27/03/2018 - 15:31
O que posso dizer de Mônaco que já não tenha sido dito milhares de vezes? Era uma pista, e ainda é, estreita, ondulada, complicada, esquisita e lenta – e mesmo assim absolutamente magnífica. Eu tendia a pilotar diferente em Mônaco, de modo distinto do que pilotava em qualquer outra pista. Na grande maioria dos circuitos, especialmente os mais rápidos e fluidos, sempre tentava pilotar com máxima delicadeza, “arrastando” o carro o mínimo possível, dirigindo de forma suave, com equilíbrio e cuidando da mecânica. Mas em Mônaco não se podia pilotar assim. Era necessário maltratar o carro, até mesmo botando-o de lado na hora de entrar em algumas curvas.
Foi bastante difícil para mim aceitar tratar do meu carro dessa maneira, mas era isso que se precisava fazer para marcar um bom tempo em Mônaco em um carro de Fórmula 1 dos anos 1970. Nunca venci lá – e gostaria muito de ter vencido – mas cheguei em segundo duas vezes (em 1973, na Lotus, e em 1975, na McLaren). Nessas duas corridas participei de batalhas de titãs pela liderança, mas perdi para Jackie Stewart (Tyrrell) em 1973 e para Niki Lauda (Ferrari) em 1975.
Descrevi todos os pormenores dessas corridas e já falei bastante do que me deixa apaixonado por Mônaco antes (leia aqui), então não vou voltar a falar deles aqui, mas acho que nunca cheguei a descrever uma de minhas conquistas no circuito de Mônaco das quais mais me orgulho: a verdadeira “lavada” na disputa pela pole-position na corrida de 1972.
Fiquei realmente orgulhoso daquela volta, mais rápida do que qualquer coisa da dupla da Ferrari, Jacky Ickx (que se classificou na segundo posição) e Clay Regazzoni (que largou em terceiro). Lembro particularmente de como passei pela Chicane do Porto, que naquela época era uma sequência esquerda-direita super-rápida. Raspei nas barreiras na tomada, no ápex e na saída, tocando também nas guias, e enquanto colocava o carro de volta à trajetória na curva Tabac, sabia que havia superado aquela assustadora chicane do modo mais perfeito que seria humanamente possível. Às vezes valentia e precisão alcançam a perfeita sinfonia em um carro de corrida, e aquela curva foi exatamente uma dessas raras ocasiões.
Infelizmente no dia da corrida acabou chovendo. Ou melhor, o céu desabou. O resultado foi uma corrida absolutamente caótica, que acabou vencida por Jean-Pierre Beltoise, da BRM. Eu consegui um terceiro lugar. Se tivesse corrido de pista seca, tenho quase certeza de que seria um forte candidato à vitória naquele GP de Mônaco.