz a roda preta (aliás, todo esportivo que se preza está com roda preta aqui), pneus 305/30 R20 e só a coluna B, que serve para encaixar a capota removível, em um tom cinza fosco, Atrás desse santantônio, o vidro traseiro desde elegantemente com suas curvas até a tampa do motor.

Um detalhe interessante são os cubos das rodas com sistema de abertura tipo competição, com indicações de posição para uma rápida troca. Por dentro, o Targa 4 GTS traz a chave de ignição do lado esquerdo, bancos de couro com assento em alcantara, bem como o volante com pegada de competição e grandes borboletas atrás. O câmbio é sequencial de sete marchas e o motor entrega 430 cavalos. Se não estivesse tão frio do lado de fora, muita gente ia querer sair guiando esse Porsche do Cobo Center. Ah, o som é o alemão Burmester, que tem 821 watts de potência, 12 amplificadores, 12 alto-falantes e um subwoofer ativo.

3o lugar: BMW M6
Competição que se preze tem que ter pódio. E o primeiro a subir no pódio das sete maravilhas de Detroit é o novíssimo BMW M6. Fez sua estreia mundial e encantou. Exibido em uma cor mostarda com rodas pretas (claro), está ao lado do não menos quente BMW Série 6 Cabrio. Apesar da moda de cupês de quatro portas que a Mercedes, a Audi e a própria BMW têm feito crescer, o M6 tem só duas portas mesmo. Ainda bem, pois assim o seu desenho ficou com a silhueta ideal para um carro esportivo.

Visualmente, duas coisas chamam atenção neste M6: os gigantes discos de freios ventilados nas rodas pretas de cinco raios (pneus 265/35 R20) e as quatro ponteiras de escapamento (duas de cada lado) em fibra de carbono. O aerofólio que sobe suavemente da ponta do porta-malas também é em fibra de carbono, assim como boa parte do painel. Só os faróis dianteiros têm um desenho conservador, mas não comprometem o visual.

Com um motor V8 4.4 biturbo de 32V, injeção direta e duplo Vanos (sistema de válvulas variável), o novo M6 entrega 560 cv. O câmbio é de sete marchas de dupla embreagem com o sistema Drivelogic, que potencializa a eficiência das trocas. Sua aceleração de 0-60 milhas é de 4,1 segundos. Claro que não poderia faltar todo tipo de controle de tração, estabilidade, frenagem, suspensão e carroceria num esportivo como este, merecedor do nosso pódio.

2o lugar: Ford GT
O estande da Ford no Salão de Detroit é majestoso, disparado o maior, o mais bonito e o mais confortável. Mesmo assim, a tradicional montadora de Dearborn (que fica pertinho de Detroit) fez sua apresentação na arena Joe Louis, um ginásio de esportes que recebeu o nome do pugilista que manteve o título mundial de boxe durante 12 anos, de 1937 a 1949. No final da apresentação, ao mostrar o conceito do novo Ford GT, o próprio Bill Ford disse: “Que tal lançarmos esse carro no ano que vem?”

Tudo indica que acontecerá mesmo, pois a Ford comemorará em 2016 nada menos que 50 anos da histórica vitória do Ford GT40 nas 24 Horas de Le Mans. Foram quatro vitórias seguidas, de 1966 a 1969, como resposta a Enzo Ferrari, que não quis vender sua empresa para a Ford. Entre 2003 e 2007, a Ford produziu a segunda geração do Ford GT, dessa vez sem o nome 40. Por isso, o Ford GT da terceira geração, que certamente estreará em pouco mais de um ano, ficou em segundo lugar no nosso ranking das maravilhas de Detroit.

Sabe-se do carro apenas que ele usará um motor V6 EcoBoost de 633 cavalos. Mas deu para ver muito do carro no Cobo Center. Antes de chegar a ele, os visitantes passam por um portal onde repousam, à esquerda, um GT40 dos anos 60 e, à direita, um GT dos anos 2000. O futuro Ford GT brilha em cor azul sobre uma plataforma giratória. O formato em cunha foi mantido, seguindo as linhas das duas gerações anteriores. Mas o desenho surpreende e fez até os peixes do Rio Detroit colocarem a cara pra fora da água gelada diante de tanto burburinho.

