Fiz uma lista com os 10 circuitos que me trazem memórias mais marcantes de minha carreira na F1. Antes de começar, porém, aviso que nunca corri em Spa-Francorchamps, na Bélgica – uma das coisas que mais lamento na minha carreira. Afinal, é o tipo de circuito que mais adoro: rápido, fluido, difícil, técnico, ondulado, cheio de mudanças súbitas de elevação – e portanto extremamente demandante para o carro e para o piloto.

Então, com Spa de fora, quais são as melhores pistas da F1? Como esse é o mês de Interlagos, vamos começar por ela – minha segunda preferida, e que, excluindo Spa, só perde para Nurburgring (no mês que vem explico o porquê). Mas devo dizer que, quando falo de Interlagos, me refiro ao velho traçado, a versão de 7,8 km – e não da configuração atual, com 3,7 km, ainda muito boa, mas não tão maravilhosa quanto a original.

No seu antigo traçado, Interlagos era uma pista estupenda – uma sequência aparentemente interminável de curvas fechadas e estranhamente inclinadas, algumas encadeadas nas outras, a maioria rápida e todas difíceis. Aprendi a correr lá ainda adolescente – primeiro nas motos, depois nos carros – e simplesmente adorava aquele lugar.

O primeiro GP do Brasil em Interlagos foi em 1973, e como dono do título prestes a tentar vencer em casa pela primeira vez, a pressão sobre mim era enorme. Nos treinos livres, minha Lotus parecia bem acertada, mas meu companheiro Ronnie Peterson estava mais confiante, e o treino classificatório acabou com seu nome que ficou no topo, e o meu no segundo lugar.

Ele foi só 2 décimos de segundo mais rápido que eu – muito pouco, ainda mais considerando que o tempo de volta em Interlagos passava de 2 minutos e a Ferrari de Jacky Ickx, que largou em terceiro, ficou 1,3 segundo atrás de mim. Estava claro que nossas Lotus iam dominar.

Larguei muito bem e de cara assumi a liderança. Ronnie se enroscou na largada e caiu para quarto lugar, enquanto o velho amigo do meu irmão Wilson, Carlos Pace (Surtees), saltou para a segunda posição, deixando o sempre confiável Jackie Stewart em terceiro.

Nas primeiras duas voltas Jackie e Ronnie ultrapassaram Carlos, e já via nos retrovisores que Ronnie buscava um jeito de passar Jackie. Antes que tivesse a chance, porém, teve problemas e acabou batendo. Então, como quase sempre, a disputa ficou entre Jackie e eu.

Jackie tentou se aproximar, mas meu carro estava perfeito e mantive o controle da prova, terminando com 14 segundos de vantagem. Um dos melhores dias da minha vida. Melhor ainda foi repetir o feito um ano depois, vencendo de novo em casa, “meu” Interlagos – mas dessa vez a bordo de uma McLaren, e, melhor ainda, largando na pole-position.