31/05/2018 - 10:44
Como tantos outros circuitos entre meus dez preferidos que venho listando aqui (leia mais aqui), Watkins Glen, nos Estados Unidos, era rápido, ondulado, fluido e repleto de mudanças de altitude. Sempre achei esse circuito muito parecido com o seu contraponto norte-americano, Mosport (no Canadá), mas em uma escala maior e melhor. É uma pista que definitivamente significa muito para mim, não apenas por ter sido onde venci o primeiro Grande Prêmio da minha vida – correndo com a Lotus em 1970 –, mas também porque corri lá pela equipe que montei junto com meu irmão Wilson Fittipaldi, em 1980.
Infelizmente, a suspensão do meu carro acabou quebrando ainda na 15ª volta, então não dá para dizer que tenha sido uma experiência muito legal na minha “carreira” como dono de equipe na Fórmula 1. Dez anos antes desse triste acontecimento, entretanto, as coisas haviam transcorrido para mim de uma maneira muito diferente. Era a primeira vez da minha vida que eu visitava os Estados Unidos, e, como já disse, acabei vencendo a corrida, sendo que aquela era só minha quarta corrida na Fórmula 1. Lembro muito bem da sensação fantástica que tive quando cruzei a linha de chegada em primeiro lugar.
No dia seguinte decidi sair para dar uma volta por Nova York como turista, pela primeira vez na minha vida, para comemorar a conquista. Quando cheguei para fazer o check-in no meu hotel, que ficava bem no coração da famosa região da Broadway, dei ao recepcionista meu passaporte normalmente, como sempre fazia. Ao mesmo tempo em que conferia minhas informações, ele avistou a última página da edição daquele dia do jornal The New York Times, cuja manchete principal anunciava: “Fittipaldi ganha corrida de US$ 50.000”. “Estão falando de você aqui?”, ele perguntou. “Certamente”, respondi.
Ele olhou bem para a minha maleta, na hora me pareceu até que com um olhar meio ganancioso. Passei então a suspeitar que ele estivesse achando que o meu prêmio de US$ 50.000 estivesse ali dentro dela, em dinheiro vivo – e, obviamente, não estava. Mesmo assim, naquela noite decidi me proteger e travei a porta do meu quarto como pude: encaixei uma cadeira inclinada por debaixo da maçaneta, caso o recepcionista tentasse invadir minha suíte e levar embora meu dinheiro. Felizmente, não foi o que aconteceu.