O capô do Ford GT tem duas enormes saliências (não é exagero dizer que são dois buracos), formando um bico que lembra os carros de Fórmula 1. Isso foi possível porque o motor é traseiro. Mas essa relação não surge imediatamente; é preciso analisar o automóvel para percebê-la. Isso valoriza o carro, pois ele passa a ideia de um veículo utilizável nas ruas. Sua frente é completamente limpa: traz apenas uma grande colmeia preta na parte inferior, ocupando toda a área. Mais acima ficam os quatro faróis quadrados, dois de cada lado, um sobre o outro — uma solução incomum para carros com pequena área frontal.

Os espelhos retrovisores do nosso vice-campeão de Detroit ficam bem longe da carroceria, apoiados em duas hastes, lembrando os carros de Fórmula 1 dos anos 60. À frente das rodas traseiras ficam suas entradas de ar, muito parecidas com as do novo Acura NSX. Os pneus são 245/35 R20. Mas isso não é tudo: a traseira do Ford GT é matadora e remete a um passado glorioso dos Estados Unidos.  As duas lanternas redondas em vermelho têm o formato de um foguete espacial dos anos 50 e 60, inclusive com pequenas divisões no formado redondo. Visto um pouco mais de longe: parece mesmo um foguete em aceleração.

Outro detalhe incrível da traseira são as ponteiras de escapamentos. Elas também têm o formato da cauda de um foguete, mas são enormes, pretas e ficam posicionadas acima do que normalmente seria a tampa do porta-malas, logo abaixo do aerofólio traseiro. Visto por trás, se não tivesse a cobertura das rodas, o novo GT seria um autêntico Fórmula 1. Mas os designers da Ford conseguiram deixar essa lembrando discreta, ao sabor do admirador curioso, e não tão evidente como já vimos no passado no Mercedes SLR.

1o lugar: Acura NSX
O novíssimo Acura NSX é seguramente a grande maravilha do Salão de Detroit 2015. Em alguns mercados, como o Brasil, o NSX terá o sobrenome Honda, pois a marca Acura foi feita exclusivamente para os Estados Unidos. Uma de suas vantagens sobre o Ford GT, que garantiu o “título” para o Acura NSX, é que o caro está pronto e chega ao mercado este ano (no Brasil, em 2016).

Esta é a segunda geração do NSX. A primeira, produzida nos anos 90, teve a colaboração do piloto Ayrton Senna em seu desenvolvimento, no final dos anos 80. Este NSX está em construção por três anos e tem a carroceria em alumínio. Visto de perto e de frente, o novo NSX já impressiona pelo conjunto ótico. O carro tem nada menos que seis faróis em cada lado! São, na verdade, pequenas luzes de LED alinhadas ao lado do “olho de gato” frontal. Com exceção dos faróis incomuns, a área frontal é quase toda preta. Duas grandes colmeias permitem a passagem do ar para refrigerar os freios dianteiros. O mesmo acontece nas laterais traseiras, com uma solução visual admirável, inclusive tecnicamente.

O desenho do Acura NSX é primoroso, com linhas retas e vincos na medida certa, somente para cumprir funções aerodinâmicas, mas com extremo bom gosto. O carro não tem nenhuma letra em cromado, daquelas que identificam o nome e a versão. As letras NSX só aparecem em duas discretas situações, uma de cada lado, na coluna B, logo atrás das portas. Mas, rodando, ele reserva uma surpresa. Para acionar os gigantes discos de freios, as pinças são bem grandes e trazem a marca NSX em cada roda. O efeito visual fica incrível.

As rodas são um caso à parte. Claro que são pretas! Vestindo pneus 245/35 R19. Elas têm cinco raios, mas eles se desdobram em 10 raios, como uma árvore, alcançando a borda das rodas. O detalhe é que são extremamente finos, como nunca vi antes, devido ao material muito resistente.

Por dentro, o Acura NSX é um cockpit de carro de corrida, só que com mais conforto. O motor central despeja 557 cavalos de potência nas rodas, mas vai além. O carro agora é um híbrido, com soluções tão engenhosas que até as rodas dianteiras têm motores elétricos exclusivos cada uma, para cumprir da melhor maneira possível os compromissos de contorno de curvas, aceleração e frenagens. Segundo os executivos da Honda, o novo Acura NSX tem resposta instantânea do acelerador, sem o mínimo retardo. Por tudo isso, recebe de MOTOR SHOW o título de primeira maravilha do Salão de Detroit 2015.