22/11/2025 - 16:00
Chery e GAC vão mostrar ideias de carros voadores nesse Salão de 2025, mas nenhuma se parece com essa aqui! Antes do TT 1998, alguns modelos já tinham voado pelos céus brasileiros: a Ford levantou um Galaxie pelos ares no Rio de Janeiro nos anos 70, e a Volkswagen transformou um CrossFox em espécie de teleférico no Pão de Açúcar nos anos 2000. Mas essa apresentação do coupé da Audi deu o que falar no Salão do Automóvel de 1998…
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Audi TT era fora da curva
Na virada dos anos 90, o TT chamava atenção por um visual que parecia ter saído de um estudo de design, mesmo usando a mesma base técnica do A3. O estilo arredondado e limpo fazia o cupê se destacar numa época em que quase ninguém arriscava tanto nas linhas. A ideia da Audi era entrar num jogo já dominado por Boxster, SLK e a veterana Z3. Mesmo chegando depois, o TT não estava desarmado: tinha motor turbo, podia contar com tração nas quatro rodas e carregava o sobrenome Quattro, que já falava por si só no universo da marca.

O projeto do TT começou longe da Alemanha. Os primeiros traços nasceram no estúdio de design do Grupo Volkswagen na Califórnia, onde o time contava com um nome que depois ficaria famoso na Kia, Peter Schreyer. Em 1995, no Salão de Frankfurt, o público viu o primeiro conceito e o impacto foi imediato.

Até o nome fugia do padrão tradicional da Audi, que costumava usar combinações de letras e números. A sigla TT até hoje rende debate: há quem diga que vem de Technology & Tradition, enquanto outra versão aponta para uma homenagem às provas Tourist Trophy, disputadas na época da NSU, marca que mais tarde faria parte do grupo.
Sua chegada ao Brasil

Se o TT representava um avanço importante para a Audi no design e na proposta de produto, sua chegada ao Brasil precisava acompanhar essa expectativa. O modelo desembarcava por aqui logo depois do lançamento na Europa, onde já vinha acumulando boas vendas desde a estreia na Itália, em setembro de 1998. Pouco mais de um mês depois, em 26 de outubro do mesmo ano, era a vez do mercado brasileiro recebê-lo.
Audi TT voador do Salão do Automóvel de 1998
A estreia não poderia ter ocorrido em momento mais estratégico. O lançamento coincidiu com o Salão do Automóvel de 1998, então realizado no Pavilhão de Exposições do Anhembi. O evento tinha mais de 100 mil metros quadrados, reunia cerca de 30 marcas e 300 veículos expostos e atraía mais de meio milhão de visitantes. Mesmo assim, a Audi avaliou que apenas colocar o cupê no estande não seria suficiente para garantir o impacto desejado. Eles queriam algo que realmente chamasse atenção.
Foi aí que entrou em cena uma ideia que ninguém esqueceria tão cedo. O então assessor de imprensa da marca, o saudoso Charles Marzanasco Filho, decidiu que o TT não chegaria ao Salão de forma comum. A proposta era ousada: levar o coupê literalmente pelos ares até o evento.

O desafio não era pequeno. Afinal, um carro de quase 1.400 kg não sai voando por conta própria e muito menos passeia no céu sem uma boa engenharia por trás. Além disso, depois de suspender o Audi, seria preciso colocá-lo de volta no chão com todo o cuidado, sem riscos e sem sustos. Uma operação delicada para fazer o lançamento ganhar manchetes.

E a operação saiu do papel. O TT foi preso a uma estrutura especial, capaz de suportar seu peso, e levado pelos céus paulistanos por um helicóptero Bell 212-IFR. O pouso aconteceu no começo da tarde de 26 de outubro, em uma segunda-feira chuvosa, diretamente na pista do Sambódromo do Anhembi, o mesmo trajeto dos desfiles de Carnaval.

Ali, a Audi apresentou o cupê prata primeiro para a imprensa automotiva convidada. Depois da exibição, o carro seguiu por terra até o estande da marca dentro do Salão do Automóvel, onde finalmente seria mostrado ao grande público. Esse foi o primeiro e único caso de “TT voador” que se tem notícia pelo mundo (sem contar os acidentes, claro). Além disso, nenhum outro carro chegou dessa forma ao Distrito Anhembi. Pioneiro e bem curioso.
Como era o carro?

Na época, o Audi TT chegou ao Brasil com motor 1.8 turbo de cinco cilindros em versão de 180 cv de potência (câmbio manual de cinco marchas, tração dianteira), ou de 225 cv (seis marchas manuais, tração integral). Para conseguir parar melhor, esses carros de 225 cv tinham freios redimensionados e com discos ventilados também na traseira, isso sem falar das rodas maiores, de 17” (16” no de 180 cv). Os preços começavam em cerca de US$ 75 mil.

O destino do Audi TT voador do Salão do Automóvel de 1998 permanece um mistério. Se ainda estiver rodando por aí, certamente carrega 27 anos de histórias dignas de muitas conversas de bar. Afinal, só o fato de ter cruzado os céus de São Paulo pendurado em um helicóptero, para depois ser exposto no Salão do Automóvel, já rende uma crônica das boas.
