Já que 2015 insiste em não terminar, vamos falar de 2016. Mais especificamente, sobre o terrível destino reservado para as adoradas picapinhas. Criado pela Fiat, em 1978, com o lançamento do modelo 147 Pick-up, esse nicho de mercado cresceu tanto que no final de 2014 a Strada, também da Fiat, terminou a temporada como terceiro carro mais vendido do Brasil (150 mil emplacamentos, atrás apenas do Fiat Palio e do Volkswagen Gol). No meio do caminho, três outros modelos brilharam na liderança do mercado de picapinhas: Fiat Fiorino, Ford Pampa e Volkswagen Saveiro.

Mas o caminho das picapinhas será difícil em 2016. Com as novas picapes monobloco Renault Oroch (lançada em outubro) e Fiat Toro (que chega em fevereiro) em plena produção, o conceito de crossover (ou SUV light) com caçamba vai se espalhar como fogo no palheiro e conquistar muitos clientes. Somente esses dois veículos, somados, deverão vender entre 65.000 e 80.000 unidades no ano que vem. Num mercado em franca redução de volume, de algum lugar essas vendas deverão sair. As versões mais caras das duas picapinhas mais vendidas (Strada e Saveiro) são as mais ameaçadas.

A dupla Strada/Saveiro tem cinco versões na faixa de R$ 60.000-69.000. A Renault Oroch, por sua vez, atua na faixa de R$ 62.000-71.000. E a Fiat Toro deve ter uma versão de R$ 79.000. Ora, tanto a Oroch quanto a Toro oferecem todo o seu DNA e não apenas o visual aventureiro, como a Strada Adventure e a Saveiro Cross, e ainda por cima com espaço interno incrivelmente maior e conforto superior. Mesmo que as versões Adventure e Cross, que respondem por cerca de 35% das vendas da dupla Strada/Saveiro, mantenham alguns consumidores fiéis, a procura racional deve cair bastante. Junto a elas existe ainda a versão Trekking da Strada, que, apesar de estar na base dessa faixa de preços, oferece ainda menos atrativos do que a Adventure, embora seja cabine dupla. A Trekking é dona de 10% do mix de vendas da Strada.

A tendência é que somente as picapinhas mais baratas e/ou voltadas ao uso comercial mantenham-se pujantes ou vivas. Sorte da Fiat que sua versão Working, que vende 55% do mix da Strada, esteja disponível nas configurações de cabine simples, cabine estendida e cabine dupla. A Volks não divulga seu mix de vendas, mas estimamos que as versões Trendline (nos três tipos de cabine) e a Startline (cabine simples) devam representar 65% das vendas. A Chevrolet Montana, que só tem cabine simples (duas versões), talvez não seja muito afetada.

Os números podem ser cruéis para as picapinhas, segundo algumas projeções. Em apenas uma temporada, elas passaram de 272 mil para 183 mil unidades/ano. E podem desabar para 123 mil no acumulado do ano que vem se houver uma forte rejeição ao preço das citadas versões Adventure/Trekking/Cross.

Para se ter uma ideia da força das novas picapes monobloco, a Renault Oroch já vendeu 1.232 unidades em seu primeiro mês cheio. Isso a colocou em sexto lugar no ranking geral de picapes em novembro, atrás apenas da Fiat Strada (6.259), da VW Saveiro (3.279), da Chevrolet S10 (2.236), da Toyota Hilux (2.102) e da Chevrolet Montana (1.246), de quem perdeu por míseras 14 unidades. Já deixou para trás picapes famosas como a Ford Ranger (1.004), Mitsubishi L200 (854), VW Amarok (818) e Nissan Frontier (414). A maior perda, entretanto, foi da Saveiro, com 427 emplacamentos a menos em relação a outubro.

As cinco picapinhas mais caras do mercado são as seguintes: Saveiro Cross Cabine Dupla (R$ 68.590), Strada Adventure Cabine Dupla (R$ 68.020), Saveiro Cross Cabine Estendida (R$ 63.990), Strada Adventure Cabine Estendida (R$ 61.650) e Strada Trekking Cabine Dupla (R$ 60.330). Todos esses preços são básicos, sem equipamentos opcionais. Completas, a Saveiro Cross CD pode chegar a R$ 71.949 e a Strada Adventure CD pode ir a R$ 85.715. Já Renault Oroch tem três versões, todas com cabine dupla: Expression 1.6 (R$ 62.290), Dynamique 1.6 (R$ 66.790) e Dynamique 2.0 (R$ 70.790